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AMACRO, o “novo arco do desmatamento”, tem 454 mil km² e concentrou 76% de toda a devastação no AM, AC e RO (2018-2022)

Escrito por Carla Teles
Publicado em 03/10/2025 às 21:17
AMACRO, o "novo arco do desmatamento", tem 454 mil km² e concentrou 76% de toda a devastação no AM, AC e RO (2018-2022)
Descubra o que é a AMACRO, o “novo arco do desmatamento” na Amazônia que concentrou 76% da devastação em AM, AC e RO. Entenda as causas e os impactos.
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Região de 454 mil km² na divisa de AM, AC e RO, a AMACRO concentrou 76% da derrubada nos três estados entre 2018 e 2022, aponta estudo.

Um novo e alarmante epicentro do desmatamento se consolidou na Amazônia brasileira. Conhecida como AMACRO, uma vasta área de 454 mil km² que abrange 32 municípios na fronteira entre Amazonas, Acre e Rondônia, tornou-se o principal foco de destruição da floresta. De acordo com um estudo detalhado divulgado pela Agência FAPESP em março de 2024, essa região foi responsável por impressionantes 76% de todo o desmatamento registrado nos três estados entre 2018 e 2022, sendo agora considerada o “novo arco do desmatamento”.

A escalada da devastação na AMACRO não é um fenômeno isolado, mas sim o resultado de uma pressão coordenada para a expansão da fronteira agropecuária. O avanço é impulsionado principalmente pela pecuária extensiva, pela especulação de terras e pela grilagem. A dinâmica revela um processo sistêmico que transforma rapidamente a paisagem florestal em pastagens, intensificando conflitos socioambientais e colocando em xeque a capacidade do Estado de proteger territórios e garantir a legalidade na região mais cobiçada do bioma.

O que define o “novo arco do desmatamento”?

O termo AMACRO refere-se a uma zona de planejamento estratégico que, embora proposta com a ideia de desenvolvimento, acabou por sinalizar ao mercado uma nova fronteira para a expansão de commodities. Segundo o estudo da Agência FAPESP, a pressão sobre a região intensificou-se a partir de 2018, coincidindo com o planejamento da Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS) Abunã-Madeira. Essa iniciativa, apelidada de “Matopiba do Norte”, funcionou como um gatilho para a corrida por terras, atraindo grileiros e pecuaristas que vislumbraram uma oportunidade de alta valorização imobiliária e expansão de seus negócios.

A análise geoespacial confirma que essa área não foi escolhida ao acaso. Ela representa a vanguarda da conversão de floresta para uso agropecuário, um processo histórico na Amazônia. Dados do MapBiomas mostram que, entre 1985 e 2020, 99% dos 44,5 milhões de hectares desmatados no bioma foram destinados à agropecuária. Deste total, 86,3% viraram pastagens, evidenciando o papel central da pecuária. A AMACRO é, portanto, o capítulo mais recente e agressivo dessa longa história de substituição da floresta por pasto, consolidando um modelo de ocupação que avança sobre terras públicas e áreas protegidas.

Os vetores da devastação: pecuária e grilagem sistêmica

AMACRO: uma área de 454 mil km² tornou-se o epicentro da devastação na Amazônia. Saiba como a pecuária e a grilagem impulsionam o desmatamento
AMACRO: uma área de 454 mil km² tornou-se o epicentro da devastação na Amazônia. Saiba como a pecuária e a grilagem impulsionam o desmatamento

O principal motor econômico por trás do avanço na AMACRO é a pecuária extensiva, frequentemente associada à grilagem de terras. O processo de apropriação ilegal segue um roteiro bem definido: primeiro, uma área de floresta pública é invadida; em seguida, a vegetação é derrubada e queimada para “limpar” o terreno. Por fim, o invasor introduz o gado e, de forma crucial, cerca todo o perímetro. Esta cerca não serve apenas para conter os animais, mas funciona como uma declaração física de posse e uma “benfeitoria” que será usada futuramente para pleitear o título legal da propriedade.

Essa estratégia transforma um ato criminoso, a invasão e o desmatamento de patrimônio público, em um ativo com aparência de legalidade. A cerca se torna a ferramenta que privatiza, de fato, o que ainda é público por direito, criando “fatos no terreno” que dificultam ações de fiscalização e o reconhecimento de territórios de povos tradicionais. É um ciclo vicioso onde o desmatamento é o meio para a apropriação de terras, e a pecuária é a justificativa econômica para a ocupação, consolidando um modelo predatório que ignora a legislação ambiental e os direitos territoriais.

Conflitos sociais e a fragilidade da lei na fronteira

O avanço da “muralha” do agronegócio sobre a AMACRO inevitavelmente colide com os territórios de povos indígenas, comunidades ribeirinhas e unidades de conservação. A pressão sobre essas áreas protegidas intensifica a violência no campo, um fenômeno que pesquisadores descrevem como “agrobandidagem”: a articulação entre o capital do agronegócio e práticas criminosas para concentrar terras. Nesse cenário, a violência e a intimidação são usadas para expulsar ocupantes tradicionais, e a cerca se torna o símbolo final da expropriação.

A complexidade da situação é agravada pela instabilidade jurídica. Conforme aponta uma publicação do portal do Governo Federal, atualizada pela Funai em agosto de 2025, o órgão enfrenta enormes desafios para a demarcação de terras indígenas. Ameaças legislativas, como a tese do “marco temporal”, criam um ambiente de insegurança que incentiva invasores a avançar sobre territórios ainda não homologados. A atuação da Funai na mediação de conflitos agrários é constante, mas a ausência de uma governança fundiária robusta e a lentidão dos processos demarcatórios deixam as comunidades tradicionais extremamente vulneráveis ao avanço da fronteira agropecuária.

O paradoxo econômico: um investimento de alto custo e baixo retorno?

A consolidação da AMACRO como fronteira agrícola levanta uma questão econômica fundamental: vale a pena? O modelo baseado na pecuária extensiva exige investimentos vultosos em infraestrutura, como a construção de milhares de quilômetros de cercas, para um retorno produtivo relativamente baixo. Ao mesmo tempo, destrói-se um ativo de valor incalculável. O Banco Mundial avalia a riqueza da floresta em pé em US$ 317 bilhões, enquanto o potencial econômico da bioeconomia amazônica, o uso sustentável da biodiversidade, é estimado em R$ 1,3 trilhão por ano até 2050.

O paradoxo se aprofunda quando se observa que parte desse avanço é financiado, direta ou indiretamente, por crédito público e privado. Investigações mostram que fazendas com histórico de desmatamento ilegal e áreas embargadas na Amazônia continuaram a receber crédito rural. Isso revela uma contradição gritante nas políticas públicas: enquanto uma parte do Estado tenta combater o crime ambiental, outra o financia. O capital investido para erguer cercas e derrubar a floresta poderia ser direcionado para modelos regenerativos, como sistemas agroflorestais e a bioeconomia, que geram mais riqueza, empregos de qualidade e mantêm o ecossistema saudável e funcional.

A expansão do agronegócio na Amazônia, como vista na AMACRO, parece seguir um roteiro que já se mostrou destrutivo em outras partes do país. A questão que fica é se este é um caminho inevitável para o desenvolvimento ou um erro estratégico com custos ambientais, sociais e econômicos impagáveis a longo prazo.

Você concorda com essa mudança? Acha que isso impacta o mercado? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem vive isso na prática.

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Carla Teles

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