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Arábia Saudita freia The Line, corta megaprojetos e admite excesso de luxo e gastos em meio à queda do petróleo e crise do Visão 2030

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 04/11/2025 às 12:15
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Com o recuo do petróleo e déficit crescente nas contas públicas, o governo saudita decidiu desacelerar The Line, a cidade linear futurista avaliada em trilhões, e revisar o programa Visão 2030, adiando ou cancelando megaprojetos de luxo para conter gastos e redefinir prioridades nacionais.

A The Line, símbolo máximo da ambição futurista da Arábia Saudita, teve seu ritmo reduzido. Planejada para abrigar nove milhões de habitantes em 177 quilômetros de extensão, a cidade linear livre de carros e emissões agora será erguida em escala limitada, com apenas alguns quilômetros concluídos e capacidade inicial para 300 mil pessoas. O recuo marca o momento mais significativo de ajuste do plano Visão 2030, concebido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman como a vitrine global de um novo Oriente Médio.

A decisão foi impulsionada pela queda no preço do petróleo e pelo impacto fiscal de projetos bilionários. O orçamento saudita entrou em déficit, e autoridades reconheceram a necessidade de ser mais conservadoras. O país ainda busca equilibrar a narrativa de modernização com a realidade econômica, reduzindo o excesso de luxo e concentrando investimentos em setores com retorno comprovado, como tecnologia e energia limpa.

The Line deixa o papel de megacidade para se tornar projeto piloto

A The Line foi anunciada em 2021 como um eixo urbano vertical e autossustentável, onde moradia, transporte e serviços coexistiriam em um único corredor urbano de 500 metros de altura.

O projeto, orçado em mais de US$ 2,6 trilhões, seria a peça central da megazona futurista Neom, no noroeste do país.

Entretanto, diante da desaceleração econômica e da necessidade de corte de gastos, o escopo foi reduzido drasticamente.

Autoridades sauditas confirmaram que apenas um pequeno trecho será concluído até o final da década, funcionando como modelo experimental de infraestrutura verde e automação urbana.

A meta de nove milhões de moradores foi suspensa indefinidamente.

Megaprojetos adiados e cortes por excesso de luxo

A reavaliação do Visão 2030 atingiu também outras iniciativas emblemáticas.

A estância de montanha Trojena, planejada para sediar os Jogos Asiáticos de Inverno de 2029, teve sua entrega adiada para 2032, o que empurra a realização do evento para 2033.

O distrito urbano New Murabba, concebido como o novo centro de Riade, também foi desacelerado para evitar colapso orçamentário.

Alguns empreendimentos foram encerrados de forma definitiva.

O resort Sindalah, avaliado em mais de US$ 1 bilhão, foi fechado logo após a inauguração devido ao alto custo e à decoração extravagante, que incluía peles exóticas e revestimentos dourados.

O episódio tornou-se símbolo do excesso de luxo que o próprio governo tenta conter.

Redefinição de prioridades econômicas

A queda do barril de petróleo, que desde 2022 não ultrapassa a marca de US$ 100, reduziu a margem fiscal do reino.

O petróleo ainda representa mais da metade das receitas nacionais, e os investimentos massivos em turismo e construção se tornaram insustentáveis sem o apoio das exportações energéticas.

Para conter o déficit, o governo saudita passou a priorizar áreas com potencial de retorno direto, como tecnologia, energia renovável e entretenimento digital.

O fundo soberano PIF, principal braço financeiro do Estado, anunciou aportes em empresas de inteligência artificial e videogames, incluindo a compra da desenvolvedora Electronic Arts por US$ 55 bilhões.

Crise de imagem e o desafio da credibilidade

Especialistas apontam que a desaceleração de The Line expõe uma contradição entre ambição e viabilidade.

A estratégia de Mohammed bin Salman, baseada em marketing futurista, enfrenta críticas por priorizar grandeza estética em detrimento de resultados concretos.

Um empresário saudita resumiu a situação dizendo que havia uma doença de Dubai: vídeos perfeitos, mas pouca execução real.

Apesar dos ajustes, o governo mantém o discurso otimista e insiste que o plano Visão 2030 não foi abandonado, apenas recalibrado.

Autoridades estimam que a retomada integral dos projetos dependerá de dois a três anos de estabilidade no preço do petróleo, o que permitiria o pagamento de dívidas e o reinício gradual das obras.

O futuro incerto da cidade linear

Mesmo em escala reduzida, The Line continua sendo o projeto urbano mais audacioso já proposto no Oriente Médio.

Seu modelo de mobilidade elétrica, inteligência urbana e emissão zero permanece como referência técnica para urbanistas e investidores.

A diferença é que, agora, o foco está em testar a viabilidade prática do conceito, e não em vendê-lo como um símbolo de poder imediato.

A pausa imposta pela realidade econômica transformou o sonho de uma cidade linear de 177 quilômetros em um laboratório real de sustentabilidade e engenharia, onde a Arábia Saudita busca provar que é possível conciliar inovação e responsabilidade fiscal.

O recuo da Arábia Saudita em The Line e em seus megaprojetos de luxo sinaliza uma nova fase de pragmatismo para o país, que tenta ajustar ambição e realidade após anos de euforia.

A correção de rumo pode redefinir o futuro do programa Visão 2030, transformando-o de espetáculo visual em plano de desenvolvimento mais técnico e sustentável.

Você acredita que The Line ainda poderá se tornar a cidade do futuro que Mohammed bin Salman prometeu ou o projeto já entrou para a história como um sonho interrompido?

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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