Morte de Francisco abre caminho para novo conclave e reacende debate sobre representatividade no papado
O Papa Francisco faleceu aos 88 anos na manhã desta segunda-feira, 21 de abril, conforme comunicado oficial da Igreja Católica. A morte foi confirmada às 2h35, no horário de Brasília, ou 7h35 da manhã, na Itália. Ele ocupava o cargo desde 2013 e pereceu após sofrer um grave acidente vascular cerebral.
A informação foi divulgada pelo jornal italiano Corriere della Sera, com base em fontes internas da Santa Casa.
Francisco enfrentava sérios problemas de saúde nos últimos meses. Com sua morte, inicia-se um novo conclave — nome dado ao processo de escolha do novo líder da Igreja Católica.
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A eleição acontece de forma fechada, com a participação exclusiva dos cardeais aptos a votar, todos com menos de 80 anos. A escolha do próximo papa reacende uma dúvida histórica: já houve algum papa negro?
Papas africanos na história da Igreja
A Igreja Católica já teve três papas africanos em seus mais de 2 mil anos de existência. O primeiro foi Vítor I, que ocupou o cargo entre os anos de 189 e 198.
Em seguida, veio Melquíades, que foi papa de 311 a 314. O último deles foi Gelásio I, que liderou a Igreja entre 492 e 496. Todos assumiram num período em que o norte da África tinha forte influência na cristandade.
Alexandria, Cartago e Hipona eram centros religiosos importantes e próximos à Itália, facilitando o intercâmbio.
O bispo Zeno Hastenteufel, especialista em história da Igreja e autor de diversos livros, explica que havia uma conexão intensa entre a Itália e o norte da África até o século V.
Cargos de liderança eram ocupados por homens dessas regiões, incluindo o papado. No entanto, segundo o bispo, esses papas africanos não eram negros.
Origens étnicas e representação simbólica
Embora fossem originários da África, os papas citados não tinham traços definidos como negros. A região era composta por uma diversidade étnica e, segundo estudiosos, é provável que fossem mestiços — o que hoje, no Brasil, poderia ser classificado como pardos. No entanto, não há registros visuais confiáveis da época.
O teólogo Fernando Altemeyer, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destaca que os primeiros papas só foram retratados séculos depois de suas mortes. Por isso, as imagens conhecidas não passam de representações simbólicas, sem compromisso com a realidade física das figuras históricas.
Desde então, a liderança da Igreja Católica foi quase sempre europeia. Dos 269 papas já eleitos, 212 foram italianos. A eleição de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, marcou uma exceção: ele foi o primeiro pontífice vindo da América Latina.
Francis Arinze: o cardeal que chegou perto
O homem que mais se aproximou de se tornar o primeiro papa negro na história moderna da Igreja foi o cardeal nigeriano Francis Arinze. Em 2013, quando o Papa Bento XVI renunciou ao cargo, Arinze foi cotado como um dos favoritos ao papado. Na ocasião, ele já acumulava décadas de experiência no Vaticano.
Arinze nasceu na Nigéria, em novembro de 1932. Foi batizado aos nove anos, após ter vivido sua infância em uma religião tradicional africana. Em 1955, viajou para Roma para estudar teologia. Formou-se com mestrado e doutorado pela Pontifícia Universidade Urbana e foi ordenado sacerdote em 1958.
Com somente 32 anos, tornou-se o bispo católico romano mais jovem do mundo, em 1965. Durante sua atuação como arcebispo, enfrentou a guerra civil nigeriana e viveu como refugiado.
Mesmo assim, continuou prestando serviços religiosos à população. Sua dedicação chamou a atenção do Papa João Paulo II.
Trajetória dentro do Vaticano
Reconhecido por seu trabalho junto a muçulmanos em situações precárias, Arinze foi nomeado pró-presidente do Secretariado do Vaticano para os Não Cristãos em 1979.
Anos depois, assumiu o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Em 1984, foi escolhido por unanimidade como presidente da Conferência dos Bispos da Nigéria.
Quando o Papa João Paulo II faleceu, em 2005, Arinze voltou a ser considerado um nome forte para assumir o trono de São Pedro. No entanto, o escolhido foi o cardeal alemão Joseph Ratzinger, que se tornou o Papa Bento XVI.
Após o conclave, Arinze continuou exercendo funções no Vaticano. Ele foi prefeito da Congregação para o Culto Divino e, mais tarde, nomeado cardeal bispo de Velletri-Segni. Hoje, com 92 anos, já ultrapassou a idade máxima para participar de um novo conclave e não pode mais ser eleito papa.
Novo conclave definirá futuro da Igreja
Com a morte de Francisco, a Igreja Católica se prepara para eleger um novo pontífice. Enquanto isso, o nome de Francis Arinze permanece como um símbolo de representatividade que quase se concretizou.
Seu legado ainda é lembrado nas discussões sobre diversidade e inclusão no comando da Igreja. A história, agora, aguarda os próximos passos.
Com informações de Aventuras na História.