Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi enfrenta prejuízos bilionários, cortes de empregos e reestruturação para tentar sobreviver à nova era automotiva.
Quando foi criada em 1999, a aliança Renault-Nissan foi vista como uma das parcerias mais ousadas e inovadoras da indústria automotiva. A união, reforçada em 2016 com a entrada da Mitsubishi, transformou o grupo em uma das maiores forças globais do setor, chegando a disputar liderança com Toyota e Volkswagen em vendas mundiais. Mas em 2025, a mesma aliança que já foi símbolo de integração e eficiência enfrenta um dos momentos mais delicados de sua história: prejuízos bilionários, cortes massivos de empregos e a necessidade de reestruturar acordos para tentar sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo.
O peso dos prejuízos
O golpe mais recente veio com o anúncio da Renault, que registrou uma perda contábil de aproximadamente € 9,5 bilhões apenas por conta da desvalorização da sua participação acionária na Nissan.
A montadora japonesa, por sua vez, também divulgou prejuízos bilionários em 2025, afetada por tarifas comerciais, custos elevados de eletrificação e queda de vendas em mercados-chave.
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Esse cenário expôs um problema que já vinha se arrastando: a dificuldade de alinhar estratégias e aproveitar sinergias. Enquanto a Renault tenta acelerar sua transformação em uma empresa de mobilidade elétrica, a Nissan enfrenta problemas estruturais de produção e vendas.
A Mitsubishi, menor e mais dependente de nichos como SUVs compactos e veículos para a Ásia, sofre com margens reduzidas e escala limitada.
Cortes de empregos e fábricas em risco
A Nissan anunciou um plano de cortes de 20 mil empregos globais até 2027, além do fechamento de sete fábricas no mesmo período.
O objetivo é reduzir a capacidade produtiva e ajustar a estrutura de custos a uma demanda menor. Países como Japão, Reino Unido e Espanha estão entre os mais impactados pelas medidas.
Essas decisões têm forte repercussão política, já que governos locais e sindicatos pressionam para preservar postos de trabalho. Na França, onde a Renault mantém raízes históricas, o temor é de que a crise da aliança provoque efeitos colaterais severos sobre a indústria nacional.
Reestruturação de acordos
Diante desse quadro, a aliança decidiu rever seus acordos internos. A relação acionária cruzada, em que a Renault detinha participação expressiva na Nissan e vice-versa, foi simplificada. A intenção é dar mais autonomia a cada empresa, permitindo que cada uma busque acordos regionais e estratégicos de forma independente.
Na prática, isso significa que a cooperação será menos integrada do que no passado. Projetos conjuntos serão mantidos apenas onde houver real ganho de escala, como no desenvolvimento de plataformas elétricas e híbridas. Mas em mercados específicos, como China e América Latina, cada marca terá mais liberdade para definir sua atuação.
O desafio da eletrificação
Um dos pontos de maior tensão dentro da aliança é a estratégia de eletrificação. A Renault vem apostando forte em sua divisão Ampere, dedicada a veículos elétricos, com novos modelos compactos e acessíveis.
A Nissan, pioneira com o Leaf, perdeu relevância ao não atualizar o modelo com rapidez e agora corre atrás de rivais como Tesla, BYD e até Hyundai.
Já a Mitsubishi foca em híbridos plug-in, como o Outlander PHEV, mas tem dificuldade de competir globalmente em elétricos puros. A falta de alinhamento estratégico dificulta ganhos de escala, exatamente o que seria o maior benefício de uma aliança desse porte.
Concorrência avassaladora
Enquanto a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi tenta se reorganizar, rivais globais avançam. A Toyota mantém liderança sólida, com vendas estáveis e domínio dos híbridos.
O Grupo Volkswagen investe pesado em elétricos e ainda segura a liderança europeia. E a BYD, maior fabricante de EVs do mundo, já ultrapassou a Tesla em volume e pressiona com preços baixos e expansão agressiva na Europa e na América Latina.
Nesse cenário, a aliança perde relevância. Em rankings globais, já não aparece mais entre os três maiores grupos e corre o risco de ficar relegada ao segundo escalão se não encontrar uma estratégia clara.
O papel dos governos
Governos de França e Japão acompanham de perto os desdobramentos da crise. A Renault, parcialmente estatal, depende de apoio político para avançar em projetos estratégicos.
No Japão, a Nissan é vista como um símbolo nacional, e qualquer medida mais drástica de reestruturação gera forte resistência. Essa complexidade política torna ainda mais difícil a tarefa de encontrar soluções rápidas.
A aliança que já foi referência de integração hoje luta para provar que ainda tem relevância global. O corte de empregos, os prejuízos bilionários e a revisão de acordos mostram que a sobrevivência está em jogo.
Se conseguir se adaptar, a Renault-Nissan-Mitsubishi pode renascer como um grupo mais enxuto e flexível, apostando em regiões e segmentos estratégicos. Mas se falhar, pode se tornar um exemplo de como gigantes tradicionais perderam espaço na transição para os elétricos, sufocados pela velocidade de rivais mais ágeis.
A crise da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi é um alerta para toda a indústria automotiva. Nem mesmo grupos consolidados, com presença global e marcas icônicas, estão imunes às mudanças profundas do setor. O futuro exigirá não apenas eletrificação, mas também eficiência, inovação e coragem para tomar decisões duras.
O desafio da aliança agora é provar que ainda pode ser protagonista — ou aceitar um papel secundário em um mercado que não espera por ninguém.