Banco Central busca soluções sustentáveis diante de cofres lotados e desafios logísticos
O Banco Central da Argentina, sob a presidência de Santiago Bausili, estuda adotar a incineração de cédulas como alternativa para conter o volume crescente de papel-moeda deteriorado.
Essa proposta ganhou destaque após declarações feitas por Bausili em uma transmissão ao vivo no programa Carajo, em 2025.
O ministro da Economia, Luis Caputo, e o secretário de Política Econômica, José Luis Daza, também participaram da transmissão, informou o jornal Clarín.
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O método tradicional de trituração de notas, hoje amplamente utilizado, tornou-se insuficiente para lidar com o número elevado de cédulas em circulação.
Afinal, o aumento da inflação, registrado entre 2023 e o início de 2024, acelerou a circulação e o consequente desgaste do papel-moeda.
Volume de cédulas em circulação ainda pressiona sistema bancário
Atualmente, de acordo com dados do Banco Central da Argentina, a durabilidade média das cédulas varia conforme o valor de cada nota.
Notas de valores médios, por exemplo, duram entre 20 e 30 meses.
As de valores mais altos alcançam até 40 meses de uso.
O desgaste acelerado por conta da inflação, porém, tem impactado seriamente esses prazos.
Mesmo com a introdução, em 2024, das novas cédulas de $10.000 (R$ 47,34) e $20.000 (R$ 94,68), importadas da China, o problema não foi contido.
No mês de maio de 2025, o país contabilizava mais de 8,7 bilhões de cédulas em circulação.
Esse montante totalizava impressionantes 8 mil toneladas de papel.
Entre elas, as cédulas de $1.000 (R$ 4,73) correspondiam a expressivos 43,4% do total em circulação.
Por habitante, a Argentina possui hoje aproximadamente 185 cédulas em circulação.
Esse número supera os índices dos Estados Unidos, com 163 cédulas, e do Brasil, com apenas 36 cédulas.
Embora tenha ocorrido uma redução de 24% no volume total de cédulas no último ano, o ritmo atual de destruição ainda não atende à demanda.
Entre janeiro e maio de 2025, as cédulas de $500 tiveram queda superior a 40%.
As de $1.000 registraram uma redução de quase 29% no mesmo período.
Em contrapartida, as notas de $20.000 aumentaram 129% e as de $10.000 cresceram 10%.
Desafios logísticos e cofres abarrotados preocupam sistema financeiro
Ainda que 2,4 bilhões de cédulas tenham sido destruídas no último ano, o sistema bancário argentino segue enfrentando enormes desafios logísticos.
Como relatou o próprio Santiago Bausili, a intenção é buscar inspiração no modelo brasileiro para superar essas limitações.
Desde 2017, o Banco Central do Brasil aplica um método sustentável de destruição de cédulas.
Os bancos se encarregam de identificar as notas desgastadas.
Elas são trituradas e compactadas em blocos de R$ 50 mil.
Esses blocos são utilizados como combustível em fábricas de cimento.
Esse processo ambientalmente sustentável é conhecido como coprocessamento.
Em 2023, mais de 1.500 toneladas de resíduos foram destinadas a essa prática no Brasil.
Isso evitou a emissão de aproximadamente 2 mil toneladas de CO₂ que seriam liberadas em aterros sanitários.
Na Argentina, ainda se adota um método mais tradicional.
A equipe tritura as notas em briquetes e descarta o material em aterros sanitários.
Os bancos comerciais classificam as cédulas com base em um sistema de cinco níveis de qualidade.
O Banco Central da República Argentina (BCRA) estabeleceu esse sistema.
Deve-se perfurar as notas seriamente danificadas, especialmente as de valor superior a $1.000, antes de enviá-las para destruição.
As equipes enviam as demais cédulas em pacotes termoselados com mil unidades de mesmo valor.
A destruição física ocorre em dois centros especializados.
Um está localizado em Buenos Aires.
O outro funciona em Santiago del Estero.
Recorde histórico e medidas emergenciais
Em julho de 2024, a situação atingiu um ápice crítico.
A quantidade de cédulas em circulação bateu o recorde de 11,8 bilhões.
Com isso, os bancos passaram a enfrentar uma grave crise logística.
Sem espaço físico para armazenar as cédulas deterioradas, diversas instituições financeiras precisaram construir novas bóvedas e depósitos próprios.
A população apelidou esses depósitos de “sarcófagos”.
Embora o cenário tenha apresentado uma leve melhora nos últimos quatro meses, o problema persiste.
O Banco Central intensificou os esforços para acelerar a retirada das notas danificadas.
Mesmo assim, ainda existe um estoque elevado de papel-moeda acumulado.
Segundo fontes do setor bancário entrevistadas pelo jornal Clarín, muitos cofres permanecem abarrotados de cédulas aguardando destruição.
“Conseguimos aliviar a situação emergencial.
Um porta-voz do setor bancário revelou ao Clarín que os bancos ainda armazenam muito papel sem uso, aguardando destruição.
Por isso, o Banco Central argentino confirmou que está em análise a viabilidade da queima de cédulas.
Essa estratégia poderá oferecer uma solução mais eficiente para o problema atual.
Exemplo brasileiro motiva busca por soluções sustentáveis
A experiência brasileira com a incineração de papel-moeda tem despertado grande interesse entre os técnicos do Banco Central argentino.
A proposta combate o acúmulo de cédulas, pois adota uma prática sustentável e eficaz.
Além disso, busca minimizar os impactos ambientais relacionados ao descarte do papel.
Enquanto a Argentina avança na avaliação de métodos alternativos, o tema segue em pauta entre autoridades econômicas e financeiras do país.
Espera-se que o governo implemente novas medidas em breve.
Essas ações deverão garantir um fluxo mais eficiente e sustentável na destruição das cédulas argentinas.