Com um contrato de concessão que vai até 2079, a Ferrovia Norte-Brasil, operada pela Rumo, se consolidou como a principal via de escoamento do agronegócio, impulsionada por investimentos bilionários em malhas conectadas.
A Ferrovia Norte-Brasil (Ferronorte) é um dos ativos de infraestrutura mais estratégicos do país. Concebida para ser a “espinha dorsal” da logística nacional, ela é a principal artéria que conecta o coração do agronegócio, em Mato Grosso, ao maior porto da América Latina, em Santos.
Hoje operada pela gigante Rumo Logística, a história da ferrovia é a de um projeto visionário de longo prazo que, após décadas, finalmente teve seu potencial destravado. Impulsionada por investimentos bilionários em suas conexões, a Ferrovia Norte-Brasil se prepara agora para uma nova e ambiciosa fase de expansão para o interior do país.
A visão de 1989 e a concessão de longo prazo
A história da Ferrovia Norte-Brasil começou em 1989, bem antes do grande ciclo de privatizações. A concessão para construir e operar a malha foi outorgada pelo governo federal ao empresário Olacyr de Moraes, um dos maiores produtores de soja do mundo na época.
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O contrato já nasceu com uma visão de longo prazo. Foi estabelecida uma concessão de 90 anos, com vencimento apenas em 2079. O objetivo era criar um corredor logístico para escoar a produção do Centro-Oeste, que começava a se expandir.
A consolidação da gigante: a chegada da Rumo e o novo modelo de gestão
Apesar da visão, o projeto enfrentou dificuldades de financiamento por anos. A consolidação veio com uma série de mudanças de controle, que culminaram na fusão da Rumo Logística com a América Latina Logística (ALL) em 2015.
Essa fusão criou a maior operadora ferroviária do Brasil e colocou a Ferrovia Norte-Brasil sob o controle de um operador com forte capacidade de investimento e uma estratégia focada no agronegócio, alinhando os interesses da ferrovia com os de seu principal cliente.
A chave que destravou o potencial: a renovação da Malha Paulista
O grande ponto de virada para a Ferrovia Norte-Brasil não aconteceu nela mesma, mas em sua vizinha. Para que a carga da Ferronorte chegue ao Porto de Santos, ela precisa passar pela Malha Paulista. Essa malha era um gargalo que limitava o crescimento.
Em maio de 2020, a Rumo conseguiu fechar um acordo com o governo para a renovação antecipada da concessão da Malha Paulista. Em troca da renovação, a empresa se comprometeu a investir mais de R$ 6 bilhões para mais do que dobrar a capacidade da via. Foi essa expansão que abriu as portas para o crescimento da Ferronorte.
A expansão para o coração do agro: o projeto de R$ 15 bilhões em Mato Grosso
Com a garantia de que sua carga teria por onde passar, a Rumo deu início ao seu projeto mais ambicioso: a construção da Ferrovia Estadual de Mato Grosso (FATO). Trata-se de uma extensão de mais de 730 km da Ferronorte, que levará os trilhos de Rondonópolis até Lucas do Rio Verde, um dos maiores polos de grãos do país.
O projeto, que representa um investimento de R$ 14 a R$ 15 bilhões, já está em obras. Ele é o primeiro de grande porte a ser feito sob o novo Marco Legal das Ferrovias e tem previsão de ser totalmente concluído até 2030, com trechos entrando em operação já a partir de 2026.
Uma aposta de longo prazo: por que a Ferrovia Norte-Brasil atrai investidores?
A combinação de um contrato de concessão de longuíssimo prazo, uma demanda crescente do agronegócio e a gestão de um operador capitalizado torna a Ferrovia Norte-Brasil um ativo extremamente atraente para investidores, inclusive estrangeiros.
Não por acaso, a Rumo Logística tem entre seus principais acionistas gigantes globais, como o fundo de infraestrutura canadense Brookfield e a trading japonesa Mitsui. Eles enxergam na ferrovia uma aposta segura e de longo prazo no sucesso de um dos setores mais competitivos da economia mundial: o agronegócio brasileiro.