Dispositivo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba promete identificar a presença de metanol em bebidas adulteradas por meio da mudança de cor, oferecendo uma alternativa simples e acessível de detecção.
Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desenvolveram um dispositivo que identifica a presença de metanol em bebidas alcoólicas adulteradas.
O equipamento, em formato de canudo, muda de cor ao entrar em contato com a substância e funciona de modo semelhante a testes rápidos, como os de gravidez.
O objetivo é oferecer uma ferramenta de baixo custo e uso simples, que possa ser utilizada por distribuidores, estabelecimentos e consumidores para prevenir intoxicações.
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Como o canudo detecta o metanol
O projeto está em desenvolvimento no Departamento e no Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ) da UEPB e é conduzido há cerca de dois anos.
De acordo com os pesquisadores, o canudo é feito de material biodegradável, contendo reagentes químicos protegidos internamente, sem risco de contato direto com o usuário.
Ao ser inserido em uma amostra de bebida, o líquido sobe por capilaridade e interage com os reagentes.
Em caso de presença de metanol, ocorre uma reação química que altera a coloração do canudo, tornando a mudança visível do lado externo.
Segundo o pesquisador Railson de Oliveira Ramos, o funcionamento é semelhante ao de uma coluna cromatográfica.
Ele explicou que os reagentes ficam isolados dentro do tubo e que a variação de cor ocorre em poucos minutos, indicando a presença ou ausência do composto.

Os testes realizados até agora são qualitativos, ou seja, o canudo não mede a quantidade de metanol presente na bebida, apenas aponta se a substância existe ou não na amostra analisada.
Tecnologia por infravermelho para bebidas lacradas
O desenvolvimento do canudo é resultado da ampliação de uma tecnologia anterior criada pela mesma equipe.
O grupo havia projetado um sistema baseado em radiação infravermelha, capaz de identificar adulterações em bebidas mesmo com as garrafas ainda lacradas.
O método consiste em direcionar luz sobre o líquido.
As moléculas da bebida reagem de formas diferentes conforme sua composição, e o software do sistema processa essas variações, informando se há substâncias estranhas, como metanol, etanol veicular ou água adicionada.
De acordo com a equipe da UEPB, o sistema atingiu 97% de precisão em análises laboratoriais controladas e agora avança para a fase de testes com amostras reais, etapa necessária para validar o desempenho e avaliar a possibilidade de produção em escala comercial.
Produção e aplicação do canudo sustentável
O grupo trabalha para transformar a pesquisa em um produto sustentável, de baixo custo e fácil de usar.
A expectativa é que o canudo possa ser distribuído amplamente e empregado em testes de rotina em bares, restaurantes e distribuidoras.
A pró-reitora de Pós-Graduação da UEPB, Nadja Oliveira, destacou que a tecnologia pode ampliar a confiança no consumo de bebidas, ao permitir uma checagem rápida de segurança antes da ingestão.
Segundo ela, o dispositivo tem potencial para ser usado tanto por empresas quanto por consumidores, “de forma prática e sem necessidade de equipamentos adicionais”.
Interesse do Ministério da Saúde
O avanço do projeto chamou a atenção do Ministério da Saúde, que discutiu com a universidade formas de incorporar a tecnologia em políticas públicas de prevenção a intoxicações por metanol.
A reunião contou com a presença do ministro Alexandre Padilha e do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), segundo informações da própria UEPB.
O pesquisador Railson de Oliveira informou que o próximo passo é a criação de um kit colorimétrico baseado na mesma reação do canudo.
O sistema permitirá verificar rapidamente se há metanol em uma amostra, sem medir o teor.
“O objetivo é disponibilizar um kit simples, acessível e de resposta rápida, que possa ser usado em qualquer ambiente”, afirmou.
O que é o metanol e seus riscos
O metanol é um álcool altamente tóxico, utilizado em processos industriais e que não deve ser consumido.
Quando presente em bebidas adulteradas, pode causar cegueira, danos neurológicos e morte.
Segundo especialistas, pequenas doses já representam risco elevado, pois a substância é rapidamente absorvida pelo organismo.
Casos recentes de intoxicação por metanol levaram o Ministério da Saúde a intensificar o monitoramento.
Conforme dados divulgados pela pasta, até o momento foram registrados 47 casos confirmados e nove mortes, com outras 57 ocorrências em investigação.
Autoridades sanitárias afirmam que as ocorrências estão associadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas ou de origem não comprovada.
Etapas e desafios até a produção em escala
De acordo com a equipe da UEPB, os reagentes usados no canudo permanecem confinados dentro do tubo, o que evita riscos de exposição e contaminação.
O grupo agora busca parcerias industriais e institucionais para viabilizar a produção e definir padrões de controle de qualidade e validação técnica.
Segundo os pesquisadores, a padronização da leitura de cor e a criação de instruções de uso claras estão entre as etapas mais importantes para que o produto chegue ao mercado.
Também será necessário avaliar a viabilidade econômica da produção e a logística de distribuição para atender diferentes regiões do país.
Especialistas em segurança alimentar avaliam que tecnologias como essa podem reforçar as estratégias de fiscalização e reduzir o número de fraudes no setor de bebidas, se implementadas em conjunto com ações de controle sanitário e rastreabilidade.
Impactos potenciais para o mercado e a saúde pública
Se a tecnologia for validada e adotada em larga escala, bares, restaurantes e distribuidores poderão testar bebidas antes da comercialização, aumentando o controle de qualidade.
O sistema por infravermelho permitiria inspeções sem abrir as garrafas, enquanto o canudo serviria como teste rápido em campo.
Pesquisadores da UEPB afirmam que, com o uso combinado das duas soluções, seria possível identificar adulterações de forma mais precoce, reduzindo riscos ao consumidor e ajudando autoridades a rastrear lotes contaminados.
Para o Ministério da Saúde, o desenvolvimento de tecnologias nacionais nessa área representa uma ferramenta complementar de vigilância e prevenção, especialmente em períodos de aumento de casos de intoxicação por bebidas ilegais.
A universidade informou que os testes com amostras reais estão em andamento e que os resultados devem embasar protocolos de certificação antes da fabricação comercial.
O uso de dispositivos como o canudo de detecção pode se tornar uma prática comum em estabelecimentos no futuro, caso o produto chegue ao mercado.



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