A plataforma Perdido opera a 2.450 m no Golfo do México e é uma das estruturas mais profundas do mundo — um marco da engenharia offshore global.
No coração do Golfo do México, escondida sob águas profundas e condições extremas, uma gigante metálica desafia os limites da engenharia offshore. Seu nome é Perdido, e ela é considerada uma das plataformas de petróleo mais profundas do mundo — instalada a impressionantes 2.450 metros abaixo da superfície. Operada pela Shell, com participação da Chevron e BP, Perdido não é apenas uma estrutura de produção: é um marco da indústria de óleo e gás. Enfrentando pressões abissais, correntes marítimas violentas e desafios logísticos quase surreais, essa plataforma flutuante se tornou um símbolo da capacidade humana de extrair recursos em locais cada vez mais extremos.
A base de produção em águas ultraprofundas
Perdido está localizada na região do Cinturão de Orvalho (Perdido Fold Belt), a cerca de 320 km da costa do Texas, em uma das áreas mais promissoras do Golfo do México. A estrutura atua como plataforma de produção central para três campos submarinos: Great White, Silvertip e Tobago.
Instalada em 2010, ela opera a uma profundidade de 2.450 metros (8.000 pés) de lâmina d’água — o equivalente a empilhar quase oito Torres Eiffel entre a superfície e o solo oceânico.
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Não por acaso, ela detém o recorde de plataforma de produção com tubulação mais profunda do mundo, superando antigas marcas estabelecidas na costa do Brasil e da África Ocidental.
Engenharia de uma gigante: o que é um spar?
Diferente das tradicionais plataformas fixas, a Perdido é classificada como um spar, um tipo de estrutura flutuante ancorada verticalmente ao leito marinho. Ela possui um casco cilíndrico de 170 metros de altura (dos quais cerca de 40 metros ficam acima da superfície), preenchido com lastro para estabilidade.
O spar é ideal para águas ultraprofundas, pois permite movimentação vertical e horizontal sem comprometer a integridade da estrutura, mesmo sob correntes marítimas agressivas.
Seu casco foi construído em Pascagoula, Mississippi, e depois rebocado em posição com ajuda de reboques oceânicos especializados. A operação de instalação exigiu anos de planejamento, 22 ancoragens de alta precisão e uma série de testes dinâmicos — uma obra de engenharia comparável à montagem de um prédio de 40 andares em alto-mar.
Capacidade e operação
A plataforma Perdido tem capacidade de produção de aproximadamente 100 mil barris de petróleo por dia e 6 milhões de metros cúbicos de gás natural. Para escoar essa produção, ela é interligada a uma rede de dutos submarinos que conectam os poços aos sistemas de processamento e exportação.
Os poços localizados nas redondezas estão entre os mais profundos já perfurados no hemisfério ocidental, com trechos que ultrapassam 9.000 metros de profundidade total, somando lâmina d’água e reservatório.
Além disso, a Perdido conta com módulos de separação e compressão submersos, que ajudam a bombear os hidrocarbonetos até a plataforma, vencendo a pressão brutal do fundo do mar — superior a 250 atmosferas, ou o equivalente a 2.500 toneladas por metro quadrado.
Vida a bordo: 24h por dia em um dos ambientes mais isolados do planeta
Cerca de 150 a 200 trabalhadores vivem na plataforma em turnos de 14 dias. A bordo, há dormitórios, refeitórios, ginásios e áreas de lazer — tudo para garantir o mínimo de conforto em um local isolado, sujeito a mudanças climáticas intensas e com helicópteros como único meio de acesso rápido.
O monitoramento das operações é feito por sensores inteligentes que detectam vibrações, vazamentos, corrosão e deslocamentos estruturais, tudo em tempo real. A Shell também implementou tecnologia de gêmeo digital (digital twin) para simular cenários de falhas e antecipar manutenções.
Desafios ambientais e operacionais
Uma plataforma instalada em águas tão profundas enfrenta desafios constantes:
- Furacões e tempestades tropicais, frequentes na região do Golfo do México. A estrutura é projetada para resistir a ondas de até 15 metros e ventos superiores a 200 km/h.
- Manutenção complexa, já que qualquer intervenção submarina depende de ROVs (veículos operados remotamente) ou mergulhadores especializados.
- Gestão de risco ambiental, com protocolos rigorosos para evitar vazamentos ou acidentes — especialmente após o desastre da Deepwater Horizon, em 2010.
Um laboratório vivo para a indústria offshore
A Perdido é, hoje, referência para novas plataformas em águas ultraprofundas no Brasil (pré-sal), África, Golfo da Guiné e Sudeste Asiático. Muitas das tecnologias testadas nela — como linhas aquecidas, bombas submersas e estruturas híbridas — foram adaptadas para campos do pré-sal brasileiro, por exemplo.
Com mais de uma década em operação, ela ainda é considerada um benchmark de engenharia offshore, sendo estudada por universidades, centros de pesquisa e empresas de energia no mundo todo.
A busca por petróleo em locais extremos não acabou
Mesmo com o avanço das fontes renováveis, a exploração offshore em águas profundas segue como pilar importante da matriz energética global. O petróleo extraído de campos como Great White e Silvertip tem baixo teor de enxofre (sweet crude), o que facilita o refino e melhora a margem de lucro.
Com a demanda energética global ainda em ascensão e o declínio natural de campos maduros em terra firme, estruturas como a Perdido continuarão sendo fundamentais para suprir a lacuna energética dos próximos 30 anos — especialmente enquanto a transição energética avança em ritmo desigual pelo planeta.