Trabalhar embarcado em uma plataforma de petróleo no Brasil envolve longas jornadas, isolamento do convívio familiar, rígidas regras de segurança e uma rotina marcada por revezamentos intensos, em um ambiente hostil e remoto no meio do oceano.
Apesar de representar uma das principais fontes de energia do mundo, o trabalho em plataformas offshore exige muito mais do que conhecimento técnico. Localizadas em regiões marítimas isoladas, essas estruturas abrigam centenas de trabalhadores que precisam se adaptar a uma vida confinada, com regras próprias, alto risco e deslocamentos complexos.
Nas plataformas, os profissionais atuam em turnos de 12 horas por até 14 dias seguidos, seguidos de 21 dias de folga. A rotina é intensa e repetitiva: trabalho, refeitório, dormitório. O descanso é feito em cabines coletivas com beliches e banheiros compartilhados. Para aliviar a tensão, algumas unidades oferecem sala de jogos, academia e acesso à internet para contato com a família.
A vida sobre uma “ilha de ferro”
A rotina não perdoa o cansaço. Durante as 12 horas de trabalho, operadores, técnicos, engenheiros e auxiliares enfrentam tarefas pesadas em ambientes barulhentos, oleosos e exigentes. Nos intervalos, há quem corra em volta do heliponto ou mantenha o contato com familiares por vídeo chamada como forma de aliviar a solidão.
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Os riscos fazem parte do dia a dia. Devido à presença constante de combustíveis e gases inflamáveis, cada plataforma conta com protocolos rigorosos de combate a incêndios, equipamentos de proteção e botes de evacuação chamados de baleeiras. Treinamentos periódicos garantem que todos saibam como agir em caso de emergência.
A segurança é levada ao extremo. Em caso de incêndio na cozinha, por exemplo, todos devem vestir macacões especiais, coletes salva-vidas e se dirigir ao ponto de encontro. Plataformas modernas são obrigatoriamente equipadas com botes fechados, prontos para lançamento em alto-mar em poucos segundos.
Do continente ao mar: o desafio do deslocamento
Chegar até uma plataforma offshore é uma missão logística delicada. Os profissionais embarcam a partir de cidades como Macaé (RJ) ou Aracaju (SE), percorrendo longas distâncias por ônibus, carros e helicópteros. O trajeto pode levar até dois dias, dependendo da origem do trabalhador.
Helicópteros são os meios preferenciais para a travessia final. Isso porque as plataformas, em sua maioria, possuem helipontos próprios e estão posicionadas em áreas de mar agitado, o que dificulta a aproximação por grandes embarcações. Em dias de mau tempo, o pouso pode ser adiado por horas.
A operação logística também envolve o transporte de alimentos, água potável, peças de reposição e até médicos. Algumas plataformas possuem enfermarias com profissionais de plantão 24 horas, prontos para prestar atendimento de emergência e, se necessário, solicitar evacuação aérea.
Perfuração, extração e o papel dos FPSOs
No Brasil, a maior parte da produção offshore está concentrada na Bacia de Santos, com destaque para o campo de Mero. Lá, atua a unidade FPSO Guanabara, operada pela Petrobras. FPSO é a sigla para Floating Production Storage and Offloading, uma estrutura flutuante capaz de produzir, armazenar e transferir petróleo.
Essas plataformas flutuantes são verdadeiras cidades no mar, com capacidade para armazenar até 1 milhão de barris de petróleo. Os poços são perfurados por sistemas automatizados enquanto equipes monitoram a pressão, a viscosidade dos fluidos e o transporte da produção para navios de apoio.
Em outras partes do mundo, como na Noruega, o campo Goliat se destaca com uma unidade semelhante construída na Coreia do Sul e transportada por 63 dias até o Círculo Polar Ártico. A operação foi feita pelo navio Dockwise Vanguard, o maior do mundo no transporte de cargas pesadas marítimas.
Impacto ambiental e futuro da indústria
Apesar da relevância econômica, a exploração offshore ainda enfrenta críticas pelo impacto ambiental. A queima de derivados do petróleo como gasolina, diesel e querosene libera gases poluentes na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2), que contribui para o efeito estufa e o aquecimento global.
Por isso, países como Brasil, Estados Unidos e Japão têm investido em alternativas como energia solar, eólica e o promissor hidrogênio verde. Ainda assim, o petróleo segue como matriz energética predominante em diversos setores industriais e logísticos.
Mesmo com seus riscos e limitações, a profissão embarcada continua sendo uma escolha de muitos brasileiros. Além dos salários atrativos, o trabalho oferece aprendizado intenso, convivência multicultural e uma experiência única de superação pessoal e profissional em um ambiente extremo.
As informações foram organizadas com base em dados públicos da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Petrobras, relatórios técnicos da indústria offshore e no conteúdo audiovisual publicado pelo canal Tecnologia Portuária no YouTube.