Brasil tem enormes reservas de terras-raras, mas sem refinarias vê a China dominar 90% do mercado e manter o monopólio da tecnologia do futuro.
O Brasil está sentado sobre uma riqueza capaz de redefinir seu papel na economia global: as terras-raras, um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a produção de carros elétricos, turbinas eólicas, satélites, mísseis, semicondutores e praticamente toda a cadeia da alta tecnologia moderna. Estima-se que os depósitos brasileiros possam valer trilhões de reais, mas a realidade é dura: o país não possui refinarias industriais capazes de transformar esse potencial em protagonismo.
Enquanto isso, a China segue controlando cerca de 90% do processamento mundial, mantendo um monopólio estratégico sobre a economia do futuro.
Brasil: gigante em reservas de terras-raras
De acordo com levantamentos geológicos, o Brasil possui uma das maiores reservas de terras-raras do mundo, com destaque para áreas como a Amazônia, Goiás, Bahia e Minas Gerais.
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Os depósitos identificados poderiam colocar o país entre os grandes players globais desse mercado, ao lado de Austrália, EUA e China.
No entanto, ter a reserva não basta. As terras-raras não são extraídas puras: elas estão misturadas em minérios complexos e exigem refinamento de alto nível para se tornarem utilizáveis na indústria tecnológica. É exatamente aí que o Brasil fica para trás.
O gargalo das refinarias
Atualmente, o Brasil exporta terras-raras em estado bruto ou em estágio inicial de beneficiamento. O problema é que o valor agregado está no refino, onde os elementos químicos são separados e transformados em compostos de alta pureza, prontos para baterias, ímãs e microchips.
Sem refinarias em escala industrial, o país acaba exportando barato e importando caro — um ciclo que repete o padrão histórico da mineração nacional, em que as riquezas saem do subsolo praticamente de graça e retornam em forma de produtos sofisticados a preços elevados.
O monopólio chinês
Enquanto o Brasil patina, a China consolidou um domínio quase absoluto sobre o setor. Hoje, 90% de todo o refino global de terras-raras está sob controle chinês.
Mais do que isso: Pequim usa essa posição estratégica como instrumento de poder geopolítico, já tendo restringido exportações em momentos de tensão diplomática.
Esse monopólio significa que mesmo países com grandes reservas, como Brasil, EUA e Índia, continuam dependentes da indústria chinesa para acessar insumos críticos da transição energética e da tecnologia de ponta.
O impacto econômico e estratégico
Especialistas apontam que as terras-raras podem ser para o século XXI o que o petróleo foi no século XX. Sem elas, não há baterias para carros elétricos, não há celulares, não há satélites, não há turbinas eólicas. O Brasil poderia, em tese, usar suas reservas para se tornar protagonista da revolução energética e digital.
Mas a ausência de refinarias deixa o país na posição de fornecedor periférico. O resultado é um enorme desperdício de valor: bilhões deixam de ser captados em impostos, empregos industriais e cadeias produtivas de alta tecnologia.
Oportunidade ou risco de repetir a história
A questão das terras-raras é simbólica de um dilema maior: o Brasil quer ser apenas um exportador de commodities ou deseja se posicionar como potência tecnológica?
Se nada mudar, o risco é repetir o passado do ouro, do café, da borracha e do minério de ferro — riquezas que saíram do país sem gerar desenvolvimento proporcional.
Para especialistas, o caminho é claro: investir em refino nacional, atrair tecnologia de ponta, estimular parcerias com universidades e empresas e transformar o potencial geológico em cadeias industriais completas. Só assim o país poderá disputar espaço com a China e capturar o valor estratégico de seus recursos.
O futuro em jogo
As terras-raras escondidas no subsolo brasileiro podem ser o passaporte para o país se projetar como potência da transição energética.
Mas, sem ação rápida, essa riqueza continuará a servir aos interesses estrangeiros, enquanto a China mantém firme seu monopólio global.
O que está em jogo não é apenas economia, mas soberania. Em um mundo cada vez mais dependente de tecnologia, quem controla os insumos críticos controla o futuro. E o Brasil, apesar de ter o tesouro, ainda assiste de fora ao jogo que poderia liderar.