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A usina hidrelétrica que moveu mais terra que o Canal do Panamá, tornando-se a obra de infraestrutura mais polêmica e monumental do Brasil

Escrito por Carla Teles
Publicado em 13/06/2025 às 23:55
Atualizado em 15/06/2025 às 14:24
A usina hidrelétrica que moveu mais terra que o Canal do Panamá, tornando-se a obra de infraestrutura mais polêmica e monumental do Brasil
Conheça a história da usina hidrelétrica de Belo Monte. Descubra a engenharia, os impactos na Amazônia e as polêmicas da monumental obra brasileira. Foto: Norte Energia
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Conheça a história da monumental usina hidrelétrica que moveu mais terra que o Canal do Panamá, alterou um rio amazônico e gerou um legado de impactos sociais e ambientais.

No coração da Amazônia, a usina hidrelétrica de Belo Monte redefiniu a paisagem do Rio Xingu, no Pará. Sua construção exigiu a escavação de um volume de terra e rocha superior ao do Canal do Panamá. O projeto desviou o curso de um rio, inundou uma área florestal do tamanho de uma metrópole e se tornou a obra de infraestrutura mais monumental e controversa do Brasil no século XXI.

A engenharia por trás da usina hidrelétrica

A magnitude da usina hidrelétrica de Belo Monte é um feito de engenharia. Para domar a “Volta Grande do Xingu”, um trecho de 100 km com desnível suave, a solução foi criar uma queda d’água artificial. Isso exigiu uma reengenharia radical do rio.

O complexo não é apenas uma barragem, mas um sistema de estruturas. No Sítio Pimental, uma barragem de 6,7 km de comprimento desvia a maior parte da água para um canal. Esse Canal de Derivação, com 20,2 km de extensão, é a obra mais invasiva.

A escavação para construí-lo totalizou cerca de 200,7 milhões de metros cúbicos (m3) de material, volume comparável aos 204,9 milhões de m3 removidos na construção do Canal do Panamá. No final do canal, no Sítio Belo Monte, uma casa de força principal com 18 turbinas gera a maior parte da energia.

O impulso político e os interesses por trás do projeto

A usina hidrelétrica de Belo Monte superou o Canal do Panamá em escavação. Veja os custos, a engenharia e as consequências desta obra monumental. Foto: Norte Energia
A usina hidrelétrica de Belo Monte superou o Canal do Panamá em escavação. Veja os custos, a engenharia e as consequências desta obra monumental. Foto: Norte Energia

Belo Monte foi a obra mais emblemática do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. A justificativa oficial se baseava na necessidade de segurança energética para o país. O governo prometia eletricidade para 26 milhões de pessoas, além de ser uma fonte de energia limpa e competitiva.

Também anunciava a criação de milhares de empregos diretos e indiretos. Dilma Rousseff, como ministra e depois presidente, foi a principal defensora do projeto, afirmando que a usina hidrelétrica era “boa, importante para o país, e vai ser feita!”. A obra foi concedida ao consórcio Norte Energia S.A., e o consórcio construtor incluía gigantes da engenharia brasileira, como Queiroz Galvão e Mendes Júnior. Essas empresas foram as beneficiárias diretas dos contratos multibilionários.

O custo humano e ambiental: vidas e ecossistemas afetados

A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte é um tema de intensos debates, com críticas sobre seus altos custos sociais e ambientais. Alega-se que a obra resultou no deslocamento forçado de mais de 40.000 pessoas e na inundação de 478 km², impactando populações indígenas e ribeirinhas. Em contrapartida, a Norte Energia, responsável pelo empreendimento, informa que, para atender às famílias, criou seis bairros planejados em Altamira com 3.800 casas, escolas e Unidades Básicas de Saúde, destacando que muitas dessas famílias viviam anteriormente em áreas de risco e sem saneamento. Sobre a área inundada, a empresa esclarece que os 478 km² correspondem ao tamanho do reservatório e que “grande parte dessa área não foi inundada porque já pertencia ao próprio leito do rio Xingu”.

Um dos pontos mais críticos foi o impacto sobre a cidade de Altamira, que teria entrado em colapso com a duplicação da população, sobrecarregando serviços e aumentando a violência. A Norte Energia contrapõe esses dados, afirmando que a população, segundo o IBGE, cresceu de 99 mil (2011) para 126 mil (2022), e não dobrou. A empresa também cita um vasto programa de investimentos como contrapartida, que incluiu a construção de dois hospitais, 65 UBS, 62 escolas, a implementação de 509 km de redes de saneamento que hoje cobrem 92% da área urbana de Altamira, e investimentos em segurança pública. Além disso, a empresa afirma ter pago R$ 1,2 bilhão em royalties desde o início da operação.

