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Após caso Itaú vem à tona o Big Brother de produtividade: softwares já monitoram até toques na barra de espaço e dominam escritórios físicos e remotos

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 29/09/2025 às 18:11
Softwares de produtividade avançam em escritórios e home office. Monitoramento promete eficiência, mas levanta riscos jurídicos e éticos.
Softwares de produtividade avançam em escritórios e home office. Monitoramento promete eficiência, mas levanta riscos jurídicos e éticos.
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Softwares de monitoramento avançaram durante o home office e agora dominam também escritórios presenciais. A prática promete ganhos de produtividade, mas levanta questões jurídicas, éticas e econômicas que estão em debate entre especialistas e empresas.

A demissão de centenas de funcionários do Itaú por alegada baixa produtividade em trabalho remoto, noticiada em setembro, trouxe para o centro do debate um fenômeno que já vinha se consolidando desde a pandemia: o uso de softwares de monitoramento para medir atividade e desempenho, tanto no home office quanto no presencial.

Pesquisas de mercado citadas por consultorias apontam que a maior parte das grandes corporações já adota algum grau de rastreamento digital, e ferramentas mais sofisticadas conseguem registrar desde aberturas de aplicativos até toques de teclado e períodos de inatividade.

Ainda que a promessa seja de eficiência, especialistas ouvidos por fontes do setor alertam para custos financeiros, impactos organizacionais e riscos jurídicos que crescem na mesma velocidade da tecnologia.

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O episódio envolvendo o banco acendeu alertas em departamentos de RH, jurídico e compliance sobre limites, proporcionalidade e transparência na coleta de dados.

Como funciona o monitoramento digital nas empresas

O pacote de ferramentas disponíveis evoluiu rapidamente.

Há softwares capazes de logar cliques, pressionamentos de teclas, tempo de tela ativa, uso de programas corporativos, acessos a e-mails e navegação.

Painéis e dashboards reúnem indicadores em tempo real e alimentam KPIs usados em avaliações e decisões de gestão.

Segundo Paulo Castello, da Fhinck, a principal mudança é que “as empresas passaram a usar dados para tomar decisões mais embasadas”, o que inclui promoções e, em casos extremos, desligamentos.

Essa camada de mensuração não se restringe ao remoto.

“A localização do funcionário não altera a capacidade técnica da empresa de fiscalizar o uso do e-mail corporativo, a navegação na internet ou a utilização de programas de trabalho”, afirma Stephanie Almeida, do Poliszezuk Advogados.

Na avaliação dela, o retorno ao escritório não deve interromper o monitoramento, apenas mudar seu foco.

Custos e impacto econômico da vigilância digital

Além do investimento em cultura e processos, há a fatura mensal de tecnologia.

Licenças de vigilância digital variam, em média, de R$ 50 a R$ 160 por colaborador ao mês, patamar que pesa mais no orçamento de PMEs do que em grandes grupos.

Paralelamente, o mercado global de softwares de produtividade vem expandindo a receita e mantém o segmento de escritório como motor do crescimento, com cifras bilionárias estimadas por plataformas de dados de mercado.

A discussão, porém, não se esgota no preço.

Organizações relatam ganhos de controle e padronização de processos; por outro lado, estudos acadêmicos recentes associam vigilância intensiva a estresse, queda de satisfação e menor autonomia, fatores que podem impactar o desempenho.

Em termos práticos, o dilema é claro: paga-se mais para monitorar, mas nem sempre o retorno vem na forma de eficiência líquida.

O que diz a legislação trabalhista e a LGPD

No direito do trabalho brasileiro, não existe expectativa de privacidade absoluta no ambiente laboral.

O advogado Fábio Monteiro, do Pellegrina e Monteiro, lembra que são possíveis a fiscalização do local, revistas e o controle de meios telemáticos, como e-mails e celulares profissionais.

“Outros países, como Portugal, incorporaram suas legislações de proteção de dados aos códigos trabalhistas, o que não ocorreu ainda no Brasil”, afirma.

A LGPD impõe balizas.

Fábio Chong de Lima, do L.O. Baptista, recomenda que a empresa forneça os equipamentos, para que o monitoramento se restrinja a dispositivos corporativos e siga três pilares: finalidade legítima, transparência e necessidade.

