Entenda como a mudança no cálculo de referência do preço do petróleo pode elevar a arrecadação pública e impactar estados e municípios brasileiros
O petróleo continua sendo um dos recursos naturais mais importantes da economia global. No contexto brasileiro, ele representa não apenas uma fonte estratégica de energia, mas também uma das principais bases de arrecadação pública por meio de royalties e participações especiais.
Dessa forma, esses recursos são fundamentais para financiar serviços públicos, viabilizar obras de infraestrutura e apoiar investimentos sociais em todo o país.
Portanto, qualquer alteração na forma de calcular o valor de referência do petróleo impacta diretamente a arrecadação de governos locais e federais.
-
Descoberta de petróleo no pré-sal pela BP gera reações da FUP
-
Petróleo fica estável com sinal de paz e alívio de pressão sobre Rússia
-
Após sucesso da Guiana, outro país sul-americano mira se tornar a próxima potência petrolífera com a descoberta de bacia rica em hidrocarbonetos capaz de gerar mais de 200 mil barris por dia
-
Valmet e Petrobras fecham acordo nacional para fornecimento de peças e suporte técnico
Nesse sentido, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou recentemente uma mudança significativa no cálculo de referência do preço do petróleo. Assim, a nova metodologia tende a elevar a arrecadação pública e aprimorar os critérios de compensação pagos pelas empresas produtoras.
Nova metodologia da ANP começa a valer em setembro de 2025
Em julho de 2025, a diretoria da ANP atualizou a resolução 874 de 2022, que até então orientava o cálculo. Como resultado, a nova regra passa a valer a partir de 1º de setembro de 2025, especialmente para grandes empresas do setor.
Por outro lado, as companhias de pequeno e médio porte continuarão utilizando a fórmula anterior por um período determinado.
Além disso, os efeitos da nova fórmula devem surgir já em novembro de 2025, quando os royalties e as participações especiais forem distribuídos conforme o novo critério.
A partir de então, a ANP poderá ajustar os critérios de cálculo do preço de referência do petróleo com maior flexibilidade, sem depender de uma cesta fixa de tipos de petróleo.
Consequentemente, a agência poderá considerar preços internacionais mais atualizados, o que tende a elevar os valores pagos pelas empresas.
Com isso, a mudança permite que o Brasil acompanhe práticas globais e melhore a competitividade do setor energético nacional.
Por fim, o governo projeta aumento na arrecadação pública, principalmente em Estados e municípios produtores.
O que é o cálculo de referência do preço do petróleo
Para compreender melhor a mudança, é necessário entender que o preço de referência do petróleo (PRP) serve como base para calcular as compensações financeiras que as empresas produtoras devem pagar à União, aos Estados e aos municípios.
Esse valor, portanto, não corresponde diretamente ao preço de venda, mas resulta de um cálculo técnico feito pela ANP.
Nesse cálculo, a agência considera elementos como a cotação internacional do petróleo brent, principal referência global, e aplica um diferencial de qualidade sobre esse valor.
Esse diferencial depende de características específicas do petróleo nacional, como densidade e teor de enxofre, que variam conforme o campo de extração.
Além disso, derivados como gasolina, diesel e óleo combustível também influenciam diretamente no cálculo.
A combinação dessas variáveis busca refletir o valor real do petróleo brasileiro, garantindo um pagamento justo ao poder público.
Da mesma forma, a metodologia leva em conta as condições ambientais e logísticas da cadeia de produção.
Mudanças ambientais internacionais influenciaram a decisão
Sob essa perspectiva, a decisão da ANP está diretamente conectada a normas ambientais internacionais, como a regulamentação IMO 2020, da Organização Marítima Internacional (IMO).
De acordo com essa regra, o teor de enxofre permitido no óleo combustível marítimo foi reduzido de 3,5% para 0,5% em determinadas rotas comerciais, visando à redução dos impactos ambientais do transporte marítimo.
Essa mudança, portanto, afetou diretamente o preço do óleo combustível, um dos produtos usados para calcular o diferencial de qualidade do petróleo brasileiro.
Diante disso, a ANP decidiu incorporar dois padrões de óleo combustível na nova fórmula: um com 0,5% de enxofre e outro com 3,5%, ambos ainda relevantes no mercado internacional.
Assim, cada tipo de óleo entra na conta com peso igual de 50%, o que torna o cálculo mais equilibrado.
A partir desse ajuste, o PRP se aproxima mais da realidade comercial e pode, portanto, aumentar os valores repassados ao setor público.
Dessa maneira, a medida fortalece o alinhamento do Brasil com a agenda global de sustentabilidade no setor energético.
Evolução histórica do cálculo de referência no Brasil
Historicamente, o cálculo de referência do preço do petróleo evoluiu à medida que a indústria petrolífera brasileira cresceu. Até o fim dos anos 1990, a Petrobras detinha o monopólio da exploração de petróleo no país.
Entretanto, com a abertura do mercado e a entrada de empresas privadas, o governo precisou estabelecer regras para garantir que a exploração também beneficiasse a sociedade.
Nesse contexto, a criação da ANP em 1997 marcou o início da regulação independente do setor.
Desde então, a agência passou a definir metodologias para calcular os valores devidos pelas empresas, baseando-se em critérios técnicos e econômicos.
A adoção do PRP surgiu como uma forma de padronizar e dar transparência à arrecadação pública.
Com o tempo, a ANP passou a ajustar as fórmulas de cálculo, justamente para refletir melhor as variações do mercado.
Com a descoberta do pré-sal e o crescimento da produção em águas profundas, novas atualizações se tornaram necessárias.
Agora, o modelo de 2025 amplia esse processo, ao incorporar fatores ambientais, técnicos e econômicos internacionais no cálculo da compensação.
Arrecadação pública deve crescer com nova fórmula
Com a nova fórmula, os Estados e municípios produtores devem experimentar um aumento significativo na arrecadação.
Isso ocorre porque um PRP mais elevado resulta em maiores valores pagos em royalties e participações especiais.
Como consequência, será possível ampliar investimentos em saúde, educação, segurança e infraestrutura pública.
Adicionalmente, cidades produtoras como Macaé (RJ), Santos (SP) e Vitória (ES) poderão experimentar maior estabilidade fiscal.
Essas localidades, que historicamente enfrentam oscilações orçamentárias ligadas ao preço internacional do petróleo, terão arrecadações mais previsíveis e consistentes.
Por outro lado, as empresas do setor precisarão ajustar seus planejamentos financeiros.
Apesar de haver um aumento nos custos, a previsibilidade nas regras e a segurança regulatória podem atrair novos investimentos.
Dessa forma, o ambiente de negócios se torna mais atrativo, favorecendo a modernização e o crescimento do setor.
Equilíbrio entre arrecadação e competitividade
De modo geral, a mudança no cálculo de referência do preço do petróleo representa um avanço importante.
O novo modelo busca equilibrar o interesse público com a competitividade da indústria petrolífera, promovendo justiça fiscal sem prejudicar a atratividade do setor.
Além disso, ao alinhar suas regras com normas internacionais, o Brasil mostra sua capacidade de modernizar a regulação e promover maior eficiência.
Com regras mais claras e coerentes com a realidade de mercado, todos os agentes envolvidos saem ganhando: governo, empresas e sociedade.
Portanto, em um cenário de transição energética global, a atualização metodológica da ANP mostra que é possível conciliar desenvolvimento econômico com responsabilidade ambiental e justiça na distribuição de recursos.
A longo prazo, essa medida pode contribuir para consolidar o papel do Brasil como um player estratégico no setor energético mundial.