Em uma trama inédita no Reino Unido, uma vovó de 65 anos foi acusada de comandar uma rede criminosa familiar responsável por movimentar milhões em cocaína, usando filhos e parentes em operações sofisticadas e viagens internacionais.
Em julho deste ano, a Justiça britânica sentenciou a britânica Deborah Mason, de 65 anos, a 20 anos de prisão por liderar uma rede criminosa familiar especializada na distribuição de cocaína em larga escala no Reino Unido.
O caso ganhou destaque internacional pelo perfil improvável da principal ré: uma vovó que, segundo a promotoria, recrutou seus próprios filhos, irmã e parceiros para comandar um esquema de tráfico de drogas avaliado em até 110 milhões de dólares, o equivalente a cerca de R$ 615 milhões, de acordo com valores atualizados.
As investigações começaram em abril de 2023, quando agentes da Polícia Metropolitana de Londres, atuando de maneira disfarçada, observaram movimentos suspeitos em um centro comercial próximo ao porto de Harwich, no condado de Essex.
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Na ocasião, Mason foi vista carregando caixas em um veículo alugado e, pouco depois, entregando uma sacola pesada a um desconhecido em Ipswich, cidade do leste inglês.
O veículo havia sido monitorado desde sua saída de Londres na noite anterior.
As autoridades já tinham recebido alerta sobre o carro, considerado suspeito por circular em áreas frequentemente associadas ao tráfico.
Estrutura do império de drogas e comunicação por aplicativo criptografado
De acordo com depoimentos colhidos no tribunal de Londres, Deborah Mason, apelidada de “gângster Debbs” e também chamada de “abelha rainha” pela própria família, organizava a logística do grupo utilizando um sofisticado esquema de comunicação.
As conversas sobre operações e entrega de drogas eram realizadas por meio do aplicativo Signal, reconhecido pela criptografia que dificulta o rastreamento das mensagens.
Os membros da quadrilha utilizavam codinomes para dificultar a identificação durante o transporte das mercadorias, que geralmente saíam dos portos de Harwich, Folkstone e Dover, importantes pontos de entrada de drogas na Grã-Bretanha.
O padrão das operações incluía a coleta de pacotes de cocaína cuidadosamente embalados, o transporte em sacolas de supermercados e a distribuição para diversos pontos do Reino Unido.
Durante sete meses, a rede de Mason movimentou pelo menos 356 quilos de cocaína, realizando entregas em cidades como Londres, Cardiff, Bristol, Sheffield, Rotherham, Manchester, Bradford, Southend, Leicester e Walsall.
Segundo a promotoria, o valor de atacado das drogas girava entre 30 e 40 milhões de dólares (R$ 168 a R$ 220 milhões), com potencial de alcançar até 110 milhões de dólares nas ruas.
Envolvimento familiar e penas aplicadas
Além de Deborah Mason, a rede envolvia todos os seus quatro filhos, sua irmã e parceiros próximos.
O filho Reggie Bright, de 24 anos, foi responsabilizado por transportar ao menos 90 quilos de cocaína em 12 viagens, sempre acompanhado de familiares ou da parceira, Demi Kendall, de 31 anos.
A filha mais velha, Demi Bright, teve participação ativa em cerca de 60 quilos transportados.
Outras filhas, Roseanne Mason, de 30 anos, e Lillie Bright, de 27, também figuram entre os condenados, com registros de várias viagens e entregas de droga por diferentes regiões do país.
No total, o tribunal de Londres condenou o grupo a penas que variam de 10 a 20 anos de prisão.
Uma amiga da família, Anita Slaughter, de 44 anos, foi identificada como cúmplice e também recebeu condenação.
Chloe Hodgkin, companheira de Lillie Bright, aguarda sentença após o nascimento do filho, conforme informações do processo.
Vovó tinha papel de comando e estratégias do grupo
Durante o julgamento, o juiz Philip Shorrock destacou a liderança de Mason, classificando-a como “capataz da obra que trabalhava sob as ordens de um gerente de projeto”.
Em sua fala, ressaltou que a ré “deveria ter dado exemplo aos filhos, não corrompê-los”.
A promotora Charlotte Hole detalhou a função da acusada: “Ela organizava os motoristas, mantinha contato telefônico desde a madrugada para garantir que todos estivessem acordados e monitorava as operações ao longo do dia”.
Vovó tinha luxo financiado pelo tráfico e vida de ostentação
O modo de vida de Deborah Mason também chamou a atenção das autoridades e do público.
O lucro obtido com o tráfico sustentava gastos extravagantes, incluindo acessórios de grife, viagens internacionais e itens de luxo para o animal de estimação.
Em uma das operações policiais, Mason foi encontrada algemada ao lado de uma toalha da marca DKNY, símbolo do padrão de consumo do grupo.
Entre as aquisições mais inusitadas, uma coleira Gucci de 520 dólares (R$ 2.900) para o gato Ghost e uma placa de ouro de nove quilates com o nome do animal.
Além do envolvimento direto no tráfico, Mason recebia benefícios sociais do governo britânico, totalizando 65 mil dólares (R$ 360 mil), conforme a promotora.
O dinheiro circulava não apenas para financiar o próprio luxo, mas também para bancar as viagens frequentes da família: destinos incluíram Dubai, Bahrein, Cornualha, Malta, Praga e Polônia, de onde Mason continuava a coordenar as atividades criminosas por meio de videochamadas.
Impacto social e reação das autoridades
O promotor Robert Hutchinson classificou o caso como fora do comum: “Em vez de cuidar e proteger seus familiares, Deborah Mason os recrutou para montar uma organização criminosa extraordinariamente rentável que, no fim das contas, levou todos para a prisão”.
As investigações não encontraram indícios de coerção ou ameaça para que os familiares integrassem o esquema; conforme a promotoria, todos agiam em busca de lucro financeiro.
O detetive Jack Kraushaar, responsável pela investigação, descreveu a quadrilha como “sofisticada e extremamente lucrativa para os envolvidos”.
Segundo ele, “o grupo foi atraído de maneira egoísta pelos ganhos financeiros do tráfico de drogas para sustentar estilos de vida luxuosos”.
Império de drogas e desafios para o sistema de justiça
O impacto do caso repercute na sociedade britânica, evidenciando a capacidade de infiltração de organizações criminosas até mesmo em estruturas familiares aparentemente comuns.
Especialistas em segurança destacam que o uso de aplicativos criptografados, como o Signal, tem representado um desafio adicional para o trabalho policial e de inteligência, exigindo cada vez mais investimentos em tecnologia para combater o crime organizado.
Diante da estrutura montada pela vovó Mason e seus familiares, surge uma questão: de que maneira a atuação de redes criminosas familiares desafia o sistema de justiça e as estratégias de prevenção ao tráfico de drogas no Reino Unido e em outros países?