Arábia Saudita enfrenta crise no petróleo e pode atrasar megaprojetos do projeto Visão 2030; orçamento bilionário já está no vermelho.
A Arábia Saudita vive um momento decisivo. O segundo país com maiores reservas do mundo, presente na OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), tenta manter sua força no mercado global de petróleo, ao mesmo tempo em que aposta todas as suas fichas no megaprojeto Visão 2030 para transformar sua economia.
Mas a conta está chegando. E pode ser alta demais.
Déficit bilionário ameaça plano da Arábia Saudita
A previsão do governo saudita para 2025 é preocupante: déficit de US$ 26,9 bilhões. Mesmo com uma receita esperada de US$ 315 bilhões, os gastos — fortemente ligados aos projetos do Visão 2030 — vão ultrapassar US$ 342 bilhões, segundo o The Arab Weekly.
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Com isso, a Arábia Saudita precisa garantir que o petróleo continue caro no mercado internacional. Caso contrário, o rombo fiscal pode dificultar a execução dos planos para modernizar o país.
A nova guerra do petróleo pode estar se formando
A posição da Arábia Saudita como um dos países líderes no setor de petróleo está sendo desafiada. Segundo o The Wall Street Journal, a OPEP autorizou os Emirados Árabes Unidos a aumentar a produção de barris em janeiro de 2025. Iraque e Cazaquistão também querem mais espaço.
Enquanto isso, os Estados Unidos, sob a nova presidência de Donald Trump, prometem ser ainda mais agressivos. Trump já afirmou, no dia 6 de novembro, durante seu discurso de vitória, que os EUA tem “mais ouro líquido do que qualquer outro país do mundo. Mais do que a Arábia Saudita e mais do que a Rússia.”
Trump deixou claro que pretende forçar a Europa a comprar mais gás e petróleo dos EUA. Ele também quer liberar novas áreas para perfuração, revogando proteções ambientais implementadas por Biden.
Se o plano der certo, o mercado de petróleo ficará mais competitivo. E isso é uma péssima notícia para a Arábia Saudita, que depende de preços altos para financiar o projeto Visão 2030.
Visão 2030: plano ousado para um novo país
O projeto Visão 2030 é a grande aposta da Arábia Saudita para se livrar da dependência do petróleo. O plano inclui a construção de cidades futuristas como The Line e o megaprojeto NEOM, que pode custar mais de US$ 500 bilhões.
Além disso, a Arábia Saudita vai sediar eventos globais como:
- Copa da Ásia de 2027;
- Jogos Asiáticos de Inverno de 2029;
- Expo Mundial de 2030;
- Copa do Mundo da FIFA em 2034;
Tudo isso exige infraestrutura moderna e bilhões em investimentos.
Mercado em queda e desafios com a China
O cenário externo também pressiona. A economia da China — maior cliente da Arábia Saudita — está desacelerando. Além disso, os chineses estão apostando pesado em energia verde, o que pode reduzir a demanda por petróleo no médio prazo.
A Arábia Saudita está usando seu Fundo de Investimento Público para financiar parte do Visão 2030. Mas sem receita contínua vinda do petróleo, essa estratégia pode ter prazo de validade.
A dependência do petróleo ainda é uma realidade. E isso torna cada decisão da OPEP ou dos EUA uma ameaça ao sucesso do Visão 2030.
“NEOM é um projeto para 50 anos”, diz ministro saudita
Mohammed Al-Jadaan, ministro das Finanças da Arábia Saudita, foi claro: “NEOM é um projeto para mais de 50 anos. Se alguém acha que toda a magnitude de NEOM será construída, operada e começará a gerar receita em cinco anos, está sendo ingênuo. E nós não somos ingênuos, somos pessoas sábias. Alguns projetos dentro de NEOM gerarão retornos a médio e curto prazo, mas trata-se de um programa de prazo muito longo.”
O governo reconhece que parte dos projetos será adiada, mas eventos como a Copa e a Expo 2030 seguem como prioridade.
Arábia Saudita entre dois mundos: petróleo e inovação
A Arábia Saudita sabe que não pode mais confiar somente no petróleo. O mundo está mudando e a revolução energética já começou. Por isso, o Visão 2030 é mais do que um plano: é uma corrida contra o tempo.
O sucesso dependerá do equilíbrio entre manter o preço do petróleo elevado e avançar nos setores de tecnologia, turismo e energias renováveis.
O risco é alto. Se o valor do petróleo cair demais, a Arábia Saudita pode ser forçada a inundar o mercado para manter a arrecadação, esgotando seus próprios poços. Isso comprometeria o futuro antes mesmo de o Visão 2030 entregar resultados.
O mundo observa. A pergunta é: será que a Arábia Saudita conseguirá sair da sombra do petróleo e entrar em uma nova era?