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Argentina no fim do poço de novo? Reservas de Dólar evaporam e FMI trava o que poderia salvar Milei

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 11/10/2025 às 16:11
Crise cambial se agrava na Argentina. Dólar paralelo dispara, reservas somem e FMI impõe limites ao governo Milei.
Crise cambial se agrava na Argentina. Dólar paralelo dispara, reservas somem e FMI impõe limites ao governo Milei.
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Governo de Javier Milei intensifica a venda de dólares para conter o peso, enquanto as reservas se esgotam e o FMI impõe limites. O dólar paralelo dispara e pressiona os títulos argentinos em meio à incerteza política e econômica.

A Argentina intensificou as intervenções no câmbio e voltou a vender dólares para segurar o valor do peso.

Pela sexta sessão consecutiva, o governo realizou ofertas no mercado, enquanto o Tesouro queima depósitos em moeda forte e operadores já estimam que restem cerca de US$ 700 milhões em caixa.

O Banco Central tem reservas utilizáveis mais robustas, mas enfrenta amarras impostas pelo acordo com o FMI, em meio a uma disparada do dólar paralelo e à deterioração dos preços dos títulos soberanos.

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Vendas de dólares viram rotina

Segundo estimativas de mercado, o governo desembolsou nesta terça-feira entre US$ 250 milhões e US$ 330 milhões para manter o câmbio praticamente estável no dia.

Somadas as últimas seis sessões, as intervenções totalizam ao menos US$ 1,5 bilhão.

Ainda que os números não sejam divulgados oficialmente pelo Tesouro, participantes do mercado relatam presença constante de oferta pública de moeda, num esforço para achatar a volatilidade e evitar uma nova rodada de realocação para o dólar.

Enquanto isso, o Ministério da Economia segue utilizando depósitos próprios — e não as reservas brutas do Banco Central — para sustentar o câmbio.

A avaliação corrente entre gestores é que a margem de manobra do Tesouro encolheu, razão pela qual a atuação diária no mercado cambial ganhou caráter defensivo.

Limites do Banco Central e do acordo com o FMI

O Banco Central da República Argentina (BCRA) dispõe de dólares, estimados por casas privadas em torno de US$ 10 bilhões utilizáveis.

No entanto, há restrições contratuais.

Pelo entendimento atual com o FMI, a autoridade monetária só pode intervir diretamente com reservas próprias se a taxa cruzar a faixa de flutuação acordada, que nesta terça-feira ficou entre 943 e 1.484 pesos por dólar.

Em setembro, o BCRA chegou a vender US$ 1,1 bilhão em três ocasiões, mas, desde então, a estratégia dominante tem sido acionar os recursos do Tesouro para preservar o regime e não acionar gatilhos do programa com o Fundo.

Ainda assim, o ambiente de liquidez apertada e a persistência de incertezas fiscais e políticas alimentam a demanda por proteção cambial.

Mesmo os ajustes recentes na política monetária não foram suficientes para reduzir a procura por dólares.

Pressão no dólar paralelo e nos futuros

O dólar de rua superou 1.500 pesos, ampliando o descompasso em relação ao câmbio oficial, que encerrou a sessão por volta de 1.429,5 pesos por dólar.

A diferença entre as cotações, que vinha oscilando, ganhou tração apesar da reintrodução de controles, como a proibição de revenda de dólares por 90 dias e o reforço nas vendas de contratos futuros.

No mercado de derivativos, as curvas passaram a precificar desvalorização anual de até 60% nos próximos 12 meses — patamar acima das expectativas médias de inflação consideradas por analistas.

Esse movimento sinaliza que os agentes veem risco de um novo ajuste do câmbio oficial, caso as reservas do setor público continuem em queda e a paridade paralela permaneça pressionada.

Aposta em ajuda de Washington

Na tentativa de recompor liquidez, o governo busca apoio financeiro externo.

Scott Bessent se comprometeu publicamente a articular uma tábua de salvação e afirmou que manteria conversas com o ministro da Economia, Luis Caputo, que viajou a Washington acompanhado do presidente do BCRA, Santiago Bausili.

O tamanho e o timing de um eventual pacote, porém, permanecem indefinidos.

Enquanto a negociação avançava, a equipe econômica reforçou o aperto monetário e retomou medidas de controle de capitais para desestimular operações especulativas no curto prazo.

Ainda assim, os sinais no mercado mostraram pouca trégua: a procura por dólares alternativos aumentou, a liquidez encurtou, e os prêmios de risco subiram ao longo da curva de juros.

Dívida, prazo de novembro e humor dos investidores

A tensão cambial se intensifica às vésperas de um vencimento de US$ 500 milhões em novembro, que exigirá caixa em moeda forte.

Com as reservas disponíveis sob escrutínio, a percepção de risco sobre a capacidade de pagamento no curto prazo se deteriorou, e os títulos soberanos em dólar voltaram a cair ao longo de toda a curva.

Papéis com vencimento em 2035 registraram desvalorização próxima de um centavo, sendo negociados em torno de 56 centavos por dólar, segundo cotações indicativas.

O movimento reflete o receio de que, sem novo funding, o país tenha de recorrer a mecanismos mais drásticos para administrar a pressão sobre o balanço de pagamentos, sobretudo se a demanda por divisas seguir aquecida.

Política e câmbio: um ciclo que se retroalimenta

O câmbio pressionado ocorre em meio a um calendário político carregado.

O governo do presidente Javier Milei caminha para as eleições de meio de mandato em 26 de outubro, após sofrer uma derrota expressiva em uma votação provincial no mês anterior.

A leitura de parte do mercado é que a conjuntura eleitoral reduz o espaço para medidas impopulares de curto prazo, ao mesmo tempo em que a falta de uma âncora de confiança nítida mantém a demanda por hedge elevada.

Além disso, a reintrodução e o reforço de controles de capital — embora momentaneamente aliviem a pressão no mercado oficial — costumam deslocar parte do fluxo para canais paralelos.

Na prática, a tensão migra, pesa sobre a cotação de rua e retroalimenta a expectativa de desvalorização, o que encarece a rolagem de passivos e dificulta a recomposição de reservas.

O que está em jogo agora

Sem uma fonte estável de dólares, o governo depende de uma combinação de apoio externo, sinalização fiscal crível e gestão do regime cambial para recompor a confiança.

Enquanto a diferença entre o paralelo e o oficial permanece elevada, as empresas seguram decisões de investimento e adiam importações não essenciais, o que, por sua vez, afeta a atividade.

O quadro exige calibragem fina: intervir demais consome munição rapidamente; intervir de menos arrisca uma depreciação desordenada.

Resta saber se uma solução de financiamento em Washington virá a tempo e com volume suficiente para reconstituir colchões de liquidez, aliviar o mercado futuro e permitir um caminho de normalização sem rupturas adicionais.

Qual movimento do governo teria maior poder de virar a página: reforço imediato de reservas, ajuste no regime cambial ou um pacto político que reduza a incerteza?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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