Josielly Figuêredo, aos 19 anos, garante que o nome da capital piauiense seja gravado permanentemente no mapa oficial do Sistema Solar como asteroide (792972).
A ciência brasileira celebra um marco de credibilidade e inspiração: um corpo celeste foi oficialmente batizado com o nome de uma cidade do país. O objeto, antes conhecido pela designação provisória 2023 QY16, agora possui o registro permanente de asteroide (792972) Teresina. A responsável por inscrever a capital piauiense no mapa do cosmos foi Josielly Figuêredo, uma estudante de Física da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que tinha apenas 19 anos na época da concretização do feito.
Este feito, que pode parecer um simples ato de nomeação, é na realidade o resultado de uma complexa rede de ciência cidadã, análise humana e mecânica astronômica precisa. A história do asteroide Teresina entrelaça a dedicação de uma jovem cientista, o poder da colaboração global e a forma como a astronomia moderna mapeia o universo. A protagonista, Josielly Figuêredo, não apenas levou o nome de sua capital aos céus, mas também demonstrou o potencial da ciência feita por estudantes brasileiros em programas de observação globais.
A jovem astrônoma que nomeou o asteroide
A figura central desta conquista é Josielly Figuêredo Do Rêgo Leite Sousa, natural de União, Piauí, e aluna do curso de Física na UFPI. Sua escolha de nomear o corpo celeste como Teresina não foi casual, mas o culminar de um profundo e consistente envolvimento com a astronomia, iniciado na infância, motivada por documentários e pelos estudos sobre o universo.
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A estudante transformou seu interesse precoce em ação concreta através de programas de ciência cidadã. Aos 15 anos, Josielly já havia detectado cinco asteroides, mostrando um histórico de talento e dedicação à observação prática. O feito crucial que lhe rendeu o direito de nomeação veio através de sua participação no programa “Caça Asteroides”, a iniciativa brasileira ligada ao International Astronomical Search Collaboration (IASC). O IASC é um programa global que oferece dados astronômicos brutos — imagens de telescópios, para que voluntários e estudantes analisem e busquem por novos corpos celestes.
Josielly consolidou seu papel na comunidade científica ao ser creditada pela detecção de outros asteroides provisórios, como o 2022 QA131 e o 2022 SP47. Ela também atua como Embaixadora Oficial da International Astronomy and Astrophysics Competition (IAAC). Essa trajetória demonstra que a oportunidade de nomear o asteroide foi conquistada através de anos de trabalho voluntário não remunerado e meticulosa análise de imagens.
Desvendando a descoberta: O processo de linkage
A parte mais técnica e detalhada desta história é entender como, na prática, o asteroide (792972) Teresina foi “descoberto” e nomeado. Enquanto reportagens celebram a “conquista inédita” de Josielly, os registros oficiais internacionais, mantidos por órgãos como o Minor Planet Center (MPC) da Universidade de Harvard, indicam que o objeto foi originalmente observado em 10 de dezembro de 2014, pelo Mount Lemmon Survey.
Essa aparente contradição não é um erro, mas ilustra a complexidade da astronomia moderna. A “descoberta” de asteroides hoje é um processo de coleta de dados em camadas, chamado linkage (ligação):
- Descoberta Original (2014): Os telescópios robóticos do Mount Lemmon Survey, no Arizona (EUA), registraram o objeto.
- Observação de Confirmação (2023): Quase uma década depois, o asteroide foi capturado novamente, recebendo a designação provisória 2023 QY16.
- O Papel Crucial de Josielly: Como participante do programa “Caça Asteroides”, Josielly estava analisando imagens de outro telescópio (o Pan-STARRS, no Havaí). Sua “detecção” consistiu em identificar o objeto 2023 QY16 nessas novas imagens.
- A Ligação no MPC: O MPC usou software sofisticado para conectar as novas observações (relatadas por Josielly/IASC) com as antigas de 2014. Essa ligação permitiu calcular uma órbita estável, confirmando que se tratava de um único corpo celeste.
Graças à sua observação de recuperação, que foi fundamental para resgatar o asteroide do limbo dos objetos perdidos, o objeto recebeu um número permanente: (792972). Por cortesia profissional e reconhecimento de sua contribuição vital para o processo de confirmação, o Mount Lemmon Survey cedeu o direito de nomeação à jovem cientista piauiense, que escolheu homenagear sua capital.
O processo burocrático de nomeação: Permanência eterna
O nome (792972) Teresina não é um apelido, mas um registro científico formal. Isso se deve ao processo rigoroso e oficial da União Astronômica Internacional (IAU), que garante a seriedade e a permanência do registro astronômico.
Após o asteroide receber um número permanente (a numeração 792972), o descobridor oficial (ou seu representante, neste caso, Josielly) ganha o direito de sugerir um nome. Josielly propôs “Teresina” e uma breve citação explicando a escolha. A proposta foi submetida ao Working Group for Small Bodies Nomenclature (WGSBN) da IAU, que revisa o nome para garantir que siga todas as diretrizes.
A nomeação foi oficialmente publicada no boletim oficial do grupo, o WGSBN Bulletin, em 2025. O registro “(792972) Teresina = 2023 QY16” formaliza o nome. É esse processo burocrático que confere peso científico e garante que o nome de Teresina seja indexado no JPL Small-Body Database e reconhecido por toda a comunidade astronômica mundial.
Retrato técnico do objeto
Para a comunidade astronômica, o asteroide (792972) Teresina é agora um objeto catalogado com um perfil orbital bem definido. O corpo celeste reside no Cinturão Principal de Asteroides, uma vasta região de rochas localizada entre as órbitas dos planetas Marte e Júpiter.
Especificamente, ele é classificado como “MBA (inner)”, o que indica que sua órbita se encontra na porção interna do cinturão principal. Com base em seu brilho (magnitude absoluta), os astrônomos estimam que o diâmetro de (792972) Teresina seja de aproximadamente 1.4 quilômetros.
| Parâmetro | Valor |
| Designação Permanente | (792972) Teresina |
| Data da Descoberta | 10 de dezembro de 2014 |
| Descobridor Oficial | Mount Lemmon Survey |
| Diâmetro Estimado | ~1.4 km |
| Classificação Orbital | Asteroide do Cinturão Principal (Interior) |
O legado de (792972) Teresina
A história do asteroide (792972) Teresina transcende a curiosidade e serve como um paradigma da ciência do século XXI: a força bruta de observatórios robóticos combinada com a paixão e o poder de reconhecimento de padrões do cérebro humano, fornecido por cientistas cidadãos como Josielly Figuêredo.
Este caso prova que programas de ciência cidadã, como o “Caça Asteroides”, produzem dados científicos valiosos e contribuem ativamente para o mapeamento do Sistema Solar. O impacto é claro: para a cidade de Teresina, é um lugar permanente e literal no mapa do cosmos. Para o Brasil, é uma história poderosa de inspiração e representatividade. Ela prova que uma jovem estudante de uma universidade federal, movida pela curiosidade e dedicação, pode deixar uma marca indelével nos céus.
Olhe para cima, Teresina agora é também um asteroide. Em algum lugar entre Marte e Júpiter, um pequeno mundo de rocha carrega o nome de uma capital brasileira, um testemunho duradouro da garra e da paixão de uma estudante pela ciência.
O que a conquista de Josielly Figuêredo significa para o futuro da ciência cidadã e o incentivo à astronomia no Brasil? Você acredita que este feito terá um impacto significativo na inspiração de novos cientistas em universidades federais? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem se sente representado por essa marca cósmica.


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