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A última capital planejada do Brasil foi desenhada do zero nos anos 80, tem avenidas de até 8 pistas e um fenômeno que mudou o clima da região

Escrito por Carla Teles
Publicado em 19/10/2025 às 22:49
A última capital planejada do Brasil foi desenhada do zero nos anos 80, tem avenidas de até 8 pistas e um fenômeno que mudou o clima da região
Descubra como a última capital planejada do Brasil, com suas avenidas de 8 pistas, criou ilhas de calor e mudou o próprio clima, segundo a ciência. Imagem: “FlavioAndre_UrbanismoeOrganizacao_Palmas_TO” por MTur Destinos, Public Domain Mark.
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Nascida do zero nos anos 80, Palmas foi projetada para ser a cidade do futuro, mas o desenho urbano da última capital planejada do Brasil criou um fenômeno climático inesperado, revelam estudos científicos.

Construída em tempo recorde no coração do Cerrado, Palmas é a materialização de um antigo sonho político e o mais recente grande experimento do urbanismo brasileiro. Concebida para ser o motor de desenvolvimento do recém-criado estado do Tocantins, a cidade se destaca por suas avenidas monumentais, com até oito pistas, e uma organização em quadras que buscou aprender com os erros e acertos de Brasília.

Contudo, por trás do planejamento racional, emergiu uma consequência não prevista: uma alteração significativa no microclima local. Embora muitos atribuam a mudança ao gigantesco lago que margeia a cidade, pesquisas aprofundadas apontam para outra direção. O verdadeiro responsável pelo aumento da temperatura não é a água, mas a própria estrutura de concreto e asfalto da última capital planejada do Brasil.

Uma capital por decreto: a escolha geopolítica por trás de Palmas

A criação de Palmas não foi um acidente, mas um ato político deliberado. Com a promulgação da Constituição de 1988, que oficializou a criação do estado do Tocantins a partir do desmembramento do norte de Goiás, a necessidade de uma nova capital tornou-se imediata. A decisão do primeiro governador, Siqueira Campos, foi ousada: em vez de adaptar uma cidade existente, ele optou por erguer uma metrópole do nada, um símbolo do novo estado. A escolha do local exato, no entanto, foi puramente estratégica e geopolítica.

Segundo a matéria “Arquitetos revelam detalhes da criação do projeto de Palmas”, que relata uma palestra com os criadores da cidade, Luís Fernando Cruvinel Teixeira e Walfredo Antunes de Oliveira Filho, o local tecnicamente mais adequado foi descartado. A decisão de construir a capital na margem direita do rio Tocantins teve o objetivo de fomentar o desenvolvimento em uma área historicamente marginalizada, rompendo com o antigo eixo de poder e criando um novo polo de crescimento. A pedra fundamental foi lançada em 20 de maio de 1989, e a capital foi oficialmente transferida em 1º de janeiro de 1990.

O DNA de Palmas: modernismo tardio e a correção de Brasília

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O projeto de Palmas é profundamente influenciado por suas predecessoras, especialmente Brasília. O artigo acadêmico “A ‘última capital planejada do século XX’: o projeto de Palmas e sua condição moderna” situa a cidade em um contexto de “modernismo tardio”. Os arquitetos adotaram a escala monumental e a lógica funcionalista vistas na capital federal, mas buscaram revisar e adaptar os conceitos para criar uma cidade mais integrada e com maior senso de comunidade.

A principal inovação está no conceito da quadra residencial. Diferente da superquadra de Brasília, caracterizada por prédios sobre pilotis em vastas áreas verdes, a quadra de Palmas foi pensada para ser uma “cidadela” autossuficiente. A ideia original era que cada grande quadra abrigasse comércio e serviços de uso diário, recriando a conveniência de um bairro tradicional. Foi uma tentativa de corrigir o que muitos criticavam em Brasília: o rigoroso zoneamento que separava moradia, trabalho e lazer, gerando uma forte dependência do automóvel.

Avenidas de 8 pistas: uma cidade projetada para o carro

Apesar da tentativa de criar uma vida comunitária mais rica em suas quadras, a macroestrutura de Palmas é um tributo ao transporte motorizado. O traçado urbano é definido por uma malha viária ortogonal e rigorosamente hierarquizada, cortada por eixos monumentais como as avenidas Teotônio Segurado (Norte-Sul) e Juscelino Kubitschek (Leste-Oeste). As avenidas largas, algumas com até oito pistas, foram projetadas para garantir fluidez e velocidade.

Essa estrutura, herdada diretamente do urbanismo modernista, prioriza a circulação de veículos em detrimento de pedestres e ciclistas. Embora o plano tenha sido bem-sucedido em evitar congestionamentos crônicos, ele também consolidou o carro como o principal meio de transporte. Essa característica, combinada com a baixa densidade populacional e a grande extensão da cidade, moldou profundamente o estilo de vida dos moradores e, como se descobriria mais tarde, o próprio clima da cidade.

O lago que mudou a paisagem, mas não o clima

Um dos elementos mais icônicos de Palmas é o imenso lago artificial formado pelo barramento do Rio Tocantins para a Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães. Com uma área de 626 km², o reservatório transformou a paisagem e se tornou o principal polo de lazer e turismo da capital. A percepção popular de que essa vasta massa de água “mudou o clima” da região é amplamente difundida, mas a ciência aponta para outra direção.

A dissertação de mestrado “A Influência da Vegetação sobre o Clima Urbano de Palmas-TO”, do arquiteto Luis Hildebrando Ferreira Paz, é a fonte científica crucial para essa análise. A pesquisa demonstrou, por meio de medições na cidade, que a morfologia urbana (áreas construídas versus áreas com vegetação) é o principal fator de alteração da temperatura, muito mais do que a influência do lago artificial.

Ilha de calor: o verdadeiro fenômeno climático de Palmas

O estudo de Luis Hildebrando Ferreira Paz identificou a formação do fenômeno de Ilhas de Calor Urbanas (ICU) em Palmas. Suas medições revelaram uma forte correlação entre as áreas construídas e o aumento da temperatura. Em contrapartida, áreas com vegetação densa, como parques, funcionam como “ilhas de frescor”, com temperaturas significativamente mais baixas, com diferenças que chegaram a 8 °C durante a pesquisa.

A conclusão é categórica: o principal motor da alteração térmica sentida pelos moradores não é o lago, mas a própria cidade. As vastas superfícies de asfalto e concreto absorvem e retêm o calor solar de forma muito mais eficiente que a vegetação nativa do Cerrado. O efeito do lago fica restrito à sua vizinhança imediata, sendo ofuscado pelo aquecimento gerado pela mancha urbana. A forma da cidade, com suas áreas pavimentadas, é a verdadeira causa da mudança microclimática.

Um modelo de sucesso com desafios de sustentabilidade

A última capital planejada do Brasil é, portanto, um estudo de caso sobre as consequências não intencionais do planejamento urbano. Embora tenha alcançado sucesso em muitos indicadores de qualidade de vida, seu modelo de desenvolvimento, focado no transporte individual, gerou um desafio ambiental concreto. O calor que se sente no centro de Palmas não vem da natureza do Cerrado, mas do sucesso de um projeto que privilegiou o concreto em detrimento do verde.

A forma como uma cidade é desenhada impacta diretamente o seu clima e a qualidade de vida dos moradores. Você já percebeu um efeito parecido na sua cidade? Acha que o planejamento urbano moderno leva em conta as consequências ambientais? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber como você vê o futuro das cidades brasileiras.

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Luciano Smitham
Luciano Smitham
19/10/2025 23:45

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Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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