Depois quatro décadas de promessas políticas e obras paralisadas, a monumental ponte sobre o Rio Paraíba do Sul foi finalmente entregue com a promessa de alterar profundamente a logística, o turismo e o crescimento econômico de duas cidades no Norte Fluminense.
A Ponte da Integração Deputado João Peixoto, que liga os municípios de São João da Barra e São Francisco de Itabapoana, no Norte Fluminense, foi finalmente inaugurada após mais de quatro décadas de promessas, paralisações e expectativas frustradas.
Considerada uma das obras mais aguardadas do estado do Rio de Janeiro, a estrutura sobre o Rio Paraíba do Sul tem 1.344 metros de extensão e representa um marco histórico para a região.
A inauguração ocorreu no começo deste ano com presença de autoridades estaduais e municipais.
-
Weg aposta R$ 160 milhões no ES. O que está por trás desse investimento milionário?
-
O segredo das ‘estradas submersas’ do Ceará não é a maré
-
Entrou em vigor nesse mês: Estado aprova salário mínimo regional até R$ 2.267, um dos maiores do Brasil
-
Isolado há décadas, Jalapão só agora iniciou a construção de um novo aeroporto para atender turistas e moradores
O governador Cláudio Castro destacou a importância da entrega, ressaltando que a ponte “representa uma mudança real na vida das pessoas, com impacto direto na mobilidade, na economia e na logística regional”.
A obra recebeu investimento de R$ 291 milhões do Governo do Estado, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ).
Com pista dupla nos dois sentidos e uma passarela para pedestres, a ponte foi projetada para suportar tráfego pesado, principalmente de caminhões ligados ao agronegócio e ao transporte industrial.
A previsão é de que mais de 2.300 veículos circulem diariamente por ela. Além disso, a nova ligação rodoviária deve reduzir em até 80 quilômetros o trajeto entre as cidades e o acesso à BR-101.
Ponte da Integração: uma espera de décadas
O projeto enfrentou inúmeros obstáculos desde os anos 1980. Ao longo dos anos, diversos governadores anunciaram a retomada da construção, mas a obra foi paralisada várias vezes por falta de recursos, entraves ambientais e crises políticas.
A retomada definitiva aconteceu apenas em 2020, após uma reestruturação do orçamento estadual.
Além da travessia principal, também estão previstas melhorias nos acessos viários: a RJ-196, que liga a ponte ao município de São Francisco, e a RJ-194, que se conecta ao Distrito Industrial de Campos dos Goytacazes.
O presidente do DER-RJ, Pedro Henrique Ramos, afirmou que “essas vias complementares são fundamentais para que a ponte cumpra seu papel de integração logística e social”.
A obra foi batizada em homenagem ao deputado estadual João Peixoto, falecido em 2020, que por décadas atuou como defensor da construção.
Peixoto representou o Norte Fluminense na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e foi responsável por diversas articulações para garantir a continuidade do projeto.
Durante a cerimônia, o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, lembrou o papel do parlamentar: “Foi graças à persistência de João Peixoto que essa ponte não foi esquecida”.
Engenharia e mobilidade
A ponte, além de ser uma estrutura robusta, exigiu soluções técnicas de grande porte.
Para vencer o Rio Paraíba do Sul, os engenheiros cravaram 35 pilares com estacas profundas, algumas passando de 20 metros.
O uso de tabuleiros pré-moldados permitiu acelerar a montagem da ponte, reduzindo o tempo de execução da obra.
A logística de transporte foi feita em parte por balsas sobre o próprio rio.
Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a ponte deve beneficiar diretamente cerca de 1 milhão de pessoas.
A expectativa é de que facilite o escoamento da produção agrícola, amplie o acesso ao Porto do Açu e fomente o turismo regional.
Municípios como São Francisco de Itabapoana, que historicamente tiveram dificuldades de acesso, passam a integrar de maneira mais efetiva o eixo econômico do Norte Fluminense.
Durante a inauguração, também foi anunciada a criação de uma base integrada de segurança na ponte, com atuação conjunta da Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e guardas municipais.
A estrutura incluirá câmeras de monitoramento e pontos de apoio para operações, aumentando a fiscalização e a segurança no trecho.
Repercussão regional e próximos passos para a Ponte da Integração
No entorno da ponte, comerciantes e moradores celebraram a conclusão da obra.
Em São João da Barra, setores ligados à construção civil, transporte e turismo já reportam aumento na procura por imóveis e serviços.
Em São Francisco de Itabapoana, agricultores apontam ganho logístico significativo, com redução no tempo de transporte até centros de abastecimento.
Apesar da entrega, o projeto ainda não está completamente finalizado. As obras nos acessos da RJ-194 e da RJ-196 seguem em andamento.
Além disso, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, sugeriu a construção de uma variante que desvie o tráfego pesado do centro da cidade.
O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, respondeu que “mudanças de traçado neste momento poderiam causar impugnações no Tribunal de Contas”, mas que o governo está aberto a estudar soluções alternativas.
A ponte também assume papel estratégico em momentos de emergência. Em anos anteriores, enchentes e colapsos de balsas interromperam o acesso entre os municípios, deixando comunidades inteiras isoladas.
Com a nova travessia permanente, a resposta a desastres naturais pode ser mais rápida e eficaz.
O Norte Fluminense, historicamente preterido em grandes investimentos, vê na Ponte da Integração uma chance de reposicionamento econômico.
Além da logística, a obra fortalece o sentimento de pertencimento de duas cidades que, embora separadas por um rio, compartilham laços culturais e familiares.