Análise do Itaú BBA aponta que avanço do gigante do e-commerce no setor farmacêutico pode pressionar margens da líder do varejo, mas também abrir espaço com a saída de concorrentes menores.
A entrada do Mercado Livre no setor de farmácias brasileiro representa uma nova e poderosa dinâmica competitiva. Segundo uma análise do Itaú BBA, a gigante do e-commerce tem potencial para redefinir o varejo de medicamentos. A projeção é alarmante para os players tradicionais: até 2030, a categoria farmacêutica pode responder por 6,5% do volume bruto de mercadorias (GMV) da companhia, um movimento que acende um alerta para as grandes redes estabelecidas.
A ameaça do e-commerce às margens da gigante farmacêutica
O avanço do Mercado Livre ameaça diretamente a RD Saúde (RADL3), dona da Droga Raia e Drogasil. Analistas do Itaú BBA preveem que a rede pode sofrer uma pressão em suas margens de até 200 pontos-base nos próximos três a cinco anos. A causa principal não seria a perda direta de clientes, mas sim a inevitável necessidade de reduzir preços para se manter competitiva. Este cenário é semelhante ao que já ocorreu no segmento de higiene pessoal e beleza (HPC) com o aumento da concorrência online.
OTC: a porta de entrada estratégica para o Mercado Livre
O caminho mais lógico para o Mercado Livre é começar pelos medicamentos isentos de prescrição (OTC). Este mercado, que movimentou US$ 8,5 bilhões em 2024, já possui uma penetração online de 26% no Brasil. As margens atrativas, próximas a 35%, fazem desta categoria um alvo perfeito. Se o canal online atingir 35% de participação até 2030 e o Mercado Livre mantiver seu market share de 42%, seu GMV em OTC pode chegar a US$ 2 bilhões.
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O desafio dos medicamentos de prescrição e o foco no uso crônico
O mercado de medicamentos sob prescrição (Rx) é maior, movimentando US$ 18,5 bilhões em 2024, mas é também muito mais complexo. A venda exige receita, retenção de documentos e uma logística sofisticada. A expectativa é que o Mercado Livre foque em medicamentos de uso crônico, que representam de 55% a 60% do mercado de Rx, pois seus clientes são mais sensíveis a preço. Em contrapartida, a conveniência das farmácias físicas ainda deve prevalecer para medicamentos de uso agudo.
O impacto direto nas contas da RD e a pressão competitiva
Para a Raia Drogasil, a pressão nos preços de OTC e Rx pode significar uma redução de até 2 pontos percentuais na margem bruta. Atualmente, os OTC respondem por 11% da receita da rede e os Rx, por 54%. Se considerado também o impacto no setor de higiene e beleza, o efeito total sobre a margem bruta de 27,3% poderia atingir 3,3 pontos percentuais.
A oportunidade oculta: farmácias independentes na mira
Apesar da pressão, a RD Saúde pode encontrar uma forma de compensar as perdas. O Itaú BBA projeta que as farmácias independentes serão as mais afetadas pelo avanço do Mercado Livre em farmácias. Este grupo, que faturou R$ 35 bilhões em 2024 (17% do setor), opera com margens baixas e produtividade muito menor. A previsão é que entre 25% e 45% dessas farmácias saiam do mercado, abrindo espaço para que a RD capture parte dessa receita, assim como fez no passado, quando absorveu mais da metade da participação perdida pelos independentes desde 2014.