Do combate à desertificação até a produção sem arar a terra, técnicas regenerativas ganham força no agronegócio e podem capturar mais carbono do que se emite, segundo relatório internacional
A agricultura regenerativa está revolucionando o setor agrícola mundial ao substituir métodos tradicionais de cultivo por práticas que restauram solos, aumentam a biodiversidade e sequestram carbono. Iniciativas espalhadas por fazendas nos Estados Unidos, Europa, América Latina e África mostram que, além de benefícios ambientais, esse modelo tem impacto direto na resiliência da produção rural frente às mudanças climáticas.
Ao contrário da agricultura convencional, que muitas vezes degrada o solo por meio de arado intensivo e uso excessivo de fertilizantes químicos, a agricultura regenerativa se baseia na não-perturbação do solo, uso de coberturas vegetais, compostagem e integração entre lavoura e pecuária. O objetivo é criar um ecossistema agrícola autossustentável, com menos insumos externos e maior produtividade a longo prazo.
Essa abordagem inclui diversas técnicas, como plantio direto (no-till), pastoreio rotativo, agrofloresta, e ciclos de compostagem orgânica. Essas práticas estimulam a vida no solo, aumentam a matéria orgânica e ajudam na retenção de água, fatores essenciais para a manutenção de safras diante de eventos climáticos extremos. Em alguns casos, desertos vêm sendo revertidos em áreas agricultáveis após poucos anos de implementação.
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Agricultura regenerativa ganha força entre grandes corporações e governos
Nos últimos anos, empresas como Nestlé, PepsiCo, Unilever e General Mills anunciaram investimentos bilionários em programas de agricultura regenerativa. Só a Nestlé destinou US$ 1,8 bilhão para apoiar produtores na transição de práticas convencionais para métodos regenerativos, com a promessa de cortar até 95% das emissões de sua cadeia de produção.
Governos também estão promovendo iniciativas nesse sentido. Nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura lançou programas de incentivo a práticas regenerativas através do Climate-Smart Commodities, com mais de US$ 2 bilhões em recursos. O Reino Unido oferece recompensas financeiras por boas práticas do solo, e o Brasil incentiva sistemas integrados por meio do Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono).
A urgência ambiental e a busca por cadeias produtivas sustentáveis explicam o interesse crescente. Um relatório divulgado antes da Conferência do Clima de 2022, apoiado pelo Sustainable Markets Initiative, alerta que o ritmo atual de adoção de práticas regenerativas é lento demais. Para conter o aquecimento global, o ritmo de conversão deve triplicar até 2030.
Evidências e críticas sobre o impacto da agricultura regenerativa
Estudos científicos indicam que técnicas como plantio direto e rotação de culturas aumentam a captura de carbono no solo. De acordo com o Rodale Institute, uma transição global para a agricultura regenerativa poderia sequestrar mais de 100% das emissões anuais de CO₂ causadas pelo homem. Já a organização Project Drawdown estima uma remoção anual entre 0,46 e 0,70 gigatoneladas de CO₂ com manejo adequado de pastagens.
Entretanto, alguns especialistas criticam afirmações consideradas exageradas. Segundo o Food and Climate Research Network, há riscos em superestimar o potencial de sequestro de carbono sem considerar emissões associadas ao manejo de gado. O pesquisador Tim Searchinger ressalta que a proteção de florestas e savanas é mais eficaz para mitigar emissões do que transformar sistemas produtivos sem aumentar a produtividade.
Mesmo com divergências sobre números, há consenso de que práticas regenerativas melhoram a saúde do solo, reduzem erosão e aumentam a diversidade microbiana. A presença de bactérias e fungos benéficos, por exemplo, facilita a absorção de nutrientes e reduz a dependência de fertilizantes químicos. Isso contribui diretamente para a sustentabilidade do agronegócio a longo prazo.
Do campo à mesa: como agricultores podem aderir ao modelo regenerativo
Agricultores interessados em adotar a agricultura regenerativa precisam iniciar com observações locais do ecossistema, segundo especialistas. Entender o ciclo natural de água, a biodiversidade nativa e as características do solo são os primeiros passos para projetar sistemas mais resilientes e adaptados ao clima da região.
Além disso, a implementação pode variar muito de uma fazenda para outra. Técnicas como policultivo, cobertura do solo com vegetação permanente, uso de adubação orgânica, introdução de árvores nativas e consórcio entre culturas e animais são algumas das opções mais aplicadas. Em todos os casos, o foco está em fortalecer a relação entre os elementos vivos do sistema.
E você, acredita que práticas regenerativas podem ser o futuro da agricultura e ajudar o planeta a se recuperar dos impactos ambientais?