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Diferença brutal: Argentina tem apenas US$ 39 bilhões em reservas — nove vezes menos que o Brasil, com US$ 356 bilhões — e tenta conter o dólar

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 18/09/2025 às 22:30
Milei gasta US$ 53 milhões para salvar o peso, mas reservas caem e temor de colapso econômico reacende crise política e fuga de capitais
Milei gasta US$ 53 milhões para salvar o peso, mas reservas caem e temor de colapso econômico reacende crise política e fuga de capitais
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Num país onde o valor da moeda muda ao sabor das incertezas políticas, cada oscilação do câmbio se transforma em um teste de resistência do Governo Milei. A tensão nas ruas, nos bancos e no próprio governo cresce a cada nova faísca no mercado financeiro argentino

A Argentina vive um cenário de forte pressão sobre suas reservas internacionais, que estão em níveis bastante reduzidos e despertam crescente preocupação no mercado.

Essa escassez de recursos limita a capacidade do país de sustentar sua moeda e tem levado o governo a adotar medidas emergenciais para tentar conter a valorização do dólar, numa tentativa de evitar novos choques na economia já fragilizada.

O governo do presidente Javier Milei decidiu intervir diretamente no mercado de câmbio pela primeira vez desde abril.

A decisão marca uma guinada brusca em relação ao regime de câmbio flutuante, que havia sido adotado como símbolo da agenda ultraliberal do presidente.

O Banco Central da República Argentina (BCRA) vendeu US$ 53 milhões em apenas um dia para tentar conter a disparada do dólar frente ao peso — uma operação emergencial que provocou forte reação no mercado e acendeu novos alertas sobre a fragilidade das contas externas do país.

Com a intervenção, as reservas internacionais da Argentina recuaram em US$ 98 milhões, fechando em US$ 39,407 bilhões, segundo dados oficiais do próprio BCRA.

Analistas destacam que o valor líquido efetivamente disponível pode ser menor, o que reforça as dúvidas sobre a capacidade do governo de manter novas ações de defesa do peso sem comprometer de vez a já combalida posição financeira nacional.

Para dimensionar a vulnerabilidade argentina, basta comparar com o Brasil: no mesmo dia 17, o Banco Central brasileiro registrava US$ 356,865 bilhões em reservas internacionais.

Isso significa que o Brasil possui um volume de dólares cerca de 9 vezes maior que o da Argentina (≈ 9,06x), evidenciando a disparidade entre os dois países em termos de fôlego cambial e poder de reação a choques externos.

https://twitter.com/BancoCentral_AR/status/1968764942611353907

Intervenção quebra discurso liberal de Milei

A decisão surpreendeu os agentes econômicos porque ocorre após meses em que Milei vinha defendendo a ideia de que o mercado deveria se autorregular, sem interferências diretas do Banco Central.

Em abril, o governo havia encerrado o chamado “cepo” — sistema que restringia a compra de dólares — e passou a adotar um regime de câmbio flutuante, considerado um passo ousado e liberal pelo mercado.

No entanto, a medida teve efeitos colaterais imediatos.

Com a eliminação das restrições, a demanda por dólares disparou, e o peso argentino passou a se desvalorizar de forma acelerada.

O governo tentou conter essa pressão elevando a taxa básica de juros e impondo regras mais rígidas para operações em moeda estrangeira, mas os esforços se mostraram insuficientes.

A disparada da cotação levou o dólar no mercado atacadista a encostar em 1.474,50 pesos, atingindo o teto da banda cambial estipulada pelo BCRA. No varejo, a moeda chegou a ser negociada por 1.490 pesos em alguns bancos privados.

Pelo acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), sempre que a cotação no atacado ultrapassa o teto diário da banda, o Banco Central está autorizado a intervir com vendas de reservas.

Ontem, esse limite estava em 1.474,40 pesos, corrigido diariamente com um acréscimo de 1% ao mês desde o fim do “cepo”.

A venda de US$ 53 milhões foi justamente para impedir que a cotação rompesse de vez essa barreira simbólica e psicológica.

Risco de inflação reacende temores

O pano de fundo dessa decisão é o medo de que a desvalorização do peso volte a pressionar a inflação, que chegou a ultrapassar 200% ao ano antes do início do mandato de Milei.

Embora o governo tenha conseguido desacelerar os preços com um plano agressivo de cortes nos gastos públicos, a confiança dos investidores ainda não foi totalmente restabelecida, e o país segue com dificuldade para atrair capital estrangeiro e recompor suas reservas.

Especialistas alertam que a escassez de dólares agrava o círculo vicioso: sem reservas, o governo perde poder de intervir; sem intervenção, o peso despenca; com o peso em queda, os preços sobem, o que mina o apoio popular.

Esse risco é particularmente sensível para Milei, que chegou ao poder prometendo dolarizar a economia argentina e enfrenta agora o paradoxo de ter que defender uma moeda que pretendia substituir.

Além disso, a valorização do dólar encarece importações e reduz a competitividade da moeda local, fatores que também impactam o nível de preços e corroem a renda da população.

Em última instância, o aumento do custo de vida pode gerar uma nova onda de instabilidade social e política, cenário que o governo tenta evitar com a intervenção emergencial no câmbio.

Derrota eleitoral amplia pressão sobre Milei

A crise cambial também foi potencializada pelo desgaste eleitoral do governo.

Nas eleições realizadas em 7 de setembro para renovar cadeiras no Congresso e escolher vereadores na província de Buenos Aires, o partido de Milei sofreu uma derrota contundente.

Com quase 40% do eleitorado argentino concentrado na província, o resultado teve peso simbólico e político: o peronismo obteve 47,3% dos votos, contra 33,7% da legenda de Milei, uma diferença de 13,6 pontos.

Foi a oitava derrota do governo em dez eleições provinciais realizadas neste ano. Além de perder influência no Congresso, Milei viu seus decretos e cortes de gastos serem derrubados pelos parlamentares.

Segundo analistas, a perda de governabilidade atuou como catalisador da crise cambial, pois reduziu a credibilidade das promessas de ajuste fiscal e reformas estruturais.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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