A coleta não pode acessar mensagens privadas ou dados alheios ao trabalho sem base legal, e monitorar áudio ou vídeo no domicílio do colaborador é considerado altamente intrusivo.

Nos tribunais, ainda falta jurisprudência consolidada sobre a extensão do controle.

Exageros podem resultar em indenização por danos morais, ações trabalhistas e questionamentos com base na LGPD.

Em paralelo, no exterior, há movimentos de regulação mais explícitos: Nova York exige notificação formal aos empregados sobre práticas de monitoramento, e autoridades europeias reforçam exigências de transparência, minimização e avaliação de impacto.

O teletrabalho como extensão do ambiente laboral

Do ponto de vista jurídico, o teletrabalho é extensão do meio ambiente laboral.

Cabe ao empregador fornecer ferramentas e estabelecer regras claras por contrato ou política interna.

Monteiro pontua que as métricas de produtividade são passíveis de acompanhamento, desde que restritas ao contexto de trabalho.

Em caso de abuso, o empregado pode solicitar acesso aos dados, contestar metodologias, acionar sindicato e buscar a Justiça do Trabalho.

Para a advogada Stephanie Almeida, três princípios devem nortear qualquer política:

  • Finalidade claramente definida.
  • Proporcionalidade na técnica usada.
  • Transparência com termo de ciência ou aditivo contratual.

Sem comunicação prévia, o dado pode ser inutilizado como prova e gerar passivo.

Como o trabalhador deve se proteger

Regra básica: equipamento corporativo para fins corporativos.

O primeiro passo é conhecer a política interna e agir com a ciência de que a atividade em dispositivos da empresa pode ser fiscalizada.

Em caso de percepção de violação de privacidade ou coleta excessiva, a orientação é guardar evidências, procurar assistência jurídica e, se houver, dialogar via representante sindical.

Governança e ética no uso da tecnologia

Especialistas em gestão defendem tirar o tema do campo estritamente técnico.

Para Sérvulo Mendonça, da holding SM, o monitoramento precisa alinhar compliance, LGPD e ética.

O ponto crítico, diz ele, é se o colaborador foi informado e como os dados são usados.

A psicóloga Daniele Marques, da Protagonist, vê uma maturidade maior no uso de dashboards e indicadores, mas avalia que o sucesso depende de combinar dados com uma interface humana, transformando métricas em feedbacks objetivos e práticas de desenvolvimento.

Riscos técnicos e ameaças internas

A superfície de ataque não é teórica.

Incidentes internos continuam relevantes, e especialistas estimam que uma parcela importante das violações decorre de funcionários, terceirizados ou executivos, por dolo, erro ou negligência.

No Brasil, o custo médio de uma violação alcançou R$ 7,19 milhões em estudos recentes, pressionando organizações a reforçar controles, inclusive nos processos de desligamento.

“Sem planos de transição e monitoramento adequado, quem sai pode se tornar ameaça latente”, afirma Thiago Guedes, da DeServ.

Casos de alta repercussão envolvendo fraudes com Pix e suposta participação de insiders ilustram a zona cinzenta entre erro humano e má-fé.

O recado para as empresas é duplo: calibrar o monitoramento para mitigar risco sem cruzar a linha da invasão de privacidade.

O impacto do caso Itaú na cultura corporativa

O episódio do Itaú virou símbolo de uma nova disputa corporativa: como medir desempenho sem reduzir trabalho a telemetria de cliques e teclas.

Para o headhunter Diego Rondon, o recado é que a “era da ingenuidade” sobre presença e visibilidade acabou, mas produtividade requer ambiente, clareza e autonomia.

Sem isso, diz ele, a confiança se corrói e as organizações perdem gente boa justamente quando precisam reter talentos.

A questão, portanto, deixa de ser se a tecnologia pode monitorar e passa a ser como e para quê monitorar.

Com regras públicas, métricas aderentes à função e governança efetiva, empresas tendem a reduzir a litigiosidade e maximizar benefícios.

Falta responder a uma pergunta que o caso escancarou: é possível escalar o uso de dados para gestão sem minar a confiança que sustenta a produtividade de longo prazo?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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