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Após 20 anos, a ponte na Amazônia brasileira que promete conectar o último estado isolado sairá de fato do papel?

Escrito por Carla Teles
Publicado em 06/07/2025 às 20:39
Após 20 anos, a ponte na Amazônia brasileira que promete conectar o último estado isolado sairá de fato do papel?
Prometida no Novo PAC, a ponte que acabaria com o isolamento do Amapá na Amazônia continua parada em 2025. Entenda o impasse e a história de um projeto de 20 anos. Imagem: Canal Urbana
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Incluída como prioridade no Novo PAC, obra que acabaria com o isolamento histórico do Amapá continua sem avanços visíveis no canteiro em 2025, alimentando o ceticismo de mais de duas décadas.

A promessa de conectar o Amapá, único estado brasileiro ainda isolado por via terrestre, ao restante do país vive um capítulo de incerteza em julho de 2025. A aguardada ponte sobre o Rio Jari, na Amazônia brasileira, com 406 metros de extensão, foi incluída como obra estratégica no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, a realidade no local contrasta com o planejamento: o canteiro de obras permanece parado, e a pergunta que ecoa na região há mais de 20 anos ganha força: o projeto, de fato, sairá do papel?

Amapá deixa de ser uma ‘Ilha’ terrestre?

Mesmo em pleno 2025, a geografia ainda impõe ao Amapá a dura realidade de uma ilha. Cercado por barreiras hídricas como o Rio Jari ao sul e a colossal foz do Amazonas a leste, o estado mantém sua dependência quase total dos transportes aéreo e fluvial — mais lentos, mais caros e menos eficientes.

Essa logística precária perpetua o chamado “custo Amapá”, um fardo diário que inflaciona os preços de alimentos e insumos para toda a população. Para agravar, a principal artéria interna, a BR-156, segue com trechos sem pavimentação. É nesse cenário que a ponte sobre o Rio Jari deixa de ser apenas uma obra para se tornar o símbolo da solução. A paralisia do projeto em 2025, portanto, não é apenas um atraso, mas a persistência diária de um isolamento que a engenharia já prometeu superar.

Um histórico de atrasos e desvios

A trajetória da ponte é longa e conturbada. Iniciada entre 2001 e 2002, a obra sofreu com falhas de governança e inúmeras paralisações. A responsabilidade inicial era da Prefeitura de Laranjal do Jari (AP), que tinha capacidade técnica e financeira limitada para um projeto dessa magnitude.

O histórico inclui graves indícios de corrupção. Em 2016, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou o desvio de mais de R$ 15 milhões. Antes disso, em 2009, a Controladoria-Geral da União (CGU) já havia apontado irregularidades. Após mais de duas décadas e o consumo de R$ 21 milhões, surpreendentemente apenas 39% da obra foi concluída. O resultado são pilares de concreto abandonados e deteriorados no meio do Rio Jari.

A retomada pelo novo PAC

A inclusão da ponte no Novo PAC representa uma mudança de estratégia. A responsabilidade pela obra foi centralizada no Governo Federal, sob a gestão do Ministério dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Essa medida busca superar os entraves que paralisaram o projeto por tanto tempo.

A obra faz parte de um plano maior, a “Rota de Integração 01 para o Amapá”, que prevê R$ 28,6 bilhões em investimentos no estado. O cronograma do governo federal é ambicioso, com a previsão de conclusão da ponte e de toda a rota para o final de 2026.

O que muda para mais de 500 mil pessoas?

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A conclusão da ponte é vista como a “espinha dorsal” para o desenvolvimento do Amapá. Ela criará a primeira saída terrestre para o escoamento de produtos como açaí e castanha-do-pará, reduzindo custos de frete e tornando a produção local mais competitiva. Para a população, a obra facilitará o acesso a serviços de saúde e educação em outros estados.

O progresso, contudo, gera desafios. A nova estrutura tornará obsoleto o serviço de balsas e “catraias” que hoje fazem a travessia do rio. Isso representa uma ameaça direta à fonte de renda de dezenas de famílias. É fundamental a criação de políticas de transição para esses trabalhadores, evitando que o desenvolvimento de muitos aconteça à custa de alguns.

Desafios ambientais na Amazônia brasileira

A construção acontece em um ecossistema fluvial da Amazônia brasileira que já sofre pressão de grandes projetos, como a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio do Jari. Os riscos ambientais da obra da ponte incluem erosão das margens, assoreamento do leito do rio e contaminação da água.

Por ser uma obra em rodovia federal na divisa de dois estados, o licenciamento ambiental deve ser conduzido pelo IBAMA. O processo exige um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório (RIMA). O maior desafio é garantir que a pressão política para cumprir o prazo de 2026 não leve a um licenciamento apressado, ignorando os reais impactos e as medidas de mitigação necessárias.

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Gloria de Castro
Gloria de Castro
25/09/2025 20:32

Quando é que vão finalmente construir a ponte sobre o Rio Jari, que unirá Amapá ao resto do Brasil, de meros 406 metros de extensão ?

Vamos do Amapá à Guiana Francesa pela linda ponte Ponte Binacional Franco-Brasileira, que liga as cidades de Oiapoque (Amapá, Brasil) e São Jorge do Oiapoque (Guiana Francesa) através do Rio Oiapoque, constituindo a única fronteira terrestre entre o Brasil e o território francês (inaugurada em 2017), mas não vamos do Amapá ao Pará e, consequentemente, ao resto do Brasil.

Vai entender este ministério dos transportes brasileiro !?!?!?!?!?!?!?!?

Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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