Desenvolvido na Dinamarca, novo material de construção com bactérias vivas funciona como um supercapacitor que pode ser “alimentado” para recuperar sua capacidade de energia.
Pesquisadores da Universidade de Aarhus criaram uma inovação sem precedentes. Eles desenvolveram o primeiro cimento vivo do mundo. Este material vai além de apenas sustentar paredes. Ao incorporar bactérias vivas, o cimento se transforma em um supercapacitor capaz de armazenar eletricidade. Diferente das baterias de lítio que se desgastam, este cimento pode viver, morrer e ser reanimado.
O que é o cimento vivo e como ele funciona?
O concreto foi considerado inanimado por muito tempo. A equipe dinamarquesa desafiou essa ideia ao adicionar Shewanella oneidensis, uma bactéria conhecida por sua capacidade de mover elétrons para fora de sua célula. Uma vez dentro do cimento, esses micróbios criam uma rede de portadores de carga. Essa rede armazena e libera energia de forma eficaz.
Testes iniciais sugerem que a abordagem já supera os dispositivos de armazenamento tradicionais à base de cimento. Ainda mais impressionante é a resiliência do material. O cimento continua funcionando mesmo após a morte dos micróbios, e os pesquisadores conseguem trazê-lo de volta à vida com nutrientes.
-
Maior condomínio residencial do mundo abriga 30 mil pessoas em 67 andares e 1,6 milhão de m², funcionando como uma verdadeira cidade vertical
-
Minas Gerais autoriza construção de duas pontes de concreto de 96 metros no Alto Paranaíba e 80 metros na Zona da Mata
-
O primeiro arranha-céu do Brasil nasceu com 12 andares, terminou com 30 e foi chamado de ‘loucura’: para provar a segurança, o dono Giuseppe Martinelli se mudou com a família para a cobertura e transformou o prédio em símbolo de São Paulo
-
Com R$ 4,04 bilhões, Linha 4-Amarela ganhará 3,3 km, duas estações e seis trens, mas obra pode levar até 64 meses para ser entregue
Um sistema de energia recuperável dentro das paredes
Naturalmente, a atividade microbiana tende a diminuir quando os nutrientes se esgotam. Para resolver esse problema, os cientistas integraram um sistema microfluídico ao cimento. Esse sistema fornece proteínas, vitaminas, sais e outros fatores de crescimento. O objetivo é manter as bactérias vivas ou, se necessário, reanimá-las.
Essa abordagem inovadora recupera até 80% da capacidade original do material. Em termos práticos, a equipe afirma que os edifícios podem se tornar materiais energéticos recuperáveis. Isso reduz a necessidade de substituição de baterias ou de reparos dispendiosos no futuro.
Do laboratório à construção: aplicações e potencial real
A pesquisa mostrou resultados promissores em condições extremas. O cimento armazenou e descarregou energia tanto em ambientes congelantes quanto quentes. Em um teste prático, seis blocos do material conectados produziram eletricidade suficiente para acender uma lâmpada de LED.
“Este não é apenas um experimento de laboratório”, disse o pesquisador principal Qi Luo. Ele imagina a tecnologia integrada a edifícios reais, como em paredes, fundações ou pontes. Nesses locais, o cimento poderia suportar fontes de energia renováveis, como painéis solares. O impacto pode ser significativo, pois uma sala feita com o material poderia armazenar cerca de 10 kWh, o suficiente para alimentar um servidor corporativo padrão por um dia.
Rumo a uma infraestrutura que se autoalimenta
Com a expansão das energias renováveis, cresce a demanda por armazenamento acessível e sustentável. As baterias atuais dependem de recursos escassos como lítio e cobalto, além de se degradarem com o tempo. O sistema à base de cimento evita esses problemas, pois utiliza materiais abundantes, de baixo custo e bactérias naturais.
Embora ainda em estágio inicial, a pesquisa aponta para um futuro onde edifícios funcionam como suas próprias baterias. Isso pode significar pontes alimentando seus próprios sensores ou casas armazenando a energia solar do dia em suas paredes. As descobertas sugerem que a próxima geração de infraestrutura poderá ser, ao mesmo tempo, estrutural e elétrica.