Relatório do Fórum Econômico Mundial destaca inovações em energia, saúde, mobilidade e combate à desinformação, com potencial de transformar o cotidiano em até cinco anos. O documento foi lançado na 16ª Reunião Anual dos Novos Campeões.
O Fórum Econômico Mundial divulgou em 24 de junho de 2025 a lista das 10 Tecnologias Emergentes de 2025, um panorama de inovações com potencial de impacto direto no cotidiano em até cinco anos.
O relatório, apresentado durante a 16ª Reunião Anual dos Novos Campeões, o conhecido “Davos de Verão”, destaca soluções que unem desenvolvimento factível, aplicabilidade e benefícios sociais, com foco na virada entre laboratório e uso real.
Como a seleção foi feita e por que importa
Elaborado em colaboração com a editora científica Frontiers, o documento compila nomeações de especialistas e uma avaliação prospectiva estruturada.
No prefácio, os responsáveis — Frederick Fenter, editor-chefe da Frontiers, e Jeremy Jurgens, diretor-gerente do WEF — afirmam que o objetivo é orientar decisões públicas e privadas ao identificar tecnologias no ponto de inflexão entre avanço científico e aplicação prática.
Convergência tecnológica no combate à desinformação
Em um ambiente digital marcado por deepfakes, o relatório inclui marcas d’água para conteúdos gerados por IA.
A técnica embute sinais invisíveis em textos, imagens, áudios e vídeos para verificar autenticidade e origem.
A adoção tende a crescer, mas seguem desafios como tentativas de remoção, ausência de padronização e risco de rotulagem equivocada.
Energia limpa e agricultura descarbonizada
A fixação de nitrogênio verde surge como alternativa para reduzir a pegada de carbono da amônia, insumo crítico para fertilizantes.
Hoje, a rota tradicional responde por cerca de 1% a 2% do consumo global de energia, além de uma parcela relevante das emissões.
Por isso, métodos que usem eletricidade renovável ou microrganismos engenheirados ganham tração.
Outra aposta é a energia osmótica, que gera eletricidade a partir da diferença de salinidade entre água doce e salgada por meio de membranas avançadas.
Pilotos vêm sendo retomados e a tecnologia pode apoiar redes elétricas com fornecimento estável, além de aplicações em dessalinização e recuperação de recursos.
O capítulo de tecnologias nucleares avançadas aponta a maturação de projetos como pequenos reatores modulares (SMRs) e novas soluções de resfriamento.
A fissão lidera a implementação no curto prazo, enquanto a fusão nuclear permanece uma meta de longo alcance para uma matriz de energia sem carbono.
Mobilidade elétrica e materiais inteligentes
As baterias estruturais — compósitos capazes de armazenar energia e suportar carga ao mesmo tempo — prometem reduzir massa e aumentar eficiência em veículos e aeronaves.
Em vez de carregar uma bateria “separada” da estrutura, o próprio material do chassi ou da carroceria passa a integrar a função de armazenamento.
Isso pode ampliar autonomia e otimizar custos quando requisitos de desempenho e segurança forem atingidos.
Saúde do futuro: tratamentos vivos, sensores e novas indicações
A chamada engenharia de “terapêuticos vivos” propõe transformar microrganismos benignos em pequenas fábricas de fármacos dentro do corpo.
A perspectiva é oferecer liberação direcionada e contínua de medicamentos, com menor custo e menos efeitos adversos.
Os fármacos GLP-1, desenvolvidos originalmente para diabetes e obesidade, aparecem pela possível utilidade em doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson.
A ação neuroprotetora observada em estudos iniciais indica potencial, mas ensaios adicionais e validação regulatória ainda são necessários.
Na base da vigilância contínua, a detecção bioquímica autônoma reúne sensores autoalimentados e conectados que monitoram, sem intervenção humana, marcadores de saúde e de qualidade ambiental.
O avanço em bioengenharia e nanotecologia habilita aplicações como o acompanhamento de glicose em tempo real, além do controle de poluição e da segurança alimentar.
Nanoenzimas: estabilidade e custo em foco
As nanoenzimas são materiais sintéticos na nanoescala que imitam a função de enzimas naturais, mas com maior estabilidade, produção mais simples e custo reduzido.
Ganham terreno em biomedicina — do direcionamento de fármacos oncológicos ao combate ao estresse oxidativo ligado a quadros neurodegenerativos — e em frentes ambientais e de segurança de alimentos.
O WEF cita projeção de US$ 57,95 bilhões até 2034, sinal de um mercado em consolidação, embora ainda sujeito a marcos regulatórios e comprovação clínica.
Cidades conectadas com sensores colaborativos
A detecção colaborativa amplia a visão de sistemas urbanos ao integrar sensores comuns — de casas, carros e infraestrutura — em redes coordenadas por IA.
A partir dessa malha, torna-se possível ajustar semáforos para reduzir congestionamentos, antecipar eventos climáticos com dados ambientais e apoiar decisões de segurança pública.
A viabilidade, porém, depende de padrões abertos, proteção de dados e algoritmos multimodais capazes de fundir sinais heterogêneos.
O horizonte de três a cinco anos
O relatório reforça uma tendência de convergência entre IA, biologia e novos materiais.
A leitura estratégica é que, nos próximos três a cinco anos, o avanço dependerá tanto da ciência quanto de fatores de ecossistema: regulação, financiamento, cadeias produtivas e capacitação.
Ao iluminar áreas com tração inicial — da descarbonização da amônia ao rastreio de autenticidade de mídias — a lista mapeia onde políticas e investimento podem acelerar benefícios sociais tangíveis.
Em um cenário de múltiplas apostas, qual dessas tecnologias você considera mais próxima de gerar impacto real no Brasil nos próximos cinco anos?