Nova tecnologia de armazenamento de energia com baterias ganha força e promete economia significativa nas contas de luz.
O armazenamento de energia elétrica em baterias vem conquistando espaço no Brasil, apesar de ainda não haver regulamentação definitiva para a geração centralizada. A estimativa é que essa tecnologia possa reduzir em até 50% o custo da energia elétrica, trazendo economia para os consumidores e fortalecendo o uso de fontes renováveis.
Markus Vlasits, presidente da Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia (Absae), explica que o cálculo é feito com base no valor do megawatt-hora (R$/MWh) e na comparação com a necessidade de acionamento de usinas termelétricas, conhecidas pelo alto custo e pela dependência de combustíveis fósseis.
Diferença de custo entre baterias e termelétricas
Segundo Vlasits, o custo atual para instalação de baterias varia entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão por MWh de capacidade instalada, dependendo do tamanho do sistema e da forma de conexão à rede. Esse investimento, segundo ele, poderia oferecer uma redução de aproximadamente 50% no custo de fornecimento de energia elétrica em comparação ao uso das usinas térmicas.
-
Energia renovável em Minas Gerais ganha incentivo com nova medida tributária
-
Energias renováveis se tornarão a maior fonte de eletricidade do mundo até 2026
-
Eis o hidrogênio branco: “combustível do futuro” limpo, barato e abundante que especialistas dizem estar pronto para ser explorado
-
China alterou a rotação da Terra com uma de suas obras — e não aprendeu a lição: agora quer uma ainda maior e gera tensão geopolítica
As termelétricas são acionadas em momentos de maior demanda energética, principalmente durante o período noturno, quando a produção de energia solar diminui drasticamente. No entanto, o acionamento dessas usinas encarece o custo da energia, refletindo diretamente nas bandeiras tarifárias cobradas dos consumidores.
Como as baterias podem diminuir a conta de luz
O conceito central do armazenamento de energia é simples: utilizar a energia excedente produzida em horários de menor consumo e armazená-la para liberação em momentos de pico, especialmente no fim do dia.
Durante o dia, parques solares e eólicos, principalmente no Nordeste, geram uma quantidade significativa de energia que muitas vezes não é plenamente aproveitada, sendo descartada por falta de demanda instantânea.
Com a implantação de baterias em larga escala, essa energia excedente seria armazenada e utilizada nas horas de maior consumo, reduzindo a necessidade de recorrer a fontes mais caras e poluentes.
A tecnologia BESS (Battery Energy Storage System), como é internacionalmente conhecida, atua como um “banco de energia”, armazenando eletricidade gerada pelas fontes renováveis para posterior distribuição no sistema.
Flexibilidade e eficiência do uso de baterias no sistema elétrico
Diferentemente das termelétricas, que exigem um tempo considerável para serem ligadas e mantêm elevados custos de operação contínua, as baterias oferecem uma resposta rápida às demandas do sistema. Elas podem ser acionadas e desligadas rapidamente, sem necessidade de consumo contínuo de combustíveis.
Essa flexibilidade torna o armazenamento de energia uma solução eficaz tanto para equilibrar a oferta e demanda diária quanto para garantir maior estabilidade à rede elétrica.
Além disso, o uso das baterias reduz o desperdício de energia renovável que não consegue ser aproveitada no momento da produção, otimizando o investimento realizado em parques solares e eólicos.
Produção de energia no Brasil e o papel do armazenamento
De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), até às 16h10 da sexta-feira (25), a geração de energia no Brasil estava distribuída da seguinte forma:
- Hidrelétricas: 60,4 GW (68,4%)
- Fotovoltaicas: 13,7 GW (15,5%)
- Eólicas: 8,1 GW (9,1%)
- Termelétricas (incluindo nucleares): 6,1 GW (7%)
- Total: 88,3 GW
No período noturno, a participação da energia solar cai drasticamente, enquanto o consumo aumenta. Para suprir essa demanda, o sistema atualmente depende das termelétricas, que possuem custo elevado e baixa competitividade em relação às fontes renováveis.
O preço do megawatt-hora (MWh) gerado por usinas solares e eólicas é em torno de R$ 170, enquanto nas usinas térmicas os valores podem variar entre R$ 1.700 e R$ 2.600 por MWh, de acordo com o cancelado leilão térmico recente. Essa diferença justifica o investimento no armazenamento de energia por baterias como forma de reduzir custos.
Legislação e perspectiva para a liberação do armazenamento de energia
Atualmente, as fontes eletroquímicas — como as baterias de grande porte — ainda não são permitidas na geração centralizada no Brasil. O Projeto de Lei 1224/2022, que trata da regulamentação do armazenamento de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), tramita no Congresso Nacional, mas ainda não foi votado.
Entretanto, Markus Vlasits aponta que não seria necessário esperar uma nova lei para iniciar a operação de sistemas de armazenamento. Segundo ele, uma resolução normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) poderia viabilizar essa prática no curto prazo.
A Aneel já realizou uma consulta pública sobre o tema e, conforme declarações recentes, a nova norma sobre armazenamento deve ser publicada ainda em maio. Essa medida abriria caminho para a implantação de baterias de armazenamento em larga escala, alinhando o cronograma regulatório ao cronograma dos futuros leilões de energia.
Solução de armazenamento pode mudar o cenário energético nacional
Com a liberação da tecnologia de baterias, o Brasil poderá reduzir drasticamente sua dependência de usinas termelétricas para suprir picos de demanda. Isso resultará não apenas em contas de luz mais baratas, mas também em uma matriz energética mais limpa e eficiente.
O armazenamento de energia contribui para um melhor aproveitamento das fontes renováveis, fortalece a estabilidade do sistema elétrico e reduz a necessidade de investimentos em termelétricas, que possuem alta emissão de gases poluentes.
A ampliação do uso de sistemas BESS também pode impulsionar o crescimento econômico em setores de alta tecnologia e promover novas oportunidades de emprego na área de energia renovável e tecnologia da informação aplicada ao setor elétrico.
Se implementado de forma ampla, o armazenamento de energia em baterias pode representar um novo capítulo na história energética do Brasil, reforçando o compromisso com a transição para uma economia de baixo carbono e beneficiando diretamente milhões de consumidores com tarifas mais acessíveis.
A combinação entre energias renováveis e armazenamento eficiente será fundamental para garantir a segurança energética e a competitividade do país nos próximos anos.
A expectativa é que, com o avanço regulatório e a entrada de investimentos privados, o Brasil consolide sua posição entre os líderes mundiais na utilização de energia limpa associada a tecnologias de armazenamento inteligente.