Tesla perde força nos EUA: entregas caem, market share é o menor desde 2017 e guerra de preços ameaça margens e liderança de Elon Musk.
A Tesla construiu uma reputação de pioneira no mercado de carros elétricos, transformando-se no grande símbolo da transição energética mundial. Durante anos, a marca de Elon Musk liderou com folga as vendas de EVs nos Estados Unidos, impondo respeito aos concorrentes tradicionais e às novas startups. Mas em 2025, o cenário mudou radicalmente: a participação de mercado da Tesla no mercado americano caiu ao menor nível desde 2017, enquanto as entregas decepcionam e a guerra de preços corrói margens e confiança de investidores.
A queda nas entregas
Após anos de crescimento acelerado, a Tesla registrou uma queda significativa nas entregas globais e, especialmente, no mercado norte-americano. Analistas apontam que 2025 deve marcar o segundo ano consecutivo de retração, algo inédito na trajetória recente da companhia.
Nos EUA, o volume de vendas recuou em meio a dois fatores: a saturação da linha atual, composta principalmente por Model 3 e Model Y, e a chegada de rivais mais baratos e modernos, muitos vindos da China.
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Até mesmo no segmento premium, a Tesla perdeu fôlego diante de concorrentes alemães como Mercedes, BMW e Audi, que ampliaram sua oferta de elétricos de luxo.
Market share no menor nível desde 2017
De acordo com dados do setor, a Tesla responde hoje por pouco mais de 40% das vendas de elétricos nos EUA, contra mais de 60% em 2020.
Essa queda de 20 pontos percentuais em apenas cinco anos representa um baque histórico, colocando a empresa no patamar mais baixo desde 2017.
O recuo não significa que a Tesla vende pouco em números absolutos, mas que a concorrência cresceu em ritmo mais acelerado. Enquanto a empresa ainda depende de dois modelos que já acumulam anos no mercado, rivais lançaram SUVs, sedãs e até picapes elétricas em diferentes faixas de preço.
A guerra de preços que corrói margens
Para tentar segurar sua fatia de mercado, a Tesla entrou em uma verdadeira guerra de preços a partir de 2023. Reduções agressivas nos valores do Model 3 e do Model Y, em alguns casos chegando a 20% do preço original, ajudaram a manter o volume de vendas.
Mas o custo dessa estratégia foi alto: as margens de lucro, que já chegaram a ser referência no setor, encolheram drasticamente.
Relatórios recentes mostram que a rentabilidade da Tesla atingiu o menor nível em anos. A pressão aumenta porque a empresa precisa continuar investindo pesado em novas fábricas, baterias e desenvolvimento de produtos, ao mesmo tempo em que vende carros com margens cada vez menores.
A pressão da concorrência chinesa
Se nos Estados Unidos a Tesla já sente a aproximação de rivais locais, na China a situação é ainda mais desafiadora. O país asiático é o maior mercado de elétricos do mundo e se tornou palco da ascensão da BYD, hoje a maior fabricante global de EVs em volume.
A BYD não apenas ultrapassou a Tesla em vendas totais, mas também lançou modelos em segmentos variados — de compactos urbanos de menos de US$ 10 mil, como o Seagull, a sedãs e SUVs premium. Essa diversidade de portfólio tornou a marca chinesa imbatível em escala, minando a posição da Tesla como líder isolada.
A falta de novidades pesa
Um dos maiores problemas para a Tesla é a ausência de novos modelos de alto volume. O Cybertruck, lançado com enorme expectativa, enfrenta problemas de produção e críticas pelo preço elevado, tornando-se mais um produto de nicho do que um líder de vendas.
Já o Semi e o Roadster continuam restritos a mercados específicos e não têm impacto massivo nas estatísticas.
Enquanto isso, o Model 3 e o Model Y, responsáveis por mais de 80% das vendas da Tesla, envelhecem diante de rivais que oferecem mais tecnologia embarcada, interiores refinados e preços competitivos.
O futuro da liderança de Elon Musk
A crise da Tesla não é apenas de vendas e margens, mas também de imagem. Elon Musk sempre foi visto como visionário e comunicador nato, capaz de atrair investidores e consumidores com promessas ousadas. Mas nos últimos anos, sua atenção dividida entre diferentes negócios — de redes sociais a exploração espacial — gerou dúvidas sobre o foco na Tesla.
Investidores pressionam por mais clareza na estratégia, especialmente sobre novos lançamentos e prazos de produtos anunciados.
A liderança de Musk continua sendo uma das maiores forças da marca, mas também se tornou um ponto de vulnerabilidade.
O desafio de se reinventar
Para recuperar espaço, a Tesla terá que se reinventar em três frentes principais:
- Portfólio — lançar novos modelos de alto volume para diversificar além de Model 3 e Model Y.
- Tecnologia — avançar em baterias de próxima geração e no desenvolvimento do tão prometido carro elétrico acessível de US$ 25 mil.
- Rentabilidade — equilibrar guerra de preços com manutenção de margens, evitando que os cortes corroam o futuro financeiro da empresa.
Tesla viveu anos de glória como líder incontestável dos carros elétricos
A Tesla viveu anos de glória como líder incontestável dos carros elétricos, mas em 2025 a realidade é outra: entregas em queda, market share no menor nível desde 2017 e margens em declínio. A guerra de preços pode garantir sobrevida no curto prazo, mas ameaça a sustentabilidade de longo prazo.
O que está em jogo não é apenas a rentabilidade de uma empresa, mas o próprio mito de Elon Musk como líder da revolução elétrica.
A Tesla precisa provar que ainda é capaz de inovar e surpreender, ou corre o risco de ser lembrada como a pioneira que perdeu a coroa quando os concorrentes finalmente chegaram.