Entenda por que usar a “banguela” em carros com injeção eletrônica não economiza combustível, aumenta os riscos de acidentes e ainda é uma infração de trânsito.
Descer uma ladeira com o carro em ponto morto, a famosa “banguela”, é um hábito comum entre muitos motoristas brasileiros. A crença é que a prática ajuda na economia de combustível. No entanto, em carros modernos com injeção eletrônica, essa ideia não passa de um mito perigoso. A verdade é que, além de não economizar, a “banguela” aumenta o consumo, sobrecarrega os freios e diminui a segurança do veículo.
Por que a “banguela” funcionava nos carros antigos?
A ideia de que o ponto morto gera economia não surgiu do nada. Ela é uma herança dos tempos dos carros com carburador. Nesses veículos mais antigos, o sistema de alimentação era puramente mecânico. A quantidade de combustível consumida estava diretamente ligada à rotação do motor.
Ao descer em ponto morto, o motor caía para a rotação de marcha-lenta, consumindo o mínimo de combustível apenas para se manter ligado. Se o carro estivesse engrenado, o movimento das rodas forçaria o motor a girar mais rápido, o que faria o carburador injetar mais combustível.
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Portanto, na era do carburador, a “banguela” era, de fato, uma estratégia de economia. Essa realidade mudou com a chegada da injeção eletrônica ao Brasil, iniciada com o Volkswagen Gol GTi em 1988 e que se tornou padrão em todos os carros novos a partir dos anos 2000.
A tecnologia que garante economia de verdade
Nos carros modernos, um computador chamado Unidade de Controle Eletrônico (ECU) gerencia o motor. Esse “cérebro” analisa dados de vários sensores para otimizar o desempenho e a economia do consumo. Ele possui um sistema chamado “cut-off”, que é o verdadeiro responsável por derrubar o mito da “banguela”.
Quando o motorista desce uma ladeira com o carro engrenado e sem pressionar o acelerador, a ECU entende que não é preciso gerar força. Sob essas condições, o sistema “cut-off” interrompe completamente o envio de combustível para o motor. O consumo se torna, literalmente, zero. O motor continua girando, movido pela energia das próprias rodas, um efeito conhecido como freio-motor.
Em contrapartida, ao usar o ponto morto, a ECU precisa injetar combustível continuamente para manter o motor funcionando em marcha-lenta. A comparação é clara:
- Carro Engrenado: O sistema “cut-off” é ativado e o consumo de combustível é nulo.
- Carro em Ponto Morto: O motor funciona em marcha-lenta e há um consumo constante de combustível.
Mais do que desperdício, um risco à segurança
Além de não gerar economia e ainda gastar mais combustível, a “banguela” é extremamente perigosa. O principal risco está na sobrecarga do sistema de freios. Sem o auxílio do freio-motor, toda a responsabilidade de controlar a velocidade do veículo recai sobre as pastilhas e discos.
Em descidas longas, o uso contínuo dos freios gera um calor excessivo. Esse superaquecimento pode causar a “fadiga” dos freios, um fenômeno onde eles perdem drasticamente a capacidade de frenagem. No pior cenário, o fluido de freio pode ferver, criando bolhas de ar no sistema e causando uma falha completa e catastrófica.
Além disso, em ponto morto, o carro fica “solto”, perdendo estabilidade e controle. Se for preciso acelerar para desviar de um obstáculo, o motorista perde um tempo precioso para engatar a marcha correta antes de poder reagir.
Como usar o freio-motor para segurança e economia
A técnica correta para descer ladeiras une segurança e a máxima economia de combustível. A regra de ouro é: desça a serra ou ladeira usando a mesma marcha que você usaria para subi-la. Essa marcha geralmente oferece a força ideal do freio-motor para manter a velocidade sob controle.
Use o freio-motor para manter uma velocidade constante e segura. Os freios de serviço (o pedal) devem ser usados de forma suave e intermitente, apenas para ajustes finos de velocidade ou paradas. Essa sinergia entre os dois sistemas garante controle total, evita o desgaste dos componentes e previne o superaquecimento. Em carros automáticos, use as posições “L” (Low), “2”, “3” ou o modo manual para ativar o freio-motor.
“Andar na banguela” é ilegal? O que diz o código de trânsito brasileiro
Para reforçar a gravidade da prática, a lei brasileira a proíbe. O Artigo 231, Inciso IX, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) classifica como infração “transitar com o veículo desligado ou desengrenado em declive”.
A desobediência acarreta as seguintes penalidades:
Tipo de Infração: Média.
Pontuação: 4 pontos na CNH.
Multa: R$ 130,16.
Medida Administrativa: Retenção do veículo até a regularização.
Portanto, a “banguela” é uma prática que prejudica o seu bolso, coloca sua vida em risco e ainda pode gerar multa. A condução consciente, utilizando o freio-motor, é o único caminho para uma verdadeira economia e, acima de tudo, para a segurança no trânsito.