A turbina de 26 MW instalada no Estreito de Taiwan impulsiona a China à frente na energia eólica marítima, reduz custos globais e pressiona concorrentes a acelerar projetos de grande escala.
Fujian, 29 de agosto de 2025 — A estatal Dongfang Electric concluiu a instalação, no Estreito de Taiwan, da primeira turbina offshore capaz de gerar 26 megawatts.
O equipamento, posicionado a cerca de 35 quilômetros da costa da província de Fujian, tornou-se o mais potente do mundo e reforça a ambição chinesa de dominar as energias renováveis.
Avanço no Estreito de Taiwan
Após o içamento da nacela e das três pás de 153 metros, a torre alcançou 185 metros de altura, equivalente a um prédio de 63 andares.
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O rotor supera 310 metros de diâmetro e varre 77 mil metros quadrados, área maior que dez campos de futebol juntos.
Esse diâmetro permite captar ventos em diferentes altitudes, aumentando a estabilidade da produção elétrica em mares tropicais sujeitos a variações de velocidade.
Ao ultrapassar o protótipo de 21,5 MW da Siemens Gamesa instalado na Dinamarca, a Dongfang ampliou em 4,5 MW o recorde anterior e elevou o patamar da corrida dos “mega-rotors”.
O projeto aproveitou janelas climáticas curtas, com guindastes marítimos de alta capacidade operando entre frentes de chuva e correntes fortes.
Tecnologia semi-direct-drive protegida contra corrosão
Para enfrentar a salinidade intensa do estreito, o consórcio adotou um sistema semi-direct-drive em que gerador, eixo e multiplicadora dividem um mesmo compartimento selado.
Essa integração reduz pontos de falha, diminui vibrações e simplifica a manutenção em alto-mar.
Sensores de fibra óptica instalados nas pás acompanham, em tempo real, a deformação estrutural causada por rajadas de até 200 km/h, típicas dos tufões classificados como Beaufort 17.
Os dados coletados alimentam uma plataforma de análise preditiva que agenda inspeções antes que pequenas fissuras evoluam para defeitos críticos.
A fabricante informa que o design modular pode ser desmontado por seções, encurtando o tempo de reparo quando peças internas precisam de substituição.
Impacto energético e ambiental
Com vento médio de 10 m/s, cada unidade deve produzir 100 gigawatts-hora ao ano, energia suficiente para abastecer 55 mil residências.
Essa geração evitará a queima anual de 30 mil toneladas de carvão e a emissão de 80 mil toneladas de dióxido de carbono, segundo cálculos validados pelo Centro Nacional de Energia Eólica.
A economia de combustível fóssil reduz também a emissão de óxidos de enxofre e nitrogênio, diminuindo a chuva ácida em regiões costeiras industrializadas.
Além do impacto climático, a operação offshore preserva áreas agrícolas próximas, poupando terras que seriam requisitadas por parques eólicos terrestres.
A Dongfang afirma que, ao longo de 25 anos de vida útil, uma única turbina evitará o equivalente a plantar 1,3 milhão de árvores maduras.
Custos offshore em queda
Graças a uma cadeia de suprimentos 100 % doméstica, o custo nivelado de energia (LCOE) dos projetos chineses já é 50 % menor que o registrado em parques britânicos inaugurados em 2025, segundo a Wood Mackenzie.
Produção local de rolamentos, sistemas de conversão de potência e navios de instalação elimina gastos com importação e câmbio, estabilizando orçamentos.
A padronização de componentes permite contratos de volume que reduzem o preço por megawatt instalado.
Incentivos fiscais, créditos de carbono negociáveis e taxas portuárias reduzidas completam o pacote de competitividade oferecido a investidores.
Analistas preveem que o patamar de preço alcançado pela China forçará licitações europeias e norte-americanas a rever margens nos próximos ciclos de expansão.
Liderança industrial chinesa
Dados preliminares do Conselho Global de Energia Eólica indicam que três em cada quatro turbinas offshore instaladas em 2025 foram construídas em estaleiros chineses.
A meta oficial de superar 150 GW de capacidade marítima até 2030 integra a estratégia de “duplo carbono”, que prevê pico de emissões em 2030 e neutralidade em 2060.
Linhas de crédito a juros subsidiados e garantias estatais atraem fundos privados para parques nas províncias de Fujian, Guangdong e Jiangsu.
O ritmo de construção favorece ganhos de escala, acelerando a curva de aprendizado industrial.
Relatórios do Banco Popular da China apontam aumento de 23 % nos empregos ligados à cadeia eólica entre 2023 e 2024, consolidando o setor como vetor de desenvolvimento regional.
Reação europeia em fase de testes
Consórcios europeus testam turbinas de 22 MW em plataformas terrestres na Dinamarca e na Holanda, mas ainda carecem de infraestrutura para instalação em mar aberto.
Empresas citam gargalos logísticos, custos de aço e entraves regulatórios como fatores que retardam a entrada de modelos acima de 20 MW em seu litoral.
Especialistas alertam que atrasos podem reduzir a competitividade de projetos no Mar do Norte, onde os custos de arrendamento e seguros são elevados.
“A lacuna tecnológica não é mais a potência nominal, e sim a velocidade de fabricação”, avalia Marianne Krogh, professora da Universidade Técnica da Dinamarca.
Ela destaca que a maturidade industrial asiática permite lançar séries piloto em prazos que, na Europa, ainda dependem de licenças ambientais longas.
Testes de fadiga e próximos parques
O protótipo passará por ensaios de fadiga de doze meses, envolvendo mil ciclos completos de carga exigidos para certificação class society.
Técnicos medirão vibração em múltiplos eixos e registrarão variações térmicas durante tempestades para calibrar algoritmos de controle.
Caso aprovado, o modelo equipará parques em águas profundas de Fujian e Guangdong, onde a velocidade média do vento supera 8 m/s o ano inteiro.
O grupo China Three Gorges já reservou atribuições de rede para receber a energia gerada pelas futuras séries comerciais.
Governos provinciais planejam interligações submarinas de corrente contínua para escoar a produção até centros industriais do interior.
Rumo a turbinas acima de 30 MW
Pesquisadores da Universidade de Pequim projetam que máquinas superiores a 30 MW devem surgir antes de 2030, impulsionadas pela competição entre Dongfang, Goldwind e Ming Yang.
A tendência é combinar diâmetros próximos de 350 metros com torres de aço reforçado, capazes de suportar cargas dinâmicas extremas.
Segundo Li Hua, engenheiro-chefe da DEC, “não se trata apenas de potência máxima, mas de confiabilidade em cenários de tufão e maturidade industrial”.
Planejadores nacionais já estudam plataformas flutuantes para instalar turbinas gigantes em profundidades superiores a 60 metros.
O sucesso desses protótipos poderá deslocar definitivamente o centro de gravidade da inovação eólica para o litoral chinês.
Até que ponto o avanço chinês obrigará Europa e Estados Unidos a acelerar suas próprias turbinas gigantes e modernizar suas cadeias de suprimentos?