Financiada pela Vale como parte da renovação de sua concessão, a nova ferrovia brasileira no Espírito Santo, conhecida como Ramal Anchieta, avança com um modelo de negócio inovador e a promessa de transformar a logística do Sudeste.
Uma nova ferrovia brasileira está saindo do papel no Espírito Santo. O Ramal Anchieta, uma extensão da histórica Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), promete criar um novo e vital corredor logístico, ligando a região serrana do estado ao complexo portuário de Ubu, em Anchieta.
O projeto, que é uma contrapartida da gigante da mineração Vale pela renovação de sua concessão, é também o primeiro trecho da futura Ferrovia EF-118, que ligará o Espírito Santo ao Rio de Janeiro. A iniciativa é um exemplo da nova estratégia do governo para destravar investimentos em infraestrutura, mas ainda enfrenta desafios complexos para ser concluída.
O que é o Ramal Anchieta? A nova aposta da Vale e do Governo
O Ramal Anchieta é um projeto para a construção de uma linha férrea de aproximadamente 80 km. Ele partirá de Santa Leopoldina, se conectando à malha já existente da EFVM, e seguirá até o município de Anchieta, no litoral sul do estado.
-
Região brasileira vai ganhar trem regional com 223 km de extensão terá 13 estações, três tipos de serviço e trajeto em tempo recorde; veja os planos revelados
-
Union Pacific Big Boy — maior trem a vapor do mundo criada em 1941, com 40,5 metros de comprimento, 548 toneladas, 25 toneladas de carvão por viagem, capacidade para 95 mil litros de água, potência estimada em 7.000 HP e velocidade máxima de 130 km/h
-
ANTT lança frota de 15 drones profissionais para modernizar fiscalização ferroviária e ampliar segurança nos trilhos
-
TCU analisa nove processos no contrato da Ferroviária da Malha Sudeste, incluindo denúncia na Petrobras e contrato ferroviário prorrogado até 2056
O principal objetivo é criar um canal de escoamento de alta capacidade para o Porto de Ubu, operado pela Samarco (uma parceria entre a Vale e a BHP). A ferrovia foi projetada para transportar não apenas minério de ferro, mas também cargas do agronegócio, rochas ornamentais e outros produtos, aumentando a competitividade dos portos da região.
A engenharia do negócio: a renovação do contrato da Vale e o investimento bilionário
A construção do Ramal Anchieta é um dos resultados diretos da renovação antecipada do contrato de concessão da EFVM, operada pela Vale. Para estender sua concessão, a empresa assumiu uma série de obrigações de investimento, incluindo o financiamento da nova ferrovia.
Existe uma diferença nos valores divulgados que precisa ser esclarecida. O custo direto da construção da obra está estimado em R$ 2,5 bilhões. No entanto, a obrigação de investimento total da Vale no projeto, que inclui desapropriações, compensações e outros custos, chega a R$ 6 bilhões.
A mudança de planos: a proposta de uma nova concessão em 2025
Inicialmente, esperava-se que a própria Vale construísse e operasse o ramal. No entanto, o Governo Federal, através do Ministério dos Transportes, liderado pelo ministro Renan Filho, propôs um modelo de negócio inovador.
A nova estratégia é que a Vale financie a obra, mas que a construção e a operação sejam feitas por uma outra empresa, que vencerá um novo leilão de concessão. Para debater esse novo modelo, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) realizou audiências públicas em janeiro de 2025.
Licenciamento ambiental e mais de 700 desapropriações
Apesar do forte apoio político do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e de entidades como a Federação das Indústrias (Findes), o projeto enfrenta dois grandes obstáculos.
O primeiro é o complexo processo de licenciamento ambiental, que está sendo conduzido pelo órgão estadual IEMA. O segundo, e talvez o maior desafio, é a necessidade de desapropriar mais de 700 propriedades ao longo do traçado da ferrovia, um processo demorado e de alta complexidade social e jurídica.
O cronograma realista: quando a nova ferrovia brasileira sairá do papel?
A fase de construção da nova ferrovia brasileira está estimada em 60 meses, ou seja, cinco anos. No entanto, esse prazo só começa a contar após a conclusão de todas as licenças e desapropriações.
Embora o governo e a empresa tenham apresentado cronogramas otimistas, a complexidade dessas etapas iniciais torna uma conclusão a curto prazo improvável. As projeções mais realistas de especialistas do setor apontam que a ferrovia deve entrar em operação por volta de 2032.