Reunião em Belo Horizonte apresentou a visão da indústria mineira sobre o impacto do acordo comercial, com destaque para investimentos, sustentabilidade e papel estratégico de Minas Gerais nas relações entre Mercosul e União Europeia.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais considera o acordo entre a União Europeia e o Mercosul uma oportunidade “extraordinária” para a indústria, especialmente em um ambiente internacional descrito como “tumultuado”.
A avaliação foi apresentada durante encontro com 20 embaixadores europeus na sede da entidade, em Belo Horizonte, nesta quarta-feira (25), quando foram discutidas vantagens tarifárias e novas frentes de investimento para Minas.
Encontro com embaixadores europeus em Minas Gerais
A reunião, que contou com a presença da chefe da missão da União Europeia no Brasil, Marian Schuegraf, teve caráter econômico e institucional.
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Além de aproximar as partes, a Fiemg apresentou projetos ligados à mineração sustentável e à energia limpa, áreas apontadas como diferenciais competitivos do estado para atrair capital e tecnologia.
Segundo o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, a indústria mineira tende a ganhar com o acordo porque a pauta de exportações para a Europa já concentra itens com maior valor agregado.
“As economias são complementares”, afirmou.
Em seguida, ressaltou que “a tendência é que haja mais investimentos em ambos os lados”, em referência às condições de acesso recíproco a mercados e compras governamentais previstas no tratado.
Detalhes do acordo UE–Mercosul
O texto negociado entre UE e Mercosul prevê a redução e a eliminação de tarifas em mais de 90% do comércio entre os blocos, com cortes escalonados ao longo de alguns anos e salvaguardas para setores sensíveis.
No discurso diplomático, Schuegraf destacou o alcance da iniciativa.
Na visão dela, o pacto deve “criar a maior zona de livre comércio do mundo, com mais de 750 milhões de consumidores”, o que considera “impressionante”.
Ainda que a formulação “elimina tarifas em 91% dos produtos” sintetize a ambição do acordo, a implementação depende de ratificação legislativa nos países envolvidos.
Em paralelo, capítulos de sustentabilidade e exigências de rastreabilidade seguem no centro do debate, sobretudo para o comércio de alimentos e outros bens do agronegócio.
Ganhos previstos para a indústria mineira
A Fiemg avalia que, por ter uma participação relevante em bens industrializados rumo ao mercado europeu, Minas Gerais pode capturar ganhos imediatos com a queda de tarifas e a simplificação de barreiras não tarifárias.
Insumos metalúrgicos, componentes industriais e equipamentos figuram entre os itens com chance de avançar em participação, segundo a entidade.
A aposta é que o melhor acesso à UE libere espaço para cadeias produtivas locais elevarem escala e produtividade.
Em termos de alimentos, a indústria processadora enxerga oportunidade adicional para derivados do café, lácteos e preparações alimentícias com maior conteúdo tecnológico.
O título atribui ao acordo a transformação do Brasil em fornecedor estratégico de alimentos.
Na prática, esse efeito depende de cotas, prazos de desgravação e do atendimento a padrões sanitários e ambientais exigidos pela União Europeia.
Papel de Minas Gerais nas exportações
A embaixadora Marian Schuegraf sublinhou a relevância de Minas no relacionamento com a Europa.
De acordo com ela, a União Europeia responde por cerca de 40% do investimento estrangeiro no Brasil e por 32% do estoque de investimentos em Minas Gerais.
A leitura é de que a base já existente pode acelerar projetos em setores como energia, mineração de baixo impacto e cadeias verdes, caso o acordo avance.
Dados recentes de comércio exterior reforçam o peso do estado nas vendas ao exterior, com a Europa entre os principais destinos.
Em 2024 e 2025, o governo mineiro e entidades empresariais reportaram superávits consistentes na relação com o bloco europeu, o que sustenta a estratégia de diversificação de mercados e de redução de custos logísticos e tarifários.
Diplomacia econômica em prática
A agenda dos embaixadores europeus em Minas incluiu encontros com autoridades estaduais e lideranças empresariais, além de visitas técnicas.
A Fiemg apresentou um panorama das cadeias locais e destacou projetos de compliance socioambiental, considerados decisivos para acesso a nichos premium do mercado europeu.
Enquanto isso, o governo estadual enfatizou a infraestrutura e a qualificação da mão de obra como trunfos para competitividade.
A mesa também abordou o contexto externo.
Em um cenário de reconfiguração de fluxos globais, com disputas comerciais e exigências ambientais mais rígidas, o acordo UE–Mercosul é visto por empresários como um instrumento para previsibilidade regulatória e redução de custos.
Por outro lado, interlocutores reconheceram que o ritmo de ganhos dependerá da velocidade das ratificações e da capacidade do setor privado em adequar processos às regras de origem, rastreabilidade e compras públicas europeias.
Expectativas para os próximos meses
No curto prazo, a indústria mineira mira a consolidação de projetos que já estão na prateleira, entre eles expansões de plantas industriais voltadas à exportação e iniciativas de transição energética.
A médio prazo, a expectativa é de que a agenda regulatória do acordo reduza barreiras técnicas e amplie o reconhecimento de certificações, encurtando o tempo de entrada de produtos no mercado europeu.
Roscoe insistiu na complementaridade entre os blocos e no caráter estratégico do entendimento para atrair novos investimentos.
Schuegraf, por sua vez, reforçou o potencial de escala e de diversificação que a parceria adiciona ao tecido produtivo local.
Em linhas gerais, a sinalização é de apetite dos dois lados para transformar a aproximação em negócios, desde que as condições legais avancem.
Acompanhamento e próximos passos
A tramitação do acordo em instâncias europeias e sul-americanas será o termômetro dos próximos meses.
Enquanto isso, empresas de Minas e a própria Fiemg intensificam rodadas de prospecção e interlocução com compradores e investidores.
Caso a desgravação tarifária e as regras de sustentabilidade caminhem como previsto, setores industriais e de alimentos processados tendem a ser os primeiros a testar o novo ambiente.
A avaliação de que o acordo é “extraordinário” reflete a combinação de escala de mercado, vantagens tarifárias e portas abertas para investimentos.
A dúvida que permanece é simples e prática: quais empresas conseguirão se adaptar mais rápido às exigências europeias para converter essa janela em contratos firmes e recorrentes?