Valorização técnica e fatores macroeconômicos explicam salto histórico das ações, mas analistas alertam que fundamentos da companhia ainda seguem frágeis
Uma movimentação atípica no mercado financeiro chamou atenção na primeira semana de setembro de 2025.
As ações da Azul (AZUL4) dispararam 127% entre os dias 1º e 8 de setembro, mesmo em cenário de recuperação judicial e forte endividamento.
O desempenho foi impulsionado por fatores técnicos e macroeconômicos, segundo especialistas, mas o mercado alerta que a valorização pode ser apenas temporária.
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Efeito técnico de curto prazo impulsiona valorização
A alta de setembro foi marcada por três pregões consecutivos acima de 19%.
No dia 8 de setembro, os papéis chegaram a saltar mais de 60% durante a negociação, fechando em R$ 1,51, segundo a B3.
Em contraste, o Ibovespa caiu 0,59% na mesma data, encerrando aos 141.791 pontos.
No entanto, mesmo após a disparada, o acumulado do ano ainda é negativo: queda de 57,34% em 2025.
Esse cenário reflete o pedido de recuperação judicial nos EUA em maio de 2025, quando a companhia recorreu ao Chapter 11 para reorganizar dívidas sem interromper operações.
Entenda o short squeeze que movimentou o mercado
Segundo Jhonatas Deodato, planejador financeiro, o fenômeno conhecido como short squeeze explica o rali.
Esse efeito ocorre quando investidores apostam na queda de uma ação e, diante de uma alta inesperada, são forçados a recomprar papéis para limitar perdas.
- Volume recorde: em setembro, 23,8% dos 812,3 milhões de papéis preferenciais estavam alugados, cerca de 15 milhões a mais que em maio.
- Recompra em massa: a valorização obrigou investidores vendidos a fecharem posições, gerando pressão de compra.
- Efeito cascata: cada nova alta atraiu traders buscando lucro rápido, ampliando ainda mais a valorização.
Deodato destaca que a configuração de mercado transformou a Azul em alvo perfeito para esse movimento amplificado.
Condições econômicas favorecem o setor aéreo
Além do componente técnico, fatores externos ajudaram no desempenho recente da Azul.
- Queda do petróleo: em agosto, a Petrobras reduziu o preço do querosene de aviação, diminuindo custos operacionais.
- Câmbio favorável: o dólar caiu 12,16% desde julho de 2025, reduzindo despesas atreladas à moeda norte-americana.
- Cenário global: a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve estimulou maior apetite por risco em mercados emergentes, fortalecendo a bolsa brasileira.
De acordo com Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a combinação de câmbio mais estável e combustível mais barato aliviou pressões no setor aéreo.
Cade suspende codeshare com a Gol e gera incertezas
Enquanto o mercado comemorava a valorização, outro fator trouxe incerteza para o futuro da Azul.
Em 3 de setembro de 2025, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinou a suspensão temporária de novos voos compartilhados com a Gol.
- Prazo de 30 dias: as empresas precisam apresentar ao Cade os termos do acordo anunciado em 2024.
- Risco regulatório: descumprimento pode caracterizar “gun jumping” e levar ao cancelamento da parceria.
- Visões divergentes: parte dos analistas vê o codeshare como positivo para gerar sinergias, enquanto outros alertam para riscos diante da fragilidade financeira das companhias.
Endividamento bilionário ainda preocupa especialistas
Apesar da valorização histórica, analistas reforçam que os fundamentos da Azul continuam frágeis.
Segundo Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, a alta foi especulativa e não reflete recuperação estrutural.
- Dívida líquida: cerca de R$ 30 bilhões em 2025.
- Alavancagem: relação dívida/EBITDA de 4,9 vezes, mesmo após reestruturações.
- Risco de correção: investidores de longo prazo devem aguardar melhora consistente antes de ampliar posições.
Deodato acrescenta que o risco de queda após forte rali permanece elevado, já que os desafios financeiros continuam pesando sobre a companhia.
Quais pontos merecem atenção nos próximos meses
- Valorização expressiva: salto de 127% na primeira semana de setembro de 2025.
- Movimento técnico: efeito de short squeeze amplificado por recorde de ações alugadas.
- Fatores macroeconômicos: dólar em queda, petróleo mais barato e perspectiva de cortes de juros nos EUA.
- Incertezas regulatórias: decisão do Cade sobre codeshare com a Gol .
- Fragilidade estrutural: endividamento elevado e fundamentos frágeis ainda limitam perspectivas de longo prazo.
A história recente da Azul mostra como movimentos técnicos e macroeconômicos podem distorcer preços em curto prazo, mas sem alterar fundamentos.
Com isso, analistas reforçam que a alta não representa recuperação definitiva da companhia.
Diante desse cenário, resta a dúvida: os investidores vão sustentar o rali ou o mercado voltará a corrigir os preços rapidamente?