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A vida nos “apartamentos-caixão” de Hong Kong: quando morar vira sobreviver em espaços de nove metros quadrados

Publicado em 19/10/2025 às 22:14
Em Hong Kong, os apartamentos-caixão revelam a crise habitacional e o colapso da moradia: viver em poucos metros quadrados virou regra.
Em Hong Kong, os apartamentos-caixão revelam a crise habitacional e o colapso da moradia: viver em poucos metros quadrados virou regra.
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Na cidade mais cara da Ásia, os apartamentos-caixão se tornaram símbolo da desigualdade urbana: espaços minúsculos, sem janelas e com banheiros compartilhados, onde o sonho de morar virou ato de resistência.

Em Hong Kong, o custo da moradia alcançou níveis tão altos que milhares de pessoas vivem comprimidas em “apartamentos-caixão” unidades com menos de nove metros quadrados, muitas vezes sem ventilação, onde o conforto foi substituído pela necessidade. A cidade que ostenta arranha-céus de luxo e um dos metros quadrados mais caros do mundo convive com uma realidade subterrânea: a da sobrevivência em espaços projetados para o mínimo do mínimo.

De acordo com o portal do G1, no coração dessa metrópole, famílias inteiras compartilham quartos menores que um banheiro padrão, empilhando móveis, roupas e esperanças. Cada metro vale tanto que a dignidade se mede em centímetros. O fenômeno é o retrato de uma crise habitacional estrutural, alimentada por especulação, desigualdade e ausência de alternativas viáveis.

Quando o lar vira caixa: a anatomia dos microespaços

A vida nos “apartamentos-caixão” de Hong Kong: quando morar vira sobreviver em espaços de nove metros quadrados

Os apartamentos-caixão são cômodos individuais instalados em prédios antigos e subdivididos com divisórias finas de madeira ou metal. Cada unidade costuma ter entre quatro e nove metros quadrados, sem janelas, com banheiro e cozinha compartilhados entre dezenas de moradores.

Dentro dessas “caixas humanas”, há televisão, cama, microgeladeira e pilhas de objetos que preenchem todos os cantos. O espaço é tão exíguo que é preciso dobrar as pernas para dormir ou usar a cama como mesa. Ainda assim, o aluguel chega a R$ 1.400 mensais, valor que em muitas capitais brasileiras pagaria um apartamento de tamanho médio.

O cotidiano que cabe em um quadrado

Miss Lee, uma das moradoras, vive cercada por sacolas e uma pequena cachorrinha, Bibi. “Morar lá é devastador. Sinto falta da minha casa. Quero voltar ao mundo de quando era pequena”, desabafa.
Gam-Tin Ma, vizinho de corredor, resume a convivência: “Somos só pessoas aleatórias num mesmo lugar. Não queremos ser inimigos nem amigos.”

Em ambientes tão restritos, a intimidade desaparece e o silêncio é luxo. Barulhos, cheiros e calor se misturam. Não há privacidade, apenas coabitação funcional. O que antes era um lar passou a ser apenas um ponto de repouso entre o trabalho e o amanhã.

O motor da crise: desigualdade e especulação

O fenômeno dos apartamentos-caixão é consequência direta da bolha imobiliária de Hong Kong, onde o preço médio de um imóvel é 20 vezes maior que a renda anual de um trabalhador comum.
A falta de terrenos disponíveis e o domínio de poucos conglomerados imobiliários criaram um sistema em que a moradia virou ativo financeiro, não direito social.

Segundo especialistas, a precarização do trabalho com salários estagnados e jornadas extensas empurrou uma parcela da população para essas microestruturas. É uma cidade que não abriga seus próprios trabalhadores, mas reserva metros quadrados de luxo para o capital estrangeiro.

Política habitacional em colapso

Para Betty Xiao Wang, professora da Universidade de Hong Kong, o dilema é ético e logístico: “Se o governo proibisse os apartamentos-caixão, milhares de pessoas simplesmente não teriam para onde ir.
A falta de moradias públicas suficientes torna os minúsculos cubículos uma alternativa involuntária, porém a única possível para quem ganha pouco e não quer viver nas ruas.

Mesmo com projetos de habitação social em andamento, a fila de espera ultrapassa anos. A consequência é visível: corredores improvisados como dormitórios, cozinhas divididas por vinte pessoas e crianças crescendo em espaços sem janelas nem luz solar direta.

O contraste urbano: luxo acima, confinamento abaixo

Enquanto o alto da cidade brilha com torres de vidro e vistas panorâmicas, o subsolo social abriga uma população invisível. Hong Kong ostenta o maior número de arranha-céus do planeta, mas também uma das maiores densidades populacionais da Terra.
No mesmo quarteirão onde um apartamento de luxo custa milhões de dólares, há pessoas pagando caro por nove metros de concreto, dividindo o ar e o espaço.

Essa contradição revela uma cidade partida, em que a modernidade convive com o colapso humanitário. Morar virou um verbo que, para muitos, significa apenas sobreviver.

Entre o pragmatismo e a urgência

Autoridades locais argumentam que a proibição imediata desses espaços agravaria a crise, expulsando milhares para a rua. Organizações sociais, porém, defendem reformas estruturais e subsídios habitacionais urgentes, com foco em aluguel social, redistribuição de áreas ociosas e construção de unidades compactas com dignidade mínima.

Enquanto isso, os “apartamentos-caixão” seguem proliferando, agora vendidos como “microapartamentos” para profissionais solteiros uma tentativa de normalizar a compressão do espaço e monetizar a escassez.

Os apartamentos-caixão são mais que um problema urbano; são um sintoma de um modelo econômico excludente. Morar em Hong Kong virou um privilégio, não um direito, e o que resta para milhares de pessoas é apenas encaixar a vida em nove metros quadrados.

Você conseguiria viver em um apartamento-caixão por necessidade?
Acredita que cidades com alto custo de vida, como Hong Kong, São Paulo ou Nova York, caminham para o mesmo destino? Deixe nos comentários sua opinião sobre até onde vai o preço da moradia e o que ainda pode ser considerado “viver”.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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