Fluxo intenso de turistas da argentina movimenta hospedagens e lojas no sul do país
Nos últimos meses, o Brasil tem experimentado um aumento expressivo na chegada de turistas vindos da Argentina.
Desde abril de 2025, esse movimento tem sido impulsionado principalmente pela valorização do peso argentino frente ao real.
Como consequência direta, as regiões de fronteira, sobretudo no Sul do país, registraram crescimento acelerado nas vendas do comércio e na ocupação da rede hoteleira.
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De acordo com dados divulgados pela Fecomércio-RS em junho, os gastos de argentinos em cidades como Uruguaiana, Santana do Livramento e Porto Xavier subiram mais de 40%.
Esse número se refere à comparação com o mesmo período de 2024.
Como resultado, lojas de roupas, supermercados, postos de combustíveis e farmácias passaram a atender uma demanda muito superior à habitual.
Além disso, muitos comerciantes contrataram temporários para dar conta do movimento.
Ainda em junho, o IBGE reforçou que essa entrada de recursos tem gerado impacto positivo no PIB regional.
As prefeituras destacam que o turismo reaqueceu o setor de eventos e reforçou o caixa de pequenos empreendedores.
Conforme destacou em entrevista o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, a valorização cambial tem incentivado os argentinos a cruzar a fronteira.
Esse movimento ocorre com mais frequência e com maior poder de compra.
Moeda forte leva argentinos a fazerem fila nas fronteiras
A cotação do peso argentino frente ao real se fortaleceu de forma incomum desde o fim de março.
Com isso, muitos turistas passaram a enxergar o Brasil como uma opção mais vantajosa para compras e lazer.
Ainda em maio, o Banco Central do Brasil alertou para a diferença na cotação paralela, que favorece os estrangeiros mesmo fora do câmbio oficial.
Assim, não apenas a hotelaria e o comércio foram afetados, mas também serviços como transporte, alimentação e aluguel por temporada.
Em cidades como Santa Rosa, na região noroeste do Rio Grande do Sul, moradores relataram filas nos postos de gasolina e supermercados.
Essas situações se intensificam durante os fins de semana, sobretudo em feriados prolongados.
Conforme explicaram representantes da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RS), a taxa de ocupação hoteleira subiu quase 50% em determinadas localidades.
Ao mesmo tempo, a movimentação obrigou muitos hotéis e pousadas a ampliar turnos, reajustar valores e reforçar a segurança sanitária.
O setor afirma que a tendência deve continuar ao longo do segundo semestre.
Comércio local amplia faturamento com fluxo estrangeiro
Além do turismo, o comércio de bens de consumo foi fortemente beneficiado.
Conforme indicam dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a presença argentina ajudou a recuperar o faturamento de pequenas e médias empresas.
O efeito foi mais sentido em municípios fronteiriços.
A CNC estima que, em maio de 2025, as vendas aumentaram em até 60% em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Os principais produtos adquiridos por turistas são alimentos industrializados, bebidas, roupas, cosméticos, eletrônicos e medicamentos.
Mesmo com a alta no fluxo, comerciantes mantiveram os preços competitivos.
Segundo a Associação Comercial de Uruguaiana, esse comportamento estratégico visa fidelizar consumidores estrangeiros mesmo após a normalização da cotação cambial.
Além disso, muitos argentinos passaram a realizar compras em maior volume.
Esses produtos são frequentemente levados para revenda informal em suas cidades de origem.
Apesar disso, as prefeituras brasileiras reforçaram que vêm monitorando esse comportamento e ajustando a fiscalização alfandegária.
Cidades se adaptam para manter o crescimento turístico
Diante da nova realidade, municípios fronteiriços têm adotado medidas para melhorar a infraestrutura e manter o fluxo turístico.
Em abril de 2025, a prefeitura de Barra do Quaraí anunciou a reforma de vias de acesso e a ampliação da sinalização bilíngue.
Outras cidades seguiram o mesmo caminho e firmaram parcerias com o governo estadual.
Além disso, os setores de hotelaria e gastronomia passaram a oferecer cardápios em espanhol, promoções em moeda estrangeira e facilidades no pagamento.
Essa adaptação tem sido vista como essencial para manter o ritmo de crescimento e garantir boa experiência ao visitante.
Ainda segundo a ABIH-RS, esses ajustes elevaram a nota de avaliação dos estabelecimentos em aplicativos de viagem.
Embora o turismo interno tenha diminuído em certas localidades, especialistas afirmam que o saldo ainda é positivo.
Segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o ingresso de capital estrangeiro gera efeito multiplicador em serviços e infraestrutura.
Expectativa do setor é de manter fluxo até o fim do ano
Com a valorização do peso argentino e os incentivos locais, a expectativa do setor turístico é de que o movimento se mantenha elevado até dezembro.
Conforme análise da Câmara de Turismo da Fecomércio-RS, datas como feriados nacionais na Argentina e o período do Natal devem impulsionar ainda mais a vinda de visitantes.
Em junho, empresários da região solicitaram ao governo federal apoio logístico e reforço na infraestrutura das aduanas.
Segundo os comerciantes, filas longas e lentidão no processo alfandegário podem desestimular futuras viagens.
Mesmo assim, o clima é de otimismo, especialmente para empreendedores do setor de serviços.
De acordo com levantamento da Embratur, o turismo de compras representa mais de 60% do interesse dos visitantes argentinos no Brasil.
Portanto, a tendência é de manutenção da demanda enquanto as condições econômicas permanecerem favoráveis.
Assim, o Brasil se fortalece como destino estratégico para os vizinhos do Mercosul.