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Adidas, Nike e até Mickey viram códigos do crime: apropriação simbólica impõe medo e restringe liberdade em bairros dominados por facções no Brasil

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 15/10/2025 às 13:57
A apropriação simbólica e a violência simbólica das facções no Brasil transformam marcas globais em instrumentos de medo e censura social.
A apropriação simbólica e a violência simbólica das facções no Brasil transformam marcas globais em instrumentos de medo e censura social.
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Apropriação simbólica por facções no Brasil transforma marcas e gestos em sinais de poder e medo, impondo restrições de roupa, expressão e comportamento em comunidades inteiras sob domínio criminoso

O que antes era apenas estilo ou expressão virou questão de sobrevivência. Em diversas regiões do país, facções no Brasil estão redefinindo o significado de símbolos populares — de marcas como Adidas, Nike e até o Mickey Mouse — transformando elementos culturais em códigos de pertencimento e ameaça. O simples ato de vestir uma camisa, fazer um gesto com as mãos ou publicar uma foto nas redes pode ser interpretado como provocação a grupos rivais.

De acordo com a reportagem da Brasil Paralelo, esse fenômeno, que mistura violência simbólica, controle territorial e medo coletivo, escancara um novo estágio do poder das facções: o domínio sobre a aparência e a linguagem cotidiana. A apropriação de marcas e gestos virou ferramenta de intimidação e censura social, especialmente em bairros dominados por organizações criminosas.

Quando o que se veste vira sentença de morte

Em Salvador, a associação de marcas e gestos com grupos criminosos já provoca pânico entre moradores e comerciantes.

A marca Adidas, reconhecida mundialmente por suas três listras, foi apropriada por integrantes do Bonde do Maluco (BDM), cuja sigla tem três letras e cuja saudação — “tudo três” — é representada com três dedos levantados.

Em áreas controladas pelo Comando Vermelho (CV), facção rival, o mesmo símbolo é visto como provocação.

Nesses locais, a Nike se tornou a marca identificada com o “tudo dois”, em referência às duas letras da sigla do grupo. Há relatos de pessoas ameaçadas apenas por usarem roupas associadas ao símbolo adversário.

Um comerciante em Salvador contou ter sido advertido: “Aí é três, e aqui nós somos dois.” Após a ameaça, ele precisou trocar de roupa para continuar trabalhando.

De marcas globais a códigos locais de facções no Brasil

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O processo de apropriação simbólica não é exclusivo das marcas esportivas.

Em 2025, um jovem de 18 anos foi assassinado por usar uma camiseta do Mickey Mouse em um bairro controlado por outra facção.

Segundo a polícia, o personagem da Disney passou a ser associado à facção A Tropa, rival direta do BDM. A vítima se recusou a tirar a camisa, um presente da avó, e acabou morta por espancamento.

Casos semelhantes ocorreram em Camaçari e Jericoacoara, onde adolescentes foram executados após publicarem fotos com gestos de três dedos — sinal usado por grupos ligados ao PCC.

Em muitos desses episódios, as vítimas não tinham envolvimento com o crime, mas foram julgadas e punidas pelo chamado “tribunal do crime” apenas por aparentarem pertencer a uma facção rival.

Linguagem visual, medo e autocensura

Especialistas em segurança pública descrevem o fenômeno como uma forma extrema de controle social por meio da simbologia.

O domínio não se limita às armas ou ao tráfico: as facções passaram a impor códigos de vestimenta, comportamento e comunicação, criando uma cultura do medo e da autocensura.

Em escolas de Salvador, estudantes foram afastados após desenharem três riscos nas sobrancelhas, gesto estético comum nas redes sociais, mas que ali ganhou conotação criminosa.

Segundo professores, o pânico entre pais e alunos foi tanto que 15 jovens deixaram de frequentar as aulas por receio de serem confundidos com membros do BDM.

Quando o medo ultrapassa a fronteira das roupas

A simbologia das facções no Brasil já afeta inclusive marcas e instituições fora do crime.

Em 2024, o Botafogo precisou alterar o logotipo de um patrocinador cujo desenho — uma mão em forma de “V” — foi interpretado como referência à facção carioca Terceiro Comando Puro.

Nas redes sociais, torcedores alertaram que o uso do símbolo poderia colocar pessoas em risco em determinadas regiões do Rio de Janeiro.

Casos assim mostram como a violência simbólica precede a física. Em comunidades onde o crime dita códigos de aparência, a liberdade individual desaparece.

Comerciantes evitam expor determinadas marcas, jovens deixam de usar roupas de grife e moradores alteram seus gestos em fotos para não serem confundidos com inimigos de facções.

O medo se impõe como lei silenciosa.

A apropriação simbólica como nova forma de poder

A socióloga Ivana Davi, pesquisadora do sistema prisional, define esse comportamento como uma extensão cultural do domínio territorial.

“Quando uma facção impõe o que pode ou não ser usado, ela ultrapassa o campo do crime e assume o papel de reguladora social”, explica.

Essa dinâmica revela a força da influência das facções no Brasil, hoje presentes em 26 estados e com mais de 80 grupos identificados no sistema prisional.

Ao transformar marcas globais em símbolos locais de poder, essas organizações criam uma linguagem visual que reforça pertencimento e intimidação.

O gesto, a cor ou a marca deixam de ser escolhas pessoais e passam a representar fronteiras invisíveis entre o “nós” e o “eles”.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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