Líderes da África anunciam plano ambicioso para investir US$ 100 bilhões em projetos sustentáveis, fortalecendo a indústria verde e acelerando a transição energética até 2030
Nesta quarta-feira (10), durante a 2ª Cúpula do Clima da África, realizada em Adis Abeba, na Etiópia, líderes africanos e instituições financeiras anunciaram um compromisso histórico de US$ 100 bilhões para impulsionar a indústria verde e acelerar a transição energética no continente até 2030.
O pacto representa uma resposta estratégica à urgência climática global e à necessidade de eletrificação de cerca de 600 milhões de africanos que ainda vivem sem acesso à energia.
A iniciativa foi apresentada como parte da Declaração de Adis Abeba, documento que será levado à COP30 no Brasil, com foco em uma transição justa, financiamento climático adequado e protagonismo africano nas decisões globais sobre o clima.
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Compromisso de US$ 100 bilhões: um marco continental
O anúncio do compromisso de US$ 100 bilhões foi feito por bancos de desenvolvimento e instituições financeiras africanas, com foco em projetos de energia renovável, hidrogênio verde, minerais críticos e soluções locais de inovação climática.
A meta é expandir a capacidade energética da África para 300 GW até 2030, com investimentos que priorizem inclusão, sustentabilidade e soberania energética. A iniciativa também busca atrair capital internacional, reformar os mecanismos de financiamento climático e fortalecer a cooperação entre países africanos e parceiros globais.
Transição energética e acesso universal à eletricidade
A transição energética na África é uma prioridade urgente. Com cerca de 600 milhões de pessoas sem acesso à eletricidade, o continente enfrenta desafios estruturais que exigem soluções escaláveis e sustentáveis. O plano de expansão para 300 GW de energia renovável inclui:
- Energia solar e eólica em larga escala
- Projetos de hidrogênio renovável
- Uso estratégico de gás natural como fonte de transição
- Investimentos em infraestrutura de transmissão e distribuição
Além de reduzir a dependência de combustíveis fósseis, a proposta visa garantir segurança energética, estimular o crescimento econômico e melhorar a qualidade de vida das populações mais vulneráveis.
Indústria verde como vetor de desenvolvimento na África
A construção de uma indústria verde robusta é um dos pilares do plano africano. O objetivo é gerar empregos qualificados, agregar valor à cadeia produtiva e posicionar a África como protagonista na economia de baixo carbono. Entre os setores estratégicos estão:
- Mineração sustentável de minerais críticos (como lítio, cobalto e níquel)
- Produção de equipamentos para energia renovável
- Desenvolvimento de tecnologias limpas em transporte, agricultura e saneamento
- Estímulo à inovação por meio de universidades, startups e comunidades locais
A Africa Climate Innovation Compact (ACIC) e o African Climate Facility (ACF) estipulam como metas mobilizar US$ 50 bilhões por ano para financiar soluções africanas em áreas-chave, com foco em inovação, inclusão e impacto social.
Financiamento climático e reforma dos bancos multilaterais
Apesar do avanço representado pelo compromisso de US$ 100 bilhões, os líderes africanos alertam que o financiamento climático global ainda é insuficiente. Estima-se que o continente precise de US$ 3 trilhões até 2030 para cumprir suas metas climáticas, mas apenas US$ 30 bilhões têm sido efetivamente destinados às nações africanas.
A Cúpula do Clima reforçou a demanda por uma reforma dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs), que hoje enfrentam críticas por dificultar o acesso ao crédito para países de renda média e baixa. Em 2024, os MDBs registraram um recorde de US$ 137 bilhões em financiamento climático, dos quais US$ 85,1 bilhões foram para países emergentes e em desenvolvimento.
O Banco Mundial liderou com US$ 41,1 bilhões, seguido pelo Banco Africano de Desenvolvimento com US$ 5,5 bilhões. A proposta africana defende maior flexibilidade nos critérios de concessão de crédito, redução de riscos cambiais e ampliação de garantias para projetos sustentáveis.
Soluções locais e inovação na transição energética africana
A África aposta em soluções locais para garantir que a transição energética seja inclusiva, eficaz e adaptada às realidades regionais. A meta é desenvolver 1.000 soluções climáticas locais até 2030, envolvendo:
- Instituições de pesquisa e universidades
- Startups de tecnologia limpa
- Comunidades rurais e indígenas
- Parcerias público-privadas
Esse modelo busca fortalecer a autonomia dos países africanos, promover o protagonismo das populações locais e estimular a criação de tecnologias apropriadas às condições climáticas, sociais e econômicas do continente.
Geopolítica climática e liderança da África
A Etiópia aproveitou a cúpula para lançar sua candidatura à COP32 em 2027, disputando com Lagos. A movimentação diplomática reforça o desejo da África de ocupar um papel central nas negociações climáticas globais. Enquanto isso, Índia e Coreia do Sul já se articulam para sediar a COP33 em 2028.
A Declaração de Adis Abeba será levada à COP30 no Brasil, com foco em:
- Transição justa
- Financiamento climático equitativo
- Reforma dos sistemas financeiros internacionais
- Cooperação Sul-Sul
O documento também propõe a criação de um mecanismo africano de monitoramento climático, com indicadores próprios e metas alinhadas às necessidades do continente.
Oportunidade histórica para a África e o mundo
O anúncio feito em 10 de setembro de 2025 representa um divisor de águas na trajetória da África rumo à sustentabilidade. O compromisso de US$ 100 bilhões não é apenas um investimento financeiro — é uma afirmação política e estratégica de que o continente está pronto para liderar sua própria transição energética e construir uma indústria verde forte, autônoma e inovadora.
Com metas ambiciosas, parcerias estratégicas e uma visão de longo prazo, a África mostra que não quer ajuda — quer investimentos, respeito à sua capacidade de transformação e espaço para liderar o futuro energético global. O mundo, por sua vez, tem a oportunidade de apoiar essa virada histórica, reconhecendo que o desenvolvimento sustentável da África é essencial para o equilíbrio climático e econômico do planeta.