Funcionários públicos, aposentados e donas de casa se alistam na Milícia Bolivariana em meio a tensões com os Estados Unidos
Funcionários públicos, donas de casa e aposentados se reuniram neste sábado em diferentes pontos da Venezuela para se alistar na Milícia Bolivariana. O movimento atendeu ao pedido do presidente Nicolás Maduro, que anunciou a abertura de novos registros diante da possibilidade de uma invasão dos Estados Unidos.
A Milícia, formada por civis e integrada às Forças Armadas, é considerada por críticos como um braço ideológico do governo.
Além disso, a mobilização também busca mostrar força em um momento em que Maduro insiste que o país está sob ameaça.
-
Entre EUA e Venezuela, o Brasil adota postura cautelosa e avalia impactos da pressão americana
-
Mísseis na costa da Venezuela não são para combater cartéis, diz especialista: “Não faz sentido lançar um Tomahawk contra um cartel”
-
Enquanto o mundo fala em tarifas, guerras e BRICS, outra corrida mobiliza potências: armas capazes de ‘reduzir alvos a pó’
-
Por que a China copiou um helicóptero militar que os EUA abandonaram?
Presença militar estrangeira
Enquanto isso, três navios militares americanos devem se posicionar em águas internacionais diante da costa da Venezuela.
Washington afirma que a operação tem como objetivo combater o narcotráfico, mas o governo venezuelano considera uma ameaça direta.
Segundo informou o portal O Globo, centros de registro da Milícia foram montados em praças, prédios públicos e até no Palácio Presidencial, em Caracas. “Você já serviu antes?”, perguntou uma miliciana a Óscar Matheus, auditor de 66 anos que aguardava na fila. “Estou aqui para servir ao nosso país”, respondeu.
Rosy Paravabith, de 51 anos, compartilhou a mesma disposição. “Não sabemos o que pode acontecer, mas temos que resistir. A pátria nos chama, o país precisa de nós”, afirmou.
Tradição e ideologia
As Forças Armadas da Venezuela carregam a marca da politização desde Hugo Chávez. A saudação oficial atual é “Chávez vive!”. Em 2020, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) estimou 343 mil integrantes, número próximo ao do México e superado apenas por Brasil e Colômbia na região.
O mais importante, porém, foi a declaração de Maduro na última semana: segundo ele, apenas a Milícia já contaria com mais de 4,5 milhões de soldados.
Após o registro, os voluntários gritavam “Estou me alistando pela Venezuela, viva a pátria!”. Policiais e milicianos da reserva também participaram do ato.
Simbolismo histórico
O processo de alistamento inclui uma passagem pelo Quartel da Montanha, em Caracas. O local, que oferece vista panorâmica da capital, foi o centro de operações de Chávez durante sua tentativa de golpe em 1992.
Na primeira sala, os voluntários assistem a um documentário sobre o bloqueio europeu de 1902 a 1903, quando potências cercaram a costa venezuelana após o país se recusar a pagar dívidas.
Em seguida, encontram uma exposição de armamentos. Um tenente do Exército explica, em linguagem técnica, o alcance e o uso de cada equipamento.
Acusações dos EUA e respostas da Venezuela
A tensão aumentou após os Estados Unidos elevarem a recompensa pela captura de Maduro. Washington acusa o presidente de liderar o chamado Cartel dos Sóis, apontado como organização de narcotráfico e até classificado como grupo terrorista.
Maduro rebateu de forma dura. Segundo ele, a mobilização militar americana é “imoral, criminosa e ilegal” e tem como objetivo provocar uma mudança de regime. O presidente afirma que o país resistirá a qualquer tentativa de intervenção.
Divergência interna
Nas ruas, o tema mistura piadas e preocupações. Embora especialistas apontem que uma ação militar direta dos Estados Unidos seja pouco provável, a retórica mobiliza a população.
“Vamos defender esta pátria até o nosso último suspiro”, declarou o ministro da Defesa, Vladimir López, ao canal estatal VTV.
A oposição, por outro lado, pede que os cidadãos não se alistem. Mesmo assim, filas de voluntários se formaram em várias cidades. Entre eles, estavam jovens e idosos.
“Quero treinar para defender a pátria”, disse Jesús Bórquez, de 19 anos. Já Omaira Hernández, de 78 anos, destacou sua disposição: “Sei que, por causa da minha idade, não vou pegar em um fuzil, mas estou disposta a ajudar”.
Com informações de O Globo.