Desenvolvida em universidade pública, uma inovação em materiais avançados coloca o Brasil em um seleto grupo de nações com domínio sobre a furtividade.
O Brasil desenvolveu uma “arma secreta” tecnológica. Trata-se de uma capacidade inovadora, nascida em uma universidade pública, para tornar equipamentos militares praticamente indetectáveis. Essa tecnologia brasileira não apenas moderniza as Forças Armadas, mas também atrai o interesse de potências estrangeiras, consolidando a soberania do país no setor de defesa.
Universidades públicas, institutos militares e a indústria
O avanço do Brasil em tecnologias de furtividade (stealth) não é um acaso. Ele resulta de um ecossistema de pesquisa e desenvolvimento (P&D) bem articulado. A colaboração envolve universidades públicas, institutos militares e a indústria de defesa.
As universidades públicas são o pilar acadêmico dessa evolução. A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba, é um grande destaque. Desde 2013, a UFCG colabora com as Forças Armadas no projeto MATEST (Materiais Estratégicos). O foco da universidade é a produção de nanomateriais cerâmicos, como as ferritas. Esses materiais são essenciais para absorver radiação eletromagnética e tornar equipamentos menos visíveis aos radares. A UFCG já possui uma planta piloto com capacidade para produzir até 60kg de nanomateriais por mês.
-
Homem esperou 17 anos para abrir garrafa de uísque antiga — o que aconteceu trouxe um aprendizado inesperado
-
Paia no litoral acorda com ‘mar seco’ e fenômeno inusitado preocupa moradores: entenda o que pode causar o recuo intenso da maré
-
A explicação por trás da memória olfativa: cheiros que nos transportam no tempo
-
Estes são os 10 eletrodomésticos que mais deram defeitos no Brasil em 2025, segundo Reclame Aqui e assistências, com gastos de manutenção que passam de R$ 2 mil por família
Os institutos militares transformam o conhecimento científico em soluções práticas. O Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), da Força Aérea Brasileira (FAB), desenvolveu e patenteou uma tinta com Material de Absorção de Radar (RAM). Chamada de “Rin”, essa tecnologia transforma a energia dos radares inimigos em calor, impedindo a detecção. O Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) também tem um longo histórico no desenvolvimento de tintas antirradar, com testes bem-sucedidos em submarinos. O Centro Tecnológico do Exército (CTEx) completa essa frente, pesquisando Materiais de Emprego Militar.
As principais tecnologias de furtividade
A base da “invisibilidade” militar está nos Materiais Absorvedores de Radiação (RAM). O Brasil domina diferentes abordagens para essa tecnologia.
Tintas Stealth: A tinta “Rin”, patenteada pelo IAE em 2016, é uma tecnologia 100% nacional. Ela possui características únicas em comparação com outras existentes no mundo. O IPqM, em parceria com a indústria (Avibras), também desenvolveu uma tinta com mais de 90% de poder de absorção na banda X, a frequência mais usada por radares militares.
Nanomateriais e Ferritas: A UFCG se destaca na produção de nanomateriais cerâmicos. Essas partículas, obtidas por um processo de reação de combustão, são a matéria-prima para criar os revestimentos furtivos. A qualidade do material brasileiro é comparável aos melhores produtos internacionais.
Compósitos e Elastômeros: Uma parceria entre o IPqM e a UFCG resultou em placas adesivas de material absorvedor. Diferente das tintas, que exigem várias demãos, essas placas já vêm na espessura ideal, facilitando a aplicação em superfícies de navios e outras plataformas.
Design Geométrico: Além dos materiais, o formato do equipamento é crucial. As futuras fragatas da Classe Tamandaré, da Marinha, terão uma “construção stealth”. Suas estruturas serão projetadas sem arestas ou protuberâncias, defletindo as ondas de radar para longe do inimigo.
Como as forças armadas usam a tecnologia brasileira
Essa tecnologia brasileira está sendo direcionada para equipar as plataformas mais estratégicas do país.
Força Aérea Brasileira (FAB): O principal candidato para receber a tinta stealth do IAE é o novo caça Gripen F-39. A aplicação da tinta aumentaria a capacidade de sobrevivência da aeronave em combate. Contudo, ainda não há confirmação oficial sobre a utilização do material nos caças operacionais.
Marinha do Brasil: A Marinha já testou a tecnologia com sucesso. O periscópio de um submarino Tapajó, revestido com a tinta do IPqM, tornou-se completamente invisível ao radar de uma aeronave. As novas Fragatas Classe Tamandaré também incorporarão o design furtivo e tintas especiais desde sua construção.
Exército Brasileiro: O CTEx pesquisa materiais de emprego militar, mas as aplicações específicas em plataformas terrestres são menos detalhadas. Potencialmente, a tecnologia pode ser usada em veículos blindados e postos de comando para reduzir sua detecção.
O impacto estratégico da tecnologia brasileira
O desenvolvimento de tecnologias de furtividade gera um impacto profundo para o Brasil. Taticamente, aumenta a capacidade de sobrevivência dos equipamentos e garante o elemento surpresa. Estrategicamente, o efeito é ainda maior.
Ao dominar essa área, o Brasil reduz sua dependência de fornecedores estrangeiros. Isso é um pilar da soberania nacional, pois evita que o país fique vulnerável a embargos ou restrições geopolíticas. O domínio de tintas RAM coloca o Brasil em um grupo seleto de países, como EUA, França e Japão, o que eleva o prestígio internacional do país e sua capacidade de dissuasão.
A “cobiça por potências estrangeiras” deve ser entendida como um forte interesse estratégico e tecnológico no nível alcançado pelo Brasil. Esse reconhecimento valida a importância das inovações nacionais. A verdadeira força da tecnologia brasileira está em garantir a autonomia e fortalecer a Base Industrial de Defesa (BID), consolidando o Brasil como um ator relevante no cenário global.