Acordo Mercosul-União Europeia, em negociação há 25 anos, pode ser a chave para alavancar a economia brasileira e enfrentar desafios globais. No entanto, resistências francesas, instabilidades políticas e impactos econômicos geram incertezas. Saiba o que está em jogo para o Brasil e o mundo.
Uma negociação histórica envolvendo dois blocos econômicos gigantescos pode finalmente sair do papel.
Mas nem tudo é celebração: enquanto alguns enxergam no acordo entre Mercosul e União Europeia um caminho promissor para a economia brasileira, outros apontam desafios políticos, ambientais e comerciais que podem comprometer sua implementação.
Após 25 anos de negociações, o Mercosul e a União Europeia estão prestes a anunciar o que pode ser um dos maiores pactos comerciais da história.
- Governo tem data para lançar projeto ambicioso que recupera trecho de rodovia fundamental para o agro e indústria
- Dinheiro fácil? Só que não! Golpe do Petróleo faz mais de 5 MIL vítimas e rombo de R$ 15 MILHÕES
- Donald Trump aciona Elon Musk e pede que bilionário resolva um dos maiores desafios da Nasa nos últimos tempo: trazer de volta astronautas presos no espaço
- Após criar maior drone do mundo, empresa brasileira agora lança ‘ChatGPT do agro’
O acordo, que prevê a redução de tarifas e a facilitação de investimentos entre os dois blocos, promete criar um mercado integrado de 700 milhões de pessoas, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
De acordo com informações do BBC Brasil, o anúncio oficial deve ser feito ainda nesta semana durante a Cúpula do Mercosul, no Uruguai, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e líderes dos demais países sul-americanos.
Se concretizado, o acordo representará uma vitória política significativa para o governo Lula, especialmente após os impasses que marcaram os anos anteriores, como o congelamento ocorrido durante o governo Jair Bolsonaro devido às tensões com potências europeias.
No entanto, há uma longa jornada até que o tratado entre em vigor. A França, grande opositora do pacto, lidera uma coalizão de países que questionam os impactos do acordo, especialmente no setor agrícola.
Resistências e desafios políticos
O governo francês, sob a liderança de Emmanuel Macron, é um dos maiores críticos do acordo. A principal preocupação está relacionada à competição no setor agrícola.
Agricultores franceses temem perder espaço para produtos sul-americanos, produzidos com padrões ambientais e sanitários menos rigorosos.
Recentemente, o Carrefour, uma das maiores redes de supermercados da França, chegou a anunciar que deixaria de comprar carne do Mercosul, mas recuou após críticas.
Essa oposição reflete não apenas interesses econômicos, mas também questões políticas internas na França, que vive um momento de instabilidade com um Parlamento dividido e eleições antecipadas que fortaleceram a direita radical.
Especialistas ouvidos pelo BBC Brasil acreditam que a resistência francesa também tem raízes geopolíticas.
O avanço de influências externas, como China e Rússia, na América do Sul, pressiona os países europeus a reforçarem laços com o Mercosul.
Entretanto, Macron enfrenta pressões domésticas e internacionais que dificultam uma aprovação unânime dentro da União Europeia.
O papel de Donald Trump no cenário global
Outro fator que pode influenciar a decisão é o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
Conhecido por seu protecionismo, Trump prometeu impor novas tarifas sobre produtos estrangeiros, o que pode impulsionar Europa e Mercosul a buscarem alianças estratégicas para enfrentar os impactos econômicos.
Para Cairo Junqueira, professor da Universidade Federal de Sergipe, “a eleição de Trump pode servir como um catalisador para a aprovação do acordo, assim como ocorreu em 2019, quando houve a primeira assinatura.” A geopolítica, portanto, desempenha um papel crucial na viabilização do tratado.
Benefícios e preocupações econômicas para o Brasil
No Brasil, o acordo divide opiniões. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que o pacto pode aumentar o PIB brasileiro em 0,46% até 2040, o que equivale a US$ 9,3 bilhões por ano.
Além disso, as exportações brasileiras para a Europa devem crescer, especialmente em setores como commodities, enquanto produtos europeus, como veículos e medicamentos, se tornarão mais acessíveis para os consumidores brasileiros.
Por outro lado, sindicatos e organizações trabalhistas, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), temem que a redução de tarifas prejudique a indústria nacional.
“Empresas brasileiras podem não ser tão competitivas quanto as europeias, levando ao fechamento de fábricas e à perda de empregos,” alerta um comunicado da entidade.
Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) adota um tom mais otimista. Em um documento divulgado em novembro, a CNI defendeu que a integração comercial é essencial para fortalecer a economia brasileira e assegurar sua resiliência em tempos de crises globais.
Etapas para aprovação e entraves burocráticos
Mesmo que o acordo seja anunciado oficialmente, ele precisa passar por um processo longo e complexo para entrar em vigor.
Do lado do Mercosul, basta a aprovação dos parlamentos de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia.
Na União Europeia, no entanto, o cenário é mais complicado. O pacto deve ser aprovado por duas instâncias: o Conselho de Ministros e o Parlamento Europeu.
Posteriormente, pode ser necessário o aval de todos os 27 parlamentos nacionais, o que representa um desafio significativo.
“Sem aprovação unânime, é improvável que o acordo seja implementado integralmente,” avalia Carolina Pavese, especialista em Relações Internacionais.
Conclusão: o que está em jogo?
Se aprovado, o acordo Mercosul-União Europeia não apenas fortalecerá as economias de ambos os blocos, mas também poderá reposicionar o Brasil como uma potência econômica global.
Contudo, a resistência interna na Europa, os desafios ambientais e as incertezas políticas tornam o futuro do pacto incerto.
A grande questão que fica é: será que o Brasil está preparado para aproveitar ao máximo essa oportunidade histórica, ou os obstáculos serão insuperáveis? Deixe sua opinião nos comentários!