Com uma constelação de satélites em órbita baixa, a AST SpaceMobile quer acabar com a dependência de antenas e levar internet 4G e 5G para qualquer celular comum no mundo – mesmo em áreas rurais e isoladas.
Imagine estar no meio da Amazônia, em uma estrada rural no interior do Piauí ou navegando no Atlântico sem uma torre de celular por perto — e mesmo assim conseguir acessar a internet no seu celular, sem depender de Wi-Fi, sem mudar de chip e sem instalar nada. Parece exagero, mas já está acontecendo. A responsável por essa tecnologia que desafia tudo o que conhecemos sobre telecomunicações é uma empresa americana chamada AST SpaceMobile, avaliada em cerca de R$ 10 bilhões (US$ 2 bilhões). A proposta é simples de entender, mas complexa de executar: internet via satélite usar, usando satélites para enviar sinal 4G e 5G diretamente para smartphones comuns.
Sim, você leu certo. Não estamos falando de internet via satélite como a Starlink, que exige antenas, cabos e equipamentos específicos. A ideia aqui é se conectar direto do espaço usando o mesmo chip do seu celular atual — mesmo sem sinal da operadora.
A empresa já fez chamadas reais usando esse sistema e promete cobertura global até 2026. O projeto pode mudar para sempre o acesso à internet em comunidades remotas, áreas rurais e regiões de difícil acesso, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.
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A empresa que quer derrubar as torres de celular com internet via satélite
A AST SpaceMobile tem sede no Texas, nos Estados Unidos, e foi fundada pelo empresário Abel Avellan, um veterano do setor espacial. A proposta da empresa é ousada: criar a primeira rede de internet móvel do mundo baseada inteiramente no espaço, com satélites de alta capacidade operando em órbita baixa (LEO).
A diferença em relação a empresas como Starlink, Kuiper (da Amazon) ou OneWeb é que os satélites da AST são construídos especificamente para conversar com celulares normais. Isso significa que não será necessário nenhum equipamento novo, apenas o telefone que você já tem no bolso.
A promessa é de cobertura global e constante, capaz de alcançar regiões onde nem mesmo os drones de telecomunicação chegam hoje.
Como essa tecnologia funciona?
Os satélites da AST, chamados BlueBird, possuem antenas gigantescas com área de até 64 metros quadrados. Quando em operação, eles funcionam como torres de celular flutuantes, cobrindo áreas enormes da superfície terrestre com sinal 4G ou 5G.
Eles operam em baixa altitude (cerca de 700 km da Terra), o que reduz o tempo de resposta da comunicação e permite melhor conectividade. O celular detecta o satélite como se fosse uma antena terrestre, sem precisar de adaptação.
Ou seja: você pode estar em uma floresta densa, em alto-mar ou no sertão nordestino e continuar com sinal no celular — desde que esteja na rota do satélite. A expectativa é que, com dezenas ou centenas desses satélites em órbita, a cobertura se torne contínua.
A primeira chamada de celular feita direto com o espaço
Em abril de 2023, a AST SpaceMobile entrou para a história ao realizar a primeira chamada de voz do mundo usando um celular comum conectado diretamente a um satélite. O teste foi feito com um Samsung Galaxy S22, sem modificações.
A ligação aconteceu entre dois continentes: Texas (EUA) e Japão, usando o satélite BlueWalker 3 — o protótipo mais avançado da empresa até então.
E não parou por aí: a empresa também testou transmissão de dados 4G e, mais recentemente, começou os primeiros testes de sinal 5G via satélite. A qualidade do sinal ainda depende do posicionamento dos satélites, mas os testes iniciais foram considerados um sucesso.
Por que a tecnologia de internet via satélite pode ser revolucionária no Brasil
Poucos países seriam tão beneficiados por esse tipo de tecnologia quanto o Brasil. Dados da Anatel indicam que mais de 3.000 localidades brasileiras ainda vivem em áreas chamadas de “sombra”, onde o sinal das operadoras é inexistente ou extremamente fraco.
