A Fluxus, petroleira dos irmãos Batista, estreia em Vaca Muerta após autorização oficial em Neuquén. O plano prevê US$ 21,3 milhões, reativar 54 poços até 2027, modernizar a planta de GLP e abandonar 76 poços sem viabilidade.
A província de Neuquén formalizou, na terça-feira, 19 de agosto de 2025, a cessão de concessões de exploração para a Fluxus, petroleira do grupo J&F, em áreas antes operadas pela Pluspetrol. É o passo que faltava para a companhia iniciar operações em uma das bacias mais estratégicas da Argentina. Segundo o governo provincial, trata-se da entrada de um novo operador na bacia Neuquina, com expectativa de rápida adaptação.
A autorização abrange os ativos convencionais de Centenario I e II e a concessão não convencional de Centenario Centro, que integra o polo de Vaca Muerta. O acordo firmado com a província detalha compromissos operacionais e de investimentos que começam a redesenhar a presença brasileira no upstream argentino.
De acordo com as autoridades locais, a decisão encerra um processo que vinha sendo preparado ao longo de meses e que agora se materializa com a presença da Fluxus em Neuquén. A comunicação oficial destaca que a empresa apresentou um plano de trabalho capaz de acelerar o início das atividades.
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Investimento milionário, poços e GLP: o plano de trabalho aprovado
O entendimento prevê investimento inicial de US$ 21,3 milhões destinado à reativação de 54 poços entre 2026 e 2027, além do abandono de 76 poços que não apresentam viabilidade econômica. O pacote inclui também manutenção de instalações existentes e reforço da infraestrutura local para reduzir gargalos operacionais.
Um ponto técnico relevante é a valorização da planta turboexpander em Centenario Centro para processamento local de GLP, medida que tende a otimizar custos e diminuir dependências logísticas. A modernização dessa unidade é vista como alavanca para elevar a eficiência global do projeto na fase inicial.
Fontes regionais indicam que a Fluxus deve iniciar operações ainda em 2025, aproveitando o período pós-autorização para executar uma transição rápida, uma vez que a companhia se preparou previamente com estudos e planos de campo. A sinalização oficial é de que a adaptação será ágil e que o cronograma de reativação guiará os primeiros marcos públicos do projeto.
Quem é a Fluxus, da J&F, e por que a entrada em Neuquén é estratégica
A Fluxus é a plataforma de óleo e gás da J&F, conglomerado brasileiro que vem ampliando presença no setor de energia na América do Sul. Em junho de 2024, a empresa concluiu a aquisição da Pluspetrol Bolívia, assumindo três campos de gás na bacia Tarija-Chaco e infraestrutura associada, movimento que acelerou sua curva de aprendizado e escala regional.
Após a aquisição, a Fluxus iniciou entendimentos com a estatal boliviana YPFB para avaliar oportunidades de reativação do upstream e novas frentes exploratórias, sinalizando uma estratégia combinada de crescimento orgânico e M&A. Essa experiência é um ativo importante ao entrar em Neuquén, onde a empresa operará em ambiente competitivo e intensivo em tecnologia.
Em comunicação recente, executivos e autoridades enfatizaram que a companhia chega para investir pesado, retomar produção e recuperar poços, tanto em ativos convencionais quanto no universo não convencional de Vaca Muerta. A leitura local é de que a diversidade de portfólio pode ajudar a diluir riscos operacionais na fase inicial.
Por que Vaca Muerta importa para o Brasil e para a região
Vaca Muerta é reconhecida como a segunda maior reserva de gás não convencional e a quarta de petróleo não convencional do mundo, com projetos em escala industrial e políticas de estímulo à produção. Para o leitor brasileiro, isso significa proximidade geográfica com um polo capaz de influenciar fluxos de GLP, gás natural e derivados, com efeitos sobre cadeias de suprimentos e serviços.
A entrada de uma empresa brasileira na bacia Neuquina reforça a integração energética regional. Em tese, há sinergias entre operações na Bolívia e na Argentina, que podem facilitar alocação de capital, compartilhamento de know-how e logística. Ainda assim, é prudente tratar essas sinergias como potencial e não como promessa, já que dependem de licenças, execução técnica e ambiente macroeconômico.
Para a Argentina, a chegada de um novo operador em meio à saída ou rotação de ativos por parte de multinacionais soma capex e expertise a projetos locais. Para a Fluxus, Neuquén oferece um laboratório de escala em shale e tight, com ganhos de curva de aprendizado que podem ser replicados em outros mercados latino-americanos.
Riscos e salvaguardas: licenças, execução e abandono responsável
Os principais riscos na fase inicial incluem a gestão ambiental em áreas com histórico operativo, a execução do plano de reativação de 54 poços no prazo previsto e a segurança operacional no abandono de 76 poços. O acordo aprovado por Neuquén explicita a necessidade de cumprir padrões técnicos e obrigações locais, condição essencial para sustentar a produção ao longo do ciclo do projeto.
Há também variáveis macro e regulatórias que podem afetar cronogramas, como restrições cambiais, disponibilidade de equipamentos e dinâmica de serviços. A modernização da planta turboexpander para GLP entra como mitigador operacional, mas dependerá de prazos de engenharia, fornecimento e comissionamento.
No curto prazo, os marcos mais observados serão a assinatura de contratos de serviços, os reportes de início efetivo de operação e o avanço do cronograma 2026–2027 para reativação. Movimentos adicionais de portfólio em Neuquén podem ocorrer, mas ainda não houve anúncios formais sobre novas áreas.