No auge do domínio, a Ambev viu o cenário mudar rapidamente e agora enfrenta concorrência forte, exigência por inovação e a necessidade de se reinventar para manter a liderança no mercado de bebidas no Brasil e América Latina.
A Ambev, Companhia de Bebidas das Américas, já foi sinônimo de domínio quase absoluto no mercado de cervejas do Brasil.
Fruto da fusão entre as então rivais Brahma e Antarctica em 1999, a companhia consolidou sua posição no setor, expandiu operações para toda a América Latina e tornou-se peça-chave na formação da AB InBev, o maior grupo cervejeiro do planeta.
No entanto, após anos de crescimento acelerado, o cenário mudou: a Ambev se vê pressionada por uma concorrência mais forte, alterações no perfil do consumidor e a necessidade de inovar além do tradicional corte de custos.
-
Nova categoria vai ter direito a adicional de periculosidade de 30%, resultado de mobilização sindical e pressão da categoria
-
Governo confirma que devedor pode perder a CNH: medida extrema vira polêmica e levanta debate sobre justiça e direitos individuais
-
Renovação da CNH para idosos deve ser feita a cada três anos com exames médicos obrigatórios previstos no Código de Trânsito
-
PIX do Nubank proibido em ambientes públicos gera revolta: milhões de clientes reclamam de bloqueios e restrições inesperadas nas transferências
Como a gigante tenta se manter relevante em meio à transformação do mercado?
A análise é baseada em reportagem do canal no YouTube AUVP Capital, que detalhou a trajetória da empresa e os desafios atuais.
Disputa histórica entre Brahma e Antarctica
No início, a trajetória da Ambev foi marcada por disputas intensas.
A Brahma, fundada no Rio de Janeiro em 1888, e a Antarctica, surgida três anos antes em São Paulo, competiam ferozmente pelo gosto do público, espaço em prateleiras e presença em bares pelo país.
Ambas investiam pesado em infraestrutura, desde fábricas de vidro a caminhões de distribuição, e expandiam suas marcas para além da cerveja, atuando também em refrigerantes e outros setores.
Enquanto a Brahma apostava em marketing e escala, a Antarctica diferenciava-se pela logística eficiente e por transformar o Guaraná Antarctica em referência nacional.
Fusão estratégica e nascimento da Ambev
A década de 1990 trouxe novos desafios: multinacionais passaram a mirar o Brasil, elevando o risco de um player estrangeiro abocanhar parte significativa do mercado local.
Para se proteger, as antigas rivais selaram um acordo inédito.
Surgia assim, em 1999, a Ambev, empresa que rapidamente passou a responder por mais de 60% do consumo de cervejas no Brasil.
De acordo com o AUVP Capital, a operação foi analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que aprovou a fusão com algumas restrições para evitar práticas monopolistas.
Na época, especialistas destacaram a força do trio de gestores por trás da fusão: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Reconhecidos pelo modelo de administração voltado para resultados e meritocracia, eles implementaram uma cultura organizacional focada em eficiência, corte de desperdícios e metas agressivas.
Expansão internacional e influência global
Logo após a criação da Ambev, a companhia deu início a um processo de expansão internacional.
Em 2000, abriu capital na bolsa brasileira (B3) e também nos Estados Unidos, atraindo investimentos globais e fortalecendo seu caixa para aquisições e crescimento.
Em 2004, a empresa deu novo salto ao unir-se à Interbrew, gigante belga proprietária de marcas como Stella Artois e Beck’s.
Conforme detalhado pelo canal, a fusão formou a InBev, consolidando o Brasil como centro estratégico do setor mundial de bebidas.
Criação da AB InBev e consolidação do império cervejeiro
O maior movimento veio quatro anos depois, em 2008.
Com aporte financeiro robusto e influência crescente, a InBev adquiriu a americana Anheuser-Busch, criadora da Budweiser, em um negócio avaliado em US$ 52 bilhões.
