Pesquisadores da USP e UFSCar criam argila cerâmica leve com algas Sargassum, oferecendo solução inovadora e ecológica para a construção civil. Saiba como o sargaço virou aliado da sustentabilidade.
O que antes era apenas um incômodo nas praias do Caribe, dos Estados Unidos e do Norte brasileiro agora pode se tornar um aliado da sustentabilidade. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveram uma argila cerâmica leve utilizando algas do gênero Sargassum, conhecidas como sargaço.
O estudo, publicado recentemente, mostra que o material pode ser usado na construção civil, oferecendo benefícios ambientais e estruturais.
A pesquisa foi realizada com apoio da FAPESP e envolveu testes em diferentes temperaturas e tipos de forno, incluindo micro-ondas.
-
Moscas incomodam, mas essa já ganhou 6 prêmios Nobel. Entenda mais
-
Ar-condicionado também pode ser usado no frio — veja como aquecer sua casa com o mesmo aparelho
-
Do baratinho ao topo: os 4 celulares invencíveis em câmera e bateria para 2025
-
Elgin inaugura fábrica de motores BLDC em Manaus após investir R$ 200 milhões
Como as algas Sargassum viraram matéria-prima
O sargaço, uma alga marrom comum na região central do oceano Atlântico, tem se acumulado em grandes volumes nas praias, causando sérios impactos à saúde, turismo, pesca e biodiversidade.
Durante sua decomposição, emite gases tóxicos e, normalmente, é descartado em aterros sanitários.
Foi diante desse cenário que o professor João Adriano Rossignolo, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, decidiu investigar formas de reaproveitar essa biomassa.
“Normalmente, o sargaço é coletado e descartado em aterros sanitários sem qualquer uso prático. Por isso, decidimos pesquisar uma forma de aproveitar essa grande quantidade de biomassa nas praias”, explicou.
Aplicações na construção civil
A equipe incorporou o sargaço em amostras de argila cerâmica nas proporções de 20%, 40% e 0% (controle), submetendo-as a processos de sinterização em temperaturas de 800 °C, 900 °C e 1.000 °C.
Os testes foram realizados tanto em fornos convencionais quanto em micro-ondas.
Essas argilas cerâmicas são utilizadas na construção civil em lajes, concretos leves e jardinagem, por sua capacidade de reduzir o peso e melhorar o conforto térmico.
Os resultados mostraram que a adição de sargaço reduziu a densidade aparente dos agregados, especialmente na concentração de 40%.
Os materiais sinterizados em forno de micro-ondas foram os únicos que atenderam aos requisitos de resistência em todas as temperaturas.
Além disso, o estudo comparou o ciclo de vida das argilas com e sem sargaço, revelando que as versões com alga apresentaram melhor desempenho ambiental, com menor consumo de recursos naturais e maior eficiência energética.
Novas possibilidades com o sargaço
Além da argila cerâmica, os pesquisadores também testaram o uso do sargaço em painéis particulados para móveis e telhas de fibrocimento.
As cinzas da alga foram utilizadas como substitutas do calcário, com resultados surpreendentes.
“Conseguimos usar 30% de sargaço nos painéis e substituir 100% do calcário com as suas cinzas, com resultados que atendem plenamente às normas vigentes para esses produtos e melhoram a durabilidade e as propriedades mecânicas dos materiais”, afirmou Rossignolo.
O uso das algas Sargassum na construção civil representa uma alternativa viável para mitigar os impactos ambientais causados pelo seu acúmulo nas praias.
Ao transformar um resíduo em recurso, os pesquisadores brasileiros mostram que inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas.
Essa descoberta abre caminho para novas pesquisas e aplicações, reforçando o papel da ciência na busca por soluções que beneficiem tanto o meio ambiente quanto a sociedade.