Incluída como prioridade no Novo PAC, obra que acabaria com o isolamento histórico do Amapá continua sem avanços visíveis no canteiro em 2025, alimentando o ceticismo de mais de duas décadas.
A promessa de conectar o Amapá, único estado brasileiro ainda isolado por via terrestre, ao restante do país vive um capítulo de incerteza em julho de 2025. A aguardada ponte sobre o Rio Jari, na Amazônia brasileira, com 406 metros de extensão, foi incluída como obra estratégica no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, a realidade no local contrasta com o planejamento: o canteiro de obras permanece parado, e a pergunta que ecoa na região há mais de 20 anos ganha força: o projeto, de fato, sairá do papel?
Amapá deixa de ser uma ‘Ilha’ terrestre?
Mesmo em pleno 2025, a geografia ainda impõe ao Amapá a dura realidade de uma ilha. Cercado por barreiras hídricas como o Rio Jari ao sul e a colossal foz do Amazonas a leste, o estado mantém sua dependência quase total dos transportes aéreo e fluvial — mais lentos, mais caros e menos eficientes.
Essa logística precária perpetua o chamado “custo Amapá”, um fardo diário que inflaciona os preços de alimentos e insumos para toda a população. Para agravar, a principal artéria interna, a BR-156, segue com trechos sem pavimentação. É nesse cenário que a ponte sobre o Rio Jari deixa de ser apenas uma obra para se tornar o símbolo da solução. A paralisia do projeto em 2025, portanto, não é apenas um atraso, mas a persistência diária de um isolamento que a engenharia já prometeu superar.
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Um histórico de atrasos e desvios
A trajetória da ponte é longa e conturbada. Iniciada entre 2001 e 2002, a obra sofreu com falhas de governança e inúmeras paralisações. A responsabilidade inicial era da Prefeitura de Laranjal do Jari (AP), que tinha capacidade técnica e financeira limitada para um projeto dessa magnitude.
O histórico inclui graves indícios de corrupção. Em 2016, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou o desvio de mais de R$ 15 milhões. Antes disso, em 2009, a Controladoria-Geral da União (CGU) já havia apontado irregularidades. Após mais de duas décadas e o consumo de R$ 21 milhões, surpreendentemente apenas 39% da obra foi concluída. O resultado são pilares de concreto abandonados e deteriorados no meio do Rio Jari.
A retomada pelo novo PAC
A inclusão da ponte no Novo PAC representa uma mudança de estratégia. A responsabilidade pela obra foi centralizada no Governo Federal, sob a gestão do Ministério dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Essa medida busca superar os entraves que paralisaram o projeto por tanto tempo.
A obra faz parte de um plano maior, a “Rota de Integração 01 para o Amapá”, que prevê R$ 28,6 bilhões em investimentos no estado. O cronograma do governo federal é ambicioso, com a previsão de conclusão da ponte e de toda a rota para o final de 2026.
O que muda para mais de 500 mil pessoas?
A conclusão da ponte é vista como a “espinha dorsal” para o desenvolvimento do Amapá. Ela criará a primeira saída terrestre para o escoamento de produtos como açaí e castanha-do-pará, reduzindo custos de frete e tornando a produção local mais competitiva. Para a população, a obra facilitará o acesso a serviços de saúde e educação em outros estados.
O progresso, contudo, gera desafios. A nova estrutura tornará obsoleto o serviço de balsas e “catraias” que hoje fazem a travessia do rio. Isso representa uma ameaça direta à fonte de renda de dezenas de famílias. É fundamental a criação de políticas de transição para esses trabalhadores, evitando que o desenvolvimento de muitos aconteça à custa de alguns.
Desafios ambientais na Amazônia brasileira
A construção acontece em um ecossistema fluvial da Amazônia brasileira que já sofre pressão de grandes projetos, como a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio do Jari. Os riscos ambientais da obra da ponte incluem erosão das margens, assoreamento do leito do rio e contaminação da água.
Por ser uma obra em rodovia federal na divisa de dois estados, o licenciamento ambiental deve ser conduzido pelo IBAMA. O processo exige um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório (RIMA). O maior desafio é garantir que a pressão política para cumprir o prazo de 2026 não leve a um licenciamento apressado, ignorando os reais impactos e as medidas de mitigação necessárias.