Esse problema é especialmente comum em:
- Regiões amazônicas e ribeirinhas
- Comunidades rurais do Centro-Oeste e Nordeste
- Cidades pequenas com relevo montanhoso
- Áreas costeiras afastadas
- Caminhos de ferro e estradas remotas
A AST SpaceMobile poderia resolver esses gargalos sem a necessidade de construir torres, antenas ou cabeamento — o que reduziria custos e tempo de implantação.
Além disso, o sinal via satélite pode servir como plano de contingência em desastres naturais, apagões, inundações ou acidentes que derrubem a infraestrutura local.
Quanto vai custar a internet via satélite da AST SpaceMobile?
A empresa ainda não divulgou quanto custará o serviço para o consumidor final, mas a proposta é operar em parceria com as operadoras já existentes, como a Vivo, Claro, TIM, Vodafone, AT&T e outras.
Isso significa que, ao invés de vender planos diretamente ao público, a AST deve permitir que as operadoras ofereçam pacotes híbridos com cobertura terrestre e espacial integrada.
Em áreas urbanas, a internet via satélite pode ser usada como backup automático, acionado quando o sinal das torres cair. Já em áreas rurais e regiões isoladas, seria a única fonte de internet viável — com velocidade compatível com 4G e até 5G.
Qual é o plano da empresa?
A AST pretende lançar uma constelação com mais de 100 satélites BlueBird até 2026, cobrindo todos os continentes. Os próximos lançamentos estão sendo preparados com o apoio da SpaceX e outros parceiros espaciais.
A empresa já recebeu investimentos de mais de US$ 1 bilhão e tem contratos de fornecimento de sinal com várias operadoras. Inclusive, há movimentações para atuação na América Latina, com interesse explícito no mercado brasileiro.
No papel, o modelo da empresa é extremamente lucrativo: ela não precisa construir redes físicas, apenas lançar os satélites e vender o sinal para as operadoras — que então vendem planos aos consumidores finais.
Qual o risco para as operadoras tradicionais?
Se a tecnologia da AST se provar confiável, o papel das torres de celular pode perder força em muitas regiões. Isso pode afetar diretamente os modelos de negócios das operadoras atuais, que investem bilhões em infraestrutura terrestre.
Em países em desenvolvimento, o custo para levar internet às comunidades remotas é proibitivo. A AST pode se tornar uma alternativa mais barata, rápida e escalável — o que preocupa as gigantes do setor.
Por outro lado, as próprias operadoras podem se beneficiar, oferecendo sinal onde antes não conseguiam, sem ter que investir em expansão.
Concorrência no espaço: Starlink, Kuiper e Lynk
Embora a proposta da AST seja pioneira em se conectar com celulares comuns, ela não está sozinha nessa corrida. A Starlink (da SpaceX) já oferece internet via satélite, mas exige um terminal próprio. A Amazon Kuiper quer fazer o mesmo.
Outra concorrente direta é a Lynk Global, que também está testando sinal direto para celulares, mas ainda em estágio mais inicial.
O que diferencia a AST é o avanço dos testes reais e os acordos já fechados com operadoras globais — além do seu foco em uso comercial com celulares comuns, sem adaptadores ou apps.
A AST SpaceMobile pode ser o próximo salto na história da internet móvel. Se cumprir o que promete, a empresa não só vai conectar bilhões de pessoas que hoje estão excluídas do mundo digital, como pode redesenhar o futuro das telecomunicações.
Com um simples chip de celular, você poderá estar online onde quiser — direto do espaço, sem precisar de Wi-Fi, sem depender de infraestrutura física e sem complicação.
O Brasil, com sua vastidão territorial e desigualdade de acesso à internet, tem tudo para ser um dos países mais transformados por essa nova era da conectividade espacial.