A operação resultou no nascimento da AB InBev, conglomerado que domina mais de 25% do mercado global de cervejas e reúne nomes como Budweiser, Corona, Stella Artois, Brahma, Skol, Antarctica, Bohemia, entre outros.
No Brasil, a Ambev manteve atuação independente, liderando a produção e distribuição de cervejas, refrigerantes e outras bebidas em toda a América Latina.
Desafios internos, críticas e mudança de perfil do consumidor
Apesar do crescimento vertiginoso, a Ambev passou a enfrentar uma série de desafios internos e externos.
O modelo de gestão baseado em eficiência extrema, redução de custos e pressão por resultados sofreu críticas vindas de funcionários e fornecedores, que relataram ambiente de trabalho tenso e pouco espaço para criatividade.
Segundo o AUVP Capital, a busca incessante por ganhos de escala também levou à necessidade de reinventar processos diante de um consumidor mais exigente.
Concorrência crescente e o impacto das cervejarias artesanais
A partir da segunda metade da década de 2010, novas tendências começaram a influenciar o setor de bebidas no Brasil.
A chegada da Heineken, que ampliou sua participação ao adquirir a Brasil Kirin em 2017, mudou o equilíbrio do mercado.
Dados recentes apontam que, em 2024, a Ambev mantém liderança, mas com cerca de 60% de market share, enquanto a Heineken já supera 20% no país.
Além disso, o surgimento de centenas de microcervejarias e a consolidação do mercado artesanal transformaram o perfil do público, ampliando a procura por sabores autênticos, marcas locais e produtos com propósito.
Inovação e adaptação frente ao novo consumidor
Para se adaptar, a Ambev precisou investir em inovação.
A empresa ampliou o portfólio, apostando em cervejas artesanais, bebidas prontas para consumo, kombuchas, drinks e refrigerantes naturais.
Também passou a priorizar iniciativas ligadas à sustentabilidade, inclusão e diversidade, além de investir fortemente em tecnologia.
Um dos exemplos mais visíveis dessa transformação foi o lançamento do aplicativo Zé Delivery, que se popularizou durante a pandemia de Covid-19 ao facilitar a entrega direta de bebidas aos consumidores.
O uso da plataforma B2B BEES, focada no relacionamento com pontos de venda, também reforçou o posicionamento digital da companhia, como ressaltado na reportagem original.
O papel da geração Z e o reposicionamento da marca
Mesmo com a força do portfólio e a infraestrutura robusta, a Ambev não está imune às mudanças no comportamento do consumidor.
Pesquisas recentes apontam que o público jovem da chamada geração Z valoriza marcas engajadas em causas sociais, busca opções de consumo mais saudáveis e tende a diversificar escolhas, reduzindo a fidelidade a marcas tradicionais.
O AUVP Capital destacou que esse fenômeno desafia a Ambev a repensar estratégias, campanhas publicitárias e até o desenvolvimento de novos produtos.
O modelo 3G sob revisão e os desafios do futuro
A reputação do chamado “modelo 3G” de gestão, difundido por Lemann, Telles e Sicupira, passa por reavaliação.
O corte de custos, que já foi diferencial competitivo, agora é alvo de questionamentos diante da necessidade de inovação, experiência do cliente e construção de marca.
Especialistas do setor destacam que, para manter a liderança, a Ambev terá de equilibrar eficiência operacional com criatividade, agilidade e conexão genuína com os novos perfis de consumidores.
Pressão internacional e incertezas no mercado
No contexto internacional, a pressão por resultados segue forte.
Em 2024, a AB InBev, controladora da Ambev, registrou crescimento tímido em volume de vendas, impactada pelo avanço da concorrência em mercados-chave como Brasil, México e Estados Unidos.
O desempenho reforça o alerta para os executivos brasileiros: tamanho já não é garantia de futuro em um mercado cada vez mais fragmentado e sujeito a transformações rápidas.