Projeto privado quer erguer réplica monumental com vista para o Cristo Protetor, abrigando museu das enchentes, restaurantes e vinícola, e integrando uma rota de peregrinação no RS.
Roca Sales (RS), uma das cidades mais afetadas pelas enchentes de 2023 e 2024 no Vale do Taquari, articula a construção de uma réplica da Arca de Noé com dimensões inspiradas no relato bíblico. A proposta nasce da Associação de Amigos Reconstruindo Roca Sales (AARRS) e pretende posicionar o município como novo polo de turismo religioso no Sul do Brasil.
Segundo os idealizadores, o empreendimento será 100% financiado pela iniciativa privada, com apoio institucional do poder público local, sem uso direto de verbas orçamentárias. A AARRS registrou a marca “Arca de Noé” como rota turística e religiosa e conduz tratativas técnicas para tirar o projeto do papel.
O plano inclui um museu da enchente de 2024, além de cafeteria, restaurantes e até uma vinícola dentro do complexo. A estimativa de abertura ao público é até 2030, condicionada a licenças e captação de investidores em fases.
-
Essa é a maior, mais alta e mais cara casa particular do mundo: custou US$ 2 bilhões, tem 27 andares, 173 metros e três helipontos
-
A bomba nuclear que desapareceu: artefato de 3,4 toneladas foi largado no mar em 1958 e continua perdido até hoje
-
Maior condomínio do Brasil tem 22 mil apartamentos, supera 5 mil cidades, conta com escola e até posto de saúde
-
Dose fatal: metanol em bebida adulterada faz vítimas em São Paulo
A escolha do local final ainda passa por estudos, mas a premissa é clara: erguer a estrutura em um ponto alto, com vista privilegiada para o Cristo Protetor de Encantado, monumental estátua de 43,5 metros que se tornou referência do turismo religioso gaúcho.
Como será a Arca de Noé de Roca Sales
A AARRS descreve uma arca de concreto, com revestimento externo que imita madeira e interiores em madeira, combinando solidez estrutural com estética temática. O desenho técnico está em desenvolvimento com o arquiteto Jonas Haefliger, responsável pelas primeiras etapas conceituais.
As dimensões seguirão “muito próximas” das bíblicas: cerca de 120 m de comprimento, 22,5 m de largura e 13,5 m de altura. A escala permite circulação interna de visitantes, com espaços expositivos e áreas de convivência.
Duas áreas estão em análise para implantação, entre elas o bairro Pôr do Sol e o Morro do Paraglider, ambas com vista para o Rio Taquari e o Cristo Protetor. A decisão depende de estudos de acessibilidade, impacto e licenciamento.
A estimativa de prazo é quatro a cinco anos para execução, em etapas. A abertura “até 2030” está condicionada à definição do terreno, projetos executivos e cronograma de obras. Planejamento por fases deve orientar a captação privada.
Enchentes no Vale do Taquari: o contexto que motivou o projeto
Em 2024, as cheias no Rio Grande do Sul deixaram Roca Sales entre as cidades com mais vítimas. Documentos do governo federal e balanços jornalísticos indicam ao menos 14 óbitos no município naquele evento, enquanto o estado somou mais de 180 mortes.
O Vale do Taquari já havia registrado 54 mortos nas enchentes de setembro de 2023, segundo a Defesa Civil estadual. Muitas famílias ainda lidam com deslocamento e reconstrução de moradias e negócios.
Roca Sales tem cerca de 10,4 mil habitantes, de acordo com o censo de 2022 do IBGE. Em termos proporcionais, os impactos sociais e econômicos das enchentes foram severos, o que ajuda a explicar o apelo simbólico e econômico da iniciativa.
Empresários e lideranças locais enxergam na arca um marco de memória e resiliência, capaz de atrair visitantes, gerar renda e diversificar a economia para além da reconstrução imediata.
Conexão com o Cristo Protetor e a rota do turismo religioso
O Cristo Protetor de Encantado tem 43,5 m de altura e integra um complexo turístico com capela e mirantes. O monumento, inaugurado oficialmente em 2025, consolidou Encantado como ponto de peregrinação e lazer, servindo de modelo inspirador para Roca Sales.
A prefeitura de Roca Sales projeta uma rota de peregrinação que liga Farroupilha, Coronel Pilar, Roca Sales, Encantado e Muçum, ampliando a oferta de turismo religioso no interior do RS. A arca seria um novo âncora neste circuito.
Em Muçum, avança o plano do Rosário da Proteção, um rosário monumental de cerca de 800 metros e 59 capelas, também com investimento privado e vocação devocional, reforçando a sinergia regional.
Para a estratégia funcionar, especialistas apontam a necessidade de sinalização integrada, serviços e agenda de eventos, evitando sazonalidade e dispersão de fluxos. A arca, neste desenho, seria atração âncora e ponto de narrativa.
Quem toca o projeto e como será o financiamento
A AARRS foi constituída em 17 de junho de 2024 por moradores e empresários com foco na reconstrução urbana e econômica. A entidade afirma não ter vínculo partidário e manter transparência das ações e captações.
O registro da marca “Arca de Noé” como rota turística e religiosa foi formalizado, abrindo caminho para parcerias com operadoras, roteiros comerciais e integração a calendários regionais. Recursos privados bancarão as obras.
O arquiteto Jonas Haefliger conduz a etapa inicial de estudos e viabilidade, em diálogo com investidores e com a prefeitura. Ele ressalta que se trata de um projeto de longo prazo, que exige planejamento técnico e consenso local.
A prefeitura manifesta apoio institucional, no entendimento de que a arca pode atrair investimentos e consolidar o Vale do Taquari como destino de peregrinação após a tragédia climática.
Deixe sua opinião: a “Arca de Noé” de Roca Sales é um ícone de fé e memória capaz de acelerar a retomada econômica, ou uma prioridade equivocada diante de tantas urgências de reconstrução? Comente com seus argumentos.