Após crescer com tie-back, o campo de Polvo da PRIO enfrentou revés em 2024 com poços parados e revela os desafios do offshore nacional.
Durante anos, o campo de Polvo, na Bacia de Campos, foi considerado um ativo maduro e pouco promissor para os planos de longo prazo da Petrobras. Vendido à PRIO em 2015, o campo passou por um verdadeiro renascimento com o uso de tecnologia de tie-back e reconfiguração estratégica. A produção chegou a crescer mais de 20% em determinados ciclos, consolidando o projeto como um dos maiores cases de recuperação da indústria brasileira de óleo e gás.
No entanto, 2024 marcou uma inflexão temporária nessa trajetória de sucesso. A operação sofreu quedas pontuais de produção devido a falhas em poços e dificuldades com licenciamento ambiental, revelando as fragilidades que ainda desafiam o setor offshore no Brasil.
O início da virada: de campo marginal à peça-chave – campo de Polvo
O campo de Polvo, localizado em águas rasas da Bacia de Campos, foi adquirido integralmente pela PetroRio (atualmente PRIO) em 2015. A decisão da petroleira privada foi estratégica: apostar em ativos considerados “descartáveis” pela Petrobras e aplicar uma gestão enxuta, com foco em eficiência e reaproveitamento de infraestrutura.
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O verdadeiro divisor de águas veio em 2021, com a implementação do tie-back entre os campos de Polvo e Tubarão Martelo. Essa interligação permitiu que a produção fosse unificada, reduzindo drasticamente os custos logísticos e operacionais. Como resultado, a produção do cluster aumentou em cerca de 20%, tornando-se uma das operações mais eficientes do offshore nacional.
Além do ganho direto em barris por dia, a integração dos sistemas trouxe benefícios ambientais e reduziu a necessidade de novas plataformas, ampliando a rentabilidade do campo.
2024: queda de produção e os problemas invisíveis do setor
Apesar do sucesso técnico e econômico nos anos anteriores, o ano de 2024 trouxe uma dose de realidade para a operação. Segundo dados da própria PRIO, a produção de abril foi de 71,7 mil boe/d, abaixo do potencial da empresa — uma queda influenciada diretamente por problemas no cluster Polvo + Tubarão Martelo.
Três poços tiveram que ser paralisados devido a falhas nas bombas submersas e atraso no processo de licenciamento ambiental para recompletação dos sistemas. Além disso, o FPSO original do campo Polvo, que já havia sido desmobilizado em 2021, foi vendido em 2024, marcando o fim definitivo de uma era.
Esse cenário escancarou uma realidade recorrente da indústria de óleo e gás no Brasil: a burocracia e lentidão dos processos regulatórios, especialmente no que diz respeito a licenciamento ambiental para intervenção em poços offshore.
Uma pausa, não um retrocesso
É importante destacar que o revés de 2024 não representa um colapso no projeto — mas sim um ajuste temporário. A empresa já sinalizou que está atuando para retomar a operação dos poços parados, e novos investimentos devem ser direcionados para recomposição da curva de produção no segundo semestre do ano.
A PetroRio ainda conta com um portfólio diversificado de ativos como Albacora Leste, Frade e Wahoo, o que reduz sua dependência de Polvo. No entanto, o episódio serve como alerta sobre os riscos operacionais que mesmo campos maduros e estabilizados podem apresentar.
Lições para o setor de petróleo e gás no Brasil
A história do campo de Polvo, desde sua venda pela Petrobras até o cenário atual, é um espelho das transformações que o mercado brasileiro de petróleo vem enfrentando:
- Desinvestimento da Petrobras: campos antes considerados marginais provaram ter potencial quando sob nova gestão.
- Eficiência operacional: empresas privadas conseguiram dobrar a produção com uso inteligente de infraestrutura.
- Desafios regulatórios: a lentidão nos processos ambientais e a dependência de equipamentos críticos ainda são obstáculos reais.
Para o Brasil consolidar sua posição como player relevante no mercado global de óleo e gás, será preciso modernizar regras, facilitar investimentos e garantir maior previsibilidade nos trâmites operacionais.
O que vem a seguir para Polvo
Mesmo com os desafios enfrentados em 2024, a expectativa é que o cluster Polvo + Tubarão Martelo recupere a estabilidade nos próximos trimestres. A PRIO mantém um histórico de reação rápida a eventos operacionais e já provou que sabe extrair valor de campos considerados complexos.
Além disso, há a perspectiva de novos poços serem perfurados, com foco em regiões de bypassed oil (petróleo não drenado), o que pode aumentar significativamente a recuperação final do reservatório.
O mercado segue atento. Afinal, o desempenho do campo de Polvo é mais do que um número de barris por dia — ele representa a capacidade do setor privado de transformar ativos esquecidos em operações sustentáveis, eficientes e rentáveis.