Agro brasileiro é potência mundial, mas ainda é refém do diesel: este combustível com petróleo é essencial nas máquinas pesadas para garantir produção em larga escala e reponde por 73% da energia consumida no campo
Embora o Brasil se destaque no cenário internacional por sua alta taxa de energia renovável, a agropecuária nacional continua fortemente ancorada em fontes fósseis. O diesel representa quase três quartos de toda a energia utilizada diretamente nas atividades do campo, revelando uma dependência incompatível com os compromissos de transição energética e neutralidade climática. Mesmo com ganhos de eficiência e protagonismo na produção de biocombustíveis, o setor agropecuário ainda reproduz um modelo intensivo em emissões, que amplia sua exposição a crises geopolíticas e instabilidades no mercado de petróleo.
Em 2022, a agropecuária brasileira usou cerca de 1,4 GJ de combustíveis fósseis para cada US$1.000 produzidos, acima da média global de 1,2 GJ. O diesel representa 73% desse consumo, superando a média mundial de 70%.
O setor mantém um modelo extensivo, caracterizado por grandes áreas cultivadas e uso intenso de máquinas pesadas, especialmente tratores e colheitadeiras. Essa dependência do diesel torna a produção vulnerável a choques externos, como variações no preço do petróleo e tensões geopolíticas, que impactam diretamente o custo do agronegócio.
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Apesar dependência do diesel, Brasil mantém uma eficiência energética geral acima da média mundial
Apesar da forte dependência de combustíveis fósseis, o Brasil mantém uma eficiência energética geral acima da média mundial. Em 2022, o agronegócio nacional consumiu 1,2 GJ de energia por cada US$ 1.000 produzidos, enquanto a média global foi de 1,5 GJ. Isso significa que, mesmo usando diesel em larga escala, o setor consegue converter energia em valor com mais eficácia do que boa parte do mundo. Esse diferencial é explicado por fatores como a elevada produtividade por hectare, a possibilidade de realizar mais de uma safra por ano e o uso de tecnologias e manejos adaptados ao clima e ao solo brasileiros. O contraste se torna ainda mais evidente quando comparado a sistemas altamente mecanizados, como o da Holanda, onde o consumo energético chega a 5,9 GJ/US$ 1.000.
Campo que gera energia: força da bioenergia
A agropecuária brasileira tem papel decisivo não apenas como consumidora, mas também como fornecedora de energia. Em 2023, o setor foi responsável por quase 29% de toda a energia produzida no país e por cerca de 60% das fontes renováveis disponíveis. O avanço da bioenergia, puxado principalmente pela cana-de-açúcar, transformou a matriz energética brasileira: sua participação saltou de menos de 10% nos anos 1970 para cerca de 30% entre 2020 e 2023.
Somente a biomassa da cana respondeu por 16,87% da oferta total de energia no país, superando inclusive, as hidrelétricas, que ficaram em 12,01% no mesmo período. No conjunto, as fontes renováveis representaram 49,1% da matriz energética nacional. Sem a contribuição do agronegócio, que inclui biocombustíveis e energia gerada a partir de matérias-primas agrícolas, esse número cairia drasticamente, para cerca de 20%, aproximando-se da média global de 15%.
Mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel ganha força
A partir de 1° de agosto, o governo vai elevar a mistura de etanol na gasolina de 27% para 30% e de biodiesel no diesel de 14% para 15%. Isso pode cortar 1,33 milhão m³ no consumo de gasolina, zerando o déficit de importação. Segundo o diretor da Abiove, Daniel Amaral, é um “avanço estratégico para segurança energética e meio ambiente”. Essa decisão reforça o protagonismo do Brasil na descarbonização global.
O país combina clima quente, produtor extensivo, múltiplas safras por ano e manejo adaptado, ideal para bioenergia. A diversidade de fontes; cana, milho, soja, lenha, lixívia, biogás, traz resiliência à variação climática ou de safra.
Desafios pela frente
“Essa vantagem convive com uma vulnerabilidade: a dependência do diesel”, alerta Luciano Rodrigues, coordenador da FGV.
O agronegócio precisa ainda:
- Reduzir a queima de combustíveis fósseis;
- Expandir bioenergia e fontes limpas no campo;
- Investir em tecnologia e infraestrutura, como biodigestores e bioeletricidade.
A meta do Brasil, segundo a IEA, é ampliar o biodiesel para 15% até 2026, e já há políticas para SAF (combustível de aviação sustentável). O agro brasileiro vive um momento decisivo: a tradição continua baseando-se no diesel, mas a virada para a bioenergia é real e urgente. Com ajustes planejados — blending, SAF, manejo, é possível consolidar uma matriz mais verde e resiliente.
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