Uma nova geração de robô com inteligência artificial está mudando a forma como a agricultura funciona nos Estados Unidos. Movidas a energia solar e equipadas com inteligência artificial, essas máquinas estão substituindo trabalhadores humanos e eliminando o uso de produtos químicos nas plantações.
Um robô com inteligência artificial movido a energia solar avança pelo campo de algodão na Califórnia, imune ao calor do meio-dia. Ele remove ervas daninhas sem descanso.
Essa cena mostra uma revolução silenciosa que está acontecendo nas fazendas americanas.
Tecnologia para enfrentar duas crises
As fazendas dos Estados Unidos lidam com dois desafios: escassez de mão de obra e ervas daninhas resistentes a herbicidas. A startup Aigen acredita ter uma solução.
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Seu robô autônomo, chamado Element, promete reduzir custos, proteger o meio ambiente e eliminar o uso de produtos químicos perigosos nos alimentos.
O diretor de tecnologia da empresa, Richard Wurden, afirma que o robô pode ser uma das maiores contribuições à saúde humana. “Todo mundo está comendo alimentos pulverizados com produtos químicos“, disse ele à AFP.
De Tesla ao campo
Wurden trabalhou na Tesla por cinco anos. A ideia do robô surgiu quando familiares agricultores de Minnesota reclamaram do alto custo de capinar manualmente.
A solução seria automatizar o serviço, dispensando o uso de herbicidas.
A tecnologia também tem como objetivo aliviar o peso sobre os trabalhadores. “Se você acha que esse é um trabalho que queremos que os humanos façam, passe apenas duas horas no campo capinando”, afirmou Wurden.
Sem paixão por produtos químicos
O CEO da Aigen, Kenny Lee, tem formação em software. Segundo ele, os produtores não gostam de usar químicos, mas recorrem a eles por falta de alternativas viáveis. “Nenhum agricultor com quem conversamos disse: ‘Sou apaixonado por produtos químicos’”, disse Lee.
O robô Element oferece uma nova ferramenta.
Com aparência de uma grande mesa sobre rodas, ele é coberto por painéis solares e tem braços de metal com lâminas que se movem entre as plantas para cortar as ervas daninhas.
Energia limpa e funcionamento inteligente
A IA instalada nos robôs permite que eles usem câmeras para seguir as linhas de cultivo e identificar ervas daninhas com precisão. Além disso, eles operam de forma autônoma. “Quando o sol se põe, ele simplesmente desliga e adormece; então, de manhã, ele nasce novamente e começa a funcionar novamente”, explicou Lee.
O robô se comunica com centros de controle via conexão sem fio e alerta os operadores sobre qualquer problema durante o funcionamento.
A ideia é treinar os antigos trabalhadores agrícolas para supervisionar essas novas máquinas.
Testado em diferentes culturas
Os robôs da Aigen já estão sendo usados em plantações de algodão, tomate e beterraba. A empresa afirma que sua tecnologia remove as ervas daninhas sem danificar as plantas.
Segundo Lee, cinco unidades do robô são suficientes para cuidar de uma área de 160 acres, o equivalente a 65 hectares.
Cada robô custa cerca de US$ 50.000. Apesar do valor, a Aigen aposta que a economia a longo prazo e os benefícios ambientais vão atrair os agricultores.
Olho nos conservadores e no futuro
Com sede em Redmond, nos arredores de Seattle, a startup é composta por apenas 25 pessoas. Mesmo assim, já mira alto.
O foco agora é conquistar produtores mais conservadores, que normalmente rejeitam soluções ecológicas. Para isso, a empresa evita discursos ideológicos e foca em argumentos práticos. “Os fazendeiros se importam com suas terras”, diz Lee.
A proposta também chamou atenção fora do campo. A Amazon Web Services (AWS) selecionou a Aigen para o programa “Compute for Climate”. A iniciativa oferece suporte técnico, energia para data centers e ferramentas de IA para startups com foco ambiental.
Lisbeth Kaufman, da AWS, acredita no potencial da Aigen. “A Aigen será uma das gigantes do setor no futuro”, afirmou. Segundo ela, a empresa pode repetir feitos históricos. “Penso em Ford e o Modelo T, ou Edison e a lâmpada — esses são Kenny, Rich e Aigen.”