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Arqueólogos encontram pinturas rupestres milenares em cidade brasileira que podem revelar civilizações esquecidas no coração do Brasil

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 08/10/2025 às 21:27
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Arqueólogos descobrem pinturas rupestres milenares em gruta da Serra da Mantiqueira, revelando possível presença de povos antigos e reabrindo debates sobre civilizações perdidas no Brasil

Pesquisadores brasileiros acabam de encontrar, em uma gruta da Serra da Mantiqueira, um conjunto de pinturas rupestres que pode mudar o que se sabia sobre a presença humana no interior do Sudeste. A descoberta, feita dentro do Parque Nacional de Itatiaia, reacendeu o interesse sobre antigos povos que habitaram a região milênios antes da colonização portuguesa e pode revelar indícios de uma verdadeira “cidade perdida” colonial esquecida pela história oficial.

O início de uma investigação misteriosa

O achado está sendo estudado por especialistas do Museu Nacional da UFRJ, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do próprio Parque Nacional de Itatiaia (PNI), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O grupo tenta decifrar quando as pinturas foram feitas e quem as produziu. As primeiras análises indicam que podem ter entre 2.000 e 3.000 anos, embora o estudo ainda esteja em fase inicial.

A arqueóloga MaDu Gaspar, professora do Programa de Arqueologia do Museu Nacional, explicou que a equipe busca compreender o contexto físico e cultural do local. “Regiões com abrigos e grutas com pinturas rupestres raramente são pontos isolados. Elas costumam fazer parte de uma rede de ocupações humanas. Estamos apenas começando a entender essa paisagem e as possíveis rotas e recursos que sustentaram esses grupos”, declarou em entrevista à Agência Brasil.

Pinturas rupestres feitas com pigmentos minerais à base de óxidos de ferro e argila, preservadas sob abrigo rochoso de granito com cerca de 15 metros de extensão. As figuras, em tonalidades de vermelho e ocre, apresentam traços geométricos e antropomorfos datados preliminarmente entre 2.000 e 3.000 anos, segundo estimativas iniciais dos arqueólogos do Museu Nacional/UFRJ e da UERJ, responsáveis pelo estudo do sítio

Descoberta por acaso durante uma escalada

Curiosamente, o local foi encontrado por acaso. O supervisor operacional da parte alta do Parque, Andres Conquista, relatou que fazia uma escalada de rotina quando percebeu uma formação rochosa incomum cercada por flores vermelhas. Ao se aproximar, viu inscrições que inicialmente julgou ser pichações modernas. “Quando percebi que não havia nomes nem datas, entendi que poderia ser algo muito antigo. Tirei fotos e levei para o pessoal do ICMBio”, contou.

A partir daí, o achado mobilizou o parque e as universidades. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) confirmou a autenticidade das pinturas e acionou o Iphan para iniciar o processo de proteção do sítio arqueológico. O local agora está isolado e vigiado por câmeras, com multas severas para qualquer tentativa de invasão.

Preservar antes de divulgar

Embora as pinturas tenham sido encontradas ainda em 2023, o anúncio público ocorreu apenas em 2025, quando o parque já havia criado um protocolo de segurança. Segundo Gaspar, a prioridade foi garantir a preservação e impedir que trilheiros ou turistas chegassem à gruta antes da conclusão das análises. “Os sítios arqueológicos são gerenciados pelo Iphan, e todas as ações, até de arqueólogos, precisam de autorização. Estamos lidando com um testemunho precioso da história humana”, afirmou.

O professor Anderson Marques Garcia, do Departamento de Arqueologia da UERJ, destacou que a descoberta surpreendeu a comunidade científica. “O Rio de Janeiro é o berço da arqueologia brasileira. Acreditávamos que o estado já estava totalmente mapeado. Encontrar um sítio inédito em uma área acessível é algo que muda nossa percepção sobre o passado regional”, observou.

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Vestígios de caçadores antigos

Os pesquisadores já encontraram fortes indícios da presença de caçadores que habitaram a região há milhares de anos. Isso inclui marcas em rochas e fragmentos que podem ter servido de ferramentas rudimentares. Caso se confirme a datação estimada, o sítio pode estar entre os mais antigos do Sudeste, com valor comparável a descobertas emblemáticas do Piauí e do Mato Grosso.

Segundo Gaspar, “as pinturas mostram símbolos e padrões que ainda não foram decifrados, mas que podem estar relacionados a rituais ou a mapas de caça. Tudo indica que essa comunidade tinha uma forma própria de representar o mundo”. A equipe pretende realizar análises químicas e de pigmentos para determinar se foram usadas substâncias minerais locais ou misturas elaboradas com gordura e carvão — técnicas típicas de povos caçadores-coletores.

Um novo capítulo para a arqueologia brasileira

O achado reacende o debate sobre a ocupação humana pré-colonial do território brasileiro e pode ajudar a preencher lacunas importantes sobre os primeiros grupos que viveram no Sudeste. A Serra da Mantiqueira, por sua complexidade geológica e abundância de abrigos naturais, pode ter sido um corredor migratório entre povos de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

O professor Garcia alerta, no entanto, para os riscos de interferência indevida. “Uma escavação não autorizada pode destruir evidências frágeis que levaram milhares de anos para se formar. O sítio é pequeno, e precisamos agir com extrema cautela para não comprometer a pesquisa.”

Por enquanto, não há prazo para reabrir a área à visitação. A concessionária Parquetur, responsável pela gestão turística, reforçou que “toda e qualquer violação da área protegida resultará em penalidades severas”. A expectativa é que, após a conclusão dos estudos, o espaço possa ser integrado a um circuito de visitação controlada, combinando turismo científico e educação ambiental.

Uma “cidade perdida” sob as florestas

Alguns pesquisadores acreditam que a gruta e as inscrições podem estar ligadas a antigas rotas coloniais esquecidas e até a comunidades que fugiram das expedições bandeirantes no século XVII. A hipótese, embora ainda especulativa, reacende o fascínio pela ideia de cidades escondidas na Amazônia e no Sudeste brasileiro, onde povos indígenas, escravizados foragidos e colonos isolados teriam criado sociedades híbridas.

Para MaDu Gaspar, essa é uma oportunidade única de reescrever parte da história do país. “Essas pinturas mostram que havia muito mais vida, arte e movimento humano no interior do Brasil do que imaginávamos. Cada pigmento é um fragmento da memória de quem viveu aqui antes de nós”, concluiu.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

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