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Você sabia? Alasca ainda respira a cultura da Rússia

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 15/08/2025 às 09:57
Alasca, Rússia
Foto: Reprodução
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O Alasca, conhecido por suas paisagens geladas e vastas áreas selvagens, carrega um pedaço da história russa que sobrevive há mais de 150 anos. Essa herança está presente nas ruas, na arquitetura, nas tradições religiosas e até nos nomes das cidades, revelando um passado que ainda pulsa no presente.

No Alasca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reúnem nesta sexta-feira (15) para um encontro considerado histórico.

Este será o primeiro encontro presencial entre os dois líderes desde que Trump retornou à Casa Branca.

A reunião acontece em Anchorage, no sul do Alasca, às 16h30, no horário de Brasília. Apenas Trump, Putin e seus intérpretes estarão presentes na conversa direta.

Enquanto isso, as delegações russa e americana participarão de um almoço de trabalho.

Após as discussões, está prevista uma coletiva de imprensa conjunta às 20h30.

A escolha do Alasca como cenário desse diálogo de alto nível desperta interesse, não apenas pelo simbolismo geopolítico, mas também pelo passado histórico que liga o estado norte-americano à Rússia.

O Alasca e suas raízes russas

O Alasca, com suas paisagens geladas e biodiversidade singular, mantém marcas profundas do período em que esteve sob domínio russo.

A colonização deixou influências na cultura, na arquitetura, na religião e até nos nomes de localidades.

A presença russa começou séculos antes da venda do território aos Estados Unidos, em 1867. Apesar de o controle ter terminado oficialmente nesse ano, os vestígios da antiga colônia permanecem vivos no cotidiano de várias comunidades.

A expansão russa até o Pacífico

A expansão russa para o leste iniciou no século XVI e avançou por vastas áreas da Sibéria. Em 1639, os exploradores chegaram ao Oceano Pacífico.

Essa trajetória culminou, no século XVIII, com expedições organizadas para mapear a costa do Alasca.

O navegador Vitus Bering liderou a expedição de 1741 que desembarcou na região, marcando o primeiro contato europeu com o território.

Logo após, caçadores e comerciantes conhecidos como promyshlenniki instalaram postos para explorar o valioso comércio de peles de lontra-marinha.

A criação da Companhia Russo-americano

Em 1799, o czar Paulo I fundou a Companhia Russo-americano (RAC), concedendo a ela o monopólio do comércio de peles e autoridade administrativa no Alasca.

A RAC, sob a liderança de Aleksandr Baranov, fundou a cidade de Novo-Arkhangelsk, atual Sitka, que se tornou capital da América Russa.

A empresa não apenas controlava as atividades comerciais, mas também implantava políticas coloniais, mantinha relações com povos indígenas e desenvolvia infraestrutura.

Essa organização foi essencial para consolidar a presença russa na região.

Relações com os povos nativos

A chegada russa afetou diretamente comunidades como os Aleutas, Alutiiq e Tlingit. As interações variaram entre parcerias comerciais e confrontos armados.

Um episódio marcante foi a Batalha de Sitka, em 1804, quando os Tlingit resistiram à ocupação.

Além dos conflitos, houve forte intercâmbio cultural e religioso. Missionários da Igreja Ortodoxa Russa converteram milhares de indígenas, integrando elementos ortodoxos às tradições locais.

Venda do Alasca

No século XIX, a viabilidade econômica da colônia foi questionada. A distância da Rússia, os altos custos de manutenção e a competição com outras potências, especialmente britânicas, levaram o czar Alexandre II a negociar a venda.

Em 1867, os Estados Unidos adquiriram o Alasca por 7,2 milhões de dólares.

O acordo ficou conhecido como “Loucura de Seward”, em referência ao secretário de Estado americano William H. Seward, que conduziu as negociações.

Herança arquitetônica

A arquitetura russa é um dos legados mais visíveis. Em Sitka, a Catedral de São Miguel, construída em 1848, foi centro espiritual da Igreja Ortodoxa na América do Norte. Após um incêndio em 1966, a reconstrução preservou o estilo original.

Outro exemplo é a Igreja da Ascensão de Nosso Senhor, em Unalaska. Fundada em 1826, teve como líder o padre Ioann Veniaminov, mais tarde canonizado como Santo Inocêncio do Alasca. A igreja atual foi construída entre 1894 e 1896, reaproveitando madeiras de construções anteriores. Em 1970, recebeu o título de Marco Histórico Nacional.

A religião e a cultura

A Igreja Ortodoxa Russa chegou ao Alasca em 1794 e desde então exerce papel importante na vida cultural. Em muitas comunidades, igrejas funcionam como centros religiosos e sociais.

O “Slaaviq”, tradição natalina, exemplifica a fusão cultural: grupos visitam casas cantando hinos que misturam influências indígenas e russas. Festividades como o Natal e a Páscoa mantêm rituais que combinam simbolismos das duas culturas.

Nomes e língua

A toponímia do Alasca revela a herança russa. Cidades como Sitka e Kodiak preservam nomes originados no período colonial. Em Ninilchik, sobrevive um raro dialeto russo, chamado niniltchik, considerado relíquia linguística.

Essa língua é estudada por linguistas como um exemplo vivo do contato entre colonizadores e povos nativos.

Culinária e artesanato

A culinária local também reflete influências russas. Pratos como o borscht, sopas ricas em vegetais e peixes defumados permanecem presentes. O pão preto, introduzido no período colonial, ainda é preparado em algumas comunidades.

O artesanato, especialmente ícones religiosos e utensílios de uso diário, mescla técnicas russas e indígenas, criando peças de valor histórico e cultural.

Função social das igrejas

Durante a colonização, as igrejas ortodoxas serviam como escolas e pontos de apoio social. Sua arquitetura, com cúpulas em formato de cebola e cruzes ornamentadas, tornou-se símbolo duradouro do período russo.

Em Kodiak, o Mosteiro de São Herman é local de peregrinação e preserva a memória de um dos primeiros missionários ortodoxos do Alasca.

Preservação da memória

O Parque Histórico Nacional de Sitka mantém restos de um antigo forte russo. Museus como o Estadual do Alasca, em Juneau, e o Sheldon Jackson, em Sitka, exibem documentos, mapas e utensílios que contam a história da presença russa.

Pesquisadores documentam dialetos como o de Ninilchik, enquanto sítios arqueológicos revelam detalhes da infraestrutura colonial.

A influência russa incluiu a introdução de escolas missionárias, que alfabetizavam indígenas em russo. Essa educação foi considerada avançada para a época e deixou marcas duradouras na cultura local.

A venda vista hoje

À época, muitos nos Estados Unidos criticaram a compra. No entanto, a descoberta de ouro e petróleo transformou o Alasca em um ativo estratégico e econômico de grande valor. Hoje, historiadores veem a negociação como um acerto dos EUA.

Festivais e turismo

Eventos como o Dia do Alasca Russo celebram a herança cultural. Cidades como Sitka promovem passeios guiados, exposições e apresentações artísticas para manter viva essa parte da história.

O turismo é peça-chave na preservação dessa memória, atraindo visitantes interessados nas conexões culturais entre Rússia e Alasca.

O Alasca é um mosaico de influências culturais. A presença russa, mesmo encerrada há mais de 150 anos, deixou marcas profundas que resistem no idioma, na religião, na culinária e nos nomes de lugares.

Essa herança demonstra como o encontro de mundos diferentes pode gerar uma identidade singular, preservada por gerações.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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