Funcionários públicos, aposentados e donas de casa se alistam na Milícia Bolivariana em meio a tensões com os Estados Unidos
Funcionários públicos, donas de casa e aposentados se reuniram neste sábado em diferentes pontos da Venezuela para se alistar na Milícia Bolivariana. O movimento atendeu ao pedido do presidente Nicolás Maduro, que anunciou a abertura de novos registros diante da possibilidade de uma invasão dos Estados Unidos.
A Milícia, formada por civis e integrada às Forças Armadas, é considerada por críticos como um braço ideológico do governo.
Além disso, a mobilização também busca mostrar força em um momento em que Maduro insiste que o país está sob ameaça.
-
Tridente: militares da Argentina e dos EUA planejam exercícios militares em Mar del Plata, Ushuaia e Puerto Belgrano em meio a acordos políticos
-
Donald Trump alertou que “provavelmente haverá um fechamento” do governo dos EUA à meia-noite, o que pode deixar 800 mil servidores sem salário
-
Secretário dos EUA causa polêmica ao citar Brasil como país que precisa de “conserto” no comércio e lista Suíça, Índia e Taiwan entre alvos de Washington
-
EUA ordena quadruplicar produção de armas e mísseis para repor estoques esvaziados e enfrentar crescente ameaça da China no Pacífico
Presença militar estrangeira
Enquanto isso, três navios militares americanos devem se posicionar em águas internacionais diante da costa da Venezuela.
Washington afirma que a operação tem como objetivo combater o narcotráfico, mas o governo venezuelano considera uma ameaça direta.
Segundo informou o portal O Globo, centros de registro da Milícia foram montados em praças, prédios públicos e até no Palácio Presidencial, em Caracas. “Você já serviu antes?”, perguntou uma miliciana a Óscar Matheus, auditor de 66 anos que aguardava na fila. “Estou aqui para servir ao nosso país”, respondeu.
Rosy Paravabith, de 51 anos, compartilhou a mesma disposição. “Não sabemos o que pode acontecer, mas temos que resistir. A pátria nos chama, o país precisa de nós”, afirmou.
Tradição e ideologia
As Forças Armadas da Venezuela carregam a marca da politização desde Hugo Chávez. A saudação oficial atual é “Chávez vive!”. Em 2020, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) estimou 343 mil integrantes, número próximo ao do México e superado apenas por Brasil e Colômbia na região.
O mais importante, porém, foi a declaração de Maduro na última semana: segundo ele, apenas a Milícia já contaria com mais de 4,5 milhões de soldados.
Após o registro, os voluntários gritavam “Estou me alistando pela Venezuela, viva a pátria!”. Policiais e milicianos da reserva também participaram do ato.
Simbolismo histórico
O processo de alistamento inclui uma passagem pelo Quartel da Montanha, em Caracas. O local, que oferece vista panorâmica da capital, foi o centro de operações de Chávez durante sua tentativa de golpe em 1992.
Na primeira sala, os voluntários assistem a um documentário sobre o bloqueio europeu de 1902 a 1903, quando potências cercaram a costa venezuelana após o país se recusar a pagar dívidas.
Em seguida, encontram uma exposição de armamentos. Um tenente do Exército explica, em linguagem técnica, o alcance e o uso de cada equipamento.
Acusações dos EUA e respostas da Venezuela
A tensão aumentou após os Estados Unidos elevarem a recompensa pela captura de Maduro. Washington acusa o presidente de liderar o chamado Cartel dos Sóis, apontado como organização de narcotráfico e até classificado como grupo terrorista.
Maduro rebateu de forma dura. Segundo ele, a mobilização militar americana é “imoral, criminosa e ilegal” e tem como objetivo provocar uma mudança de regime. O presidente afirma que o país resistirá a qualquer tentativa de intervenção.
Divergência interna
Nas ruas, o tema mistura piadas e preocupações. Embora especialistas apontem que uma ação militar direta dos Estados Unidos seja pouco provável, a retórica mobiliza a população.
“Vamos defender esta pátria até o nosso último suspiro”, declarou o ministro da Defesa, Vladimir López, ao canal estatal VTV.
A oposição, por outro lado, pede que os cidadãos não se alistem. Mesmo assim, filas de voluntários se formaram em várias cidades. Entre eles, estavam jovens e idosos.
“Quero treinar para defender a pátria”, disse Jesús Bórquez, de 19 anos. Já Omaira Hernández, de 78 anos, destacou sua disposição: “Sei que, por causa da minha idade, não vou pegar em um fuzil, mas estou disposta a ajudar”.
Com informações de O Globo.