Estudo revela que ogivas da Segunda Guerra no Mar Báltico, antes vistas como tóxicas, hoje sustentam densas colônias de caranguejos, vermes e estrelas-do-mar.
Um achado surpreendente chamou a atenção de cientistas europeus: explosivos da Segunda Guerra Mundial, antes considerados altamente tóxicos, se transformaram em abrigo para uma comunidade vibrante de animais marinhos no Mar Báltico.
Pesquisadores que exploraram um antigo depósito de armas revelaram, por meio de um submersível submarino, que caranguejos, vermes e peixes ocupam ogivas abandonadas, em maior número do que no próprio leito marinho ao redor.
“Estávamos preparados para ver números significativamente menores de todos os tipos de animais”, afirmou o autor do estudo, Andrey Vedenin, do Instituto de Pesquisa Senckenberg, na Alemanha. “Mas aconteceu o oposto.”
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As águas alemãs guardam aproximadamente 1,6 milhão de toneladas de munições descartadas durante as duas Guerras Mundiais. Nessas relíquias, ainda podem estar presentes substâncias perigosas como TNT, resíduos químicos e até material nuclear.
Superfícies duras atraem vida selvagem
O estudo se concentrou na Baía de Lübeck, onde ogivas de bombas voadoras V-1 permanecem submersas. Com auxílio do submersível, os cientistas registraram anêmonas, estrelas-do-mar e outras espécies vivendo sobre essas estruturas.
Segundo o ecologista James Porter, da Universidade da Geórgia, que não participou da pesquisa, trata-se de um campo pouco explorado: “Normalmente, não se estuda a ecologia de bombas”.
Vedenin explicou que a ausência de superfícies duras no Mar Báltico favorece esse fenômeno. O fundo é dominado por lama e areia, pois pedras e pedregulhos foram retirados nos séculos XIX e XX para uso em construção civil. As carcaças metálicas das ogivas funcionam como substratos raros, permitindo que organismos bentônicos se fixem.
Além disso, a contaminação química da área reduz a presença humana, criando uma espécie de isolamento que beneficia a fauna marinha.
Adaptação a compostos tóxicos
A equipe registrou cerca de 43.000 organismos por metro quadrado sobre as ogivas, contra apenas 8.200 por metro quadrado no sedimento vizinho.
Mesmo expostos a substâncias como TNT e RDX, com concentrações variando de 30 nanogramas a 2,7 miligramas por litro, os animais prosperaram.
“De modo geral, a comunidade epifaunal na munição despejada na área de estudo atinge uma alta densidade, com as estruturas metálicas elevadas fornecendo um habitat adequado”, escreveram os autores.
A maioria das espécies se instalou nas carcaças metálicas, não diretamente sobre o material explosivo, o que provavelmente diminuiu sua exposição a toxinas. Os pesquisadores destacaram que, nesse caso específico, os restos de guerra até podem contribuir para restaurar condições semelhantes às de habitats naturais perdidos.
Navios afundados também viraram santuários
Fenômenos parecidos foram observados em outros locais. Nos Estados Unidos, estudiosos mapearam 147 naufrágios da chamada “Frota Fantasma” na Baía de Mallows, em Maryland. Esses navios da Primeira Guerra Mundial foram queimados e afundados nos anos 1920.
Hoje, a frota abriga vida marinha variada e também aves, como as águias-pesqueiras. Com imagens aéreas de alta resolução, pesquisadores criaram um mapa detalhado da região, que poderá servir para futuros trabalhos ecológicos, arqueológicos e culturais.
“É um testemunho muito legal da força da vida”, afirmou David Johnston, biólogo conservacionista da Universidade Duke, que estuda os naufrágios da Primeira Guerra Mundial ao longo do Rio Potomac.
Tanto o estudo europeu quanto o norte-americano foram publicados na revista Communications Earth & Environment, reforçando como ambientes artificiais e inesperados podem se transformar em refúgios vitais para a biodiversidade.