A alegação de que a Justiça Federal teria reconhecido os impactos como um “etnocídio” é rebatida pela Norte Energia, que afirma que “não há, até o momento, nenhuma decisão da Justiça Federal em que conste esse reconhecimento”. A companhia reforça que mantém um diálogo permanente com os povos indígenas e apoia diversas ações de valorização cultural e geração de renda, como a criação das primeiras marcas de chocolates indígenas do Xingu e a formação de professores. A empresa destaca ainda que nenhuma Terra Indígena foi alagada e que a população indígena atendida por suas ações na região cresceu de 3 mil para cerca de 5.800 pessoas.

No campo ecológico, aponta-se que o desvio do fluxo de água afetou a migração de peixes (piracema) e destruiu a principal fonte de alimento e renda local. A Norte Energia responde que, segundo monitoramento, a maioria das espécies mantém seus ciclos reprodutivos, inclusive no Trecho de Vazão Reduzida (TVR), e que alterações em peixes podem estar ligadas a outros fatores, como garimpo ilegal e desmatamento. Sobre a segurança alimentar, a empresa afirma que o consumo de pescado na região (33 kg/ano por pessoa) permanece 275% acima da recomendação da OMS, indicando que o peixe continua sendo uma fonte de proteína relevante.

Por fim, a crítica de que a decomposição da vegetação no reservatório liberou grandes quantidades de metano (CH4​) é contestada por um estudo da COPPE/UFRJ, divulgado pela empresa. Segundo a pesquisa, Belo Monte é a hidrelétrica que menos emite gases de efeito estufa na Amazônia e uma das mais eficientes do Brasil. O coordenador do estudo, professor Marco Aurélio dos Santos, afirma: “Tenho segurança em dizer que Belo Monte é um projeto muito bom sob as óticas do setor elétrico e ambiental”. A empresa complementa que, apenas em 2025 (até março), a usina evitou a emissão de 5,3 milhões de toneladas de CO2​ ao substituir a geração de energia por fontes térmicas.

Potência máxima vs. geração real da usina hidrelétrica de Belo Monte

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A geração de energia da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a maior 100% brasileira com 11.233,1 MW de capacidade instalada, é marcada por um paradoxo. Devido à grande variação sazonal do fluxo do Rio Xingu, sua “energia firme“, a garantia de geração contínua, é de 4.571 MW. Críticos apontam que essa intermitência, especialmente na estação seca, leva à necessidade de acionar usinas termelétricas, mais caras e poluentes, para compensar a queda na produção.

Por outro lado, a Norte Energia, empresa responsável pela usina, defende que Belo Monte contribui significativamente para a segurança energética nacional. Segundo a companhia, sua produção em períodos de alta vazão ajuda a manter os níveis dos reservatórios de outras regiões do país e diminui a necessidade de acionar fontes de energia mais caras e poluentes, principalmente em momentos de pico de consumo.

Como exemplo, a empresa cita dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) do dia 24 de fevereiro de 2025, quando, durante um pico de consumo nacional, Belo Monte respondeu por 12% de toda a demanda de energia elétrica do país. Nesse único dia, a geração da usina contribuiu para evitar a emissão de aproximadamente 93 mil toneladas de CO2​. A Norte Energia reforça que o projeto foi concebido para compatibilizar benefícios energéticos com as questões sociais e a preservação ambiental, reafirmando seu compromisso com o desenvolvimento sustentável.

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Fernando
Fernando
16/06/2025 08:34

Saudações respeitosas
Não podemos na minha opinião crucificar sem julgamento amplo, obras públicas com viés político partidário.
Teríamos que comparar Belmonte com outras hidroelétricas da planície amazônica e não com as super usinas dos nossos rios de planalto. Quem assim proceder irá verificar que muitas críticas aqui elencadas não procedem.
Devemos nos lembrar que se há necessidade de apoio complementar de termoelétricas, sem Belmonte elas teriam que ficar acionadas o tempo todo , e dimensionadas para a geração total da potência elétrica .
A manchete a comparando com a movimentação de terra com o canal do Panamá também não me parece adequada uma vez que pode sugerir que todo o território do Panamá foi escavado para unir os dois oceanos, oque não é verdade.
Barragens exigem normalmente enormes movimentações de terra, então, a comparação para não ser tendenciosa, deveria ser feita com outras barragens da região.
Belmonte tem também qualidades não mencionadas aqui, como sua alta relação entre kw produzido e área de floresta alagada. O projeto ao meu ver é o melhor que se pode obter para as condições locais, e estratégico para a integração e desenvolvimento da região, e deve ser motivo de orgulho de para nós brasileiros.
Obrigado pelo espaço de manifestação

Airton
Airton
15/06/2025 20:13

Da maneira como essa usina foi projetada, em função da pressão dos órgãos ambientais, ela nem deveria ser construída.
Não armazena água para produzir energia em todas as 18 turbinas nos períodos de seca. Portanto, no período de seca quase todas elas precisam ser desligadas.
Acredito que essa usina só dá prejuízo.
Muito mais proveitoso seria investir na conclusão de Angra 3 que está parada.